Sem sobressaltos, Kamala Harris confirmou vitória eleitoral de Donald Trump
Ainda que não se antecipassem perturbações à cerimónia desta segunda-feira, autoridades reforçaram medidas de segurança no Capitólio, quatro anos depois da invasão.
Foi esta segunda-feira, 6 de Janeiro, formalizada a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas, numa cerimónia de transição de poder presidida pela actual vice-presidente, Kamala Harris, que decorreu de forma pacífica, em contraste com o que aconteceu há exactamente quatro anos.
"O resultado da eleição para Presidente dos Estados Unidos, conforme entregue à presidente do Senado, é a seguinte: o número total de delegados a votar para a Presidência dos Estados Unidos é 538, sendo a maioria de 270", afirmou Kamala Harris, que, por ocupar o cargo de vice-presidente dos EUA, preside também ao Senado.
Ao seu lado na condução da cerimónia que durou 41 minutos esteve o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Mike Johnson, reeleito para o cargo na passada sexta-feira.
"Donald J. Trump, do estado da Florida, obteve 312 votos", declarou, enquanto se ouviam os aplausos dos congressistas republicanos. "Kamala D. Harris, do estado da Califórnia, obteve 226 votos", continuou, saudada pelos democratas.
Não é a primeira vez que um candidato derrotado é chamado a certificar o seu próprio fracasso eleitoral — o mesmo já tinha acontecido com Al Gore, que perdeu para George W. Bush, ou Richard Nixon, que confirmou a vitória de John F. Kennedy em 1960.
Em declarações à imprensa, ainda a partir do Capitólio, Kamala Harris considerou ter cumprido o seu dever constitucional ao presidir à sessão desta segunda-feira, tal como fez "ao longo de toda a carreira", e afirmou que a democracia do país "resiste".
"Acredito firmemente que a democracia norte-americana é apenas tão forte quanto a nossa vontade de lutar por cada pessoa e a vontade de cada um defender e respeitar a importância da nossa democracia. Caso contrário, ela é muito frágil e não será capaz de resistir a momentos de crise", vincou. "Hoje, a democracia americana resistiu."
Da parte do Presidente eleito, que tomará posse a 20 de Janeiro, ainda não é conhecida qualquer reacção à confirmação formal da própria vitória. Através da sua rede social, a Truth Social, optou antes por comentar a demissão anunciada do primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, defendendo que "muita gente no Canadá adora ser o 51.º estado" dos EUA e sugerindo a "fusão" das duas nações da América do Norte.
Ainda que não se antecipassem quaisquer perturbações à sessão desta segunda-feira, uma vez que os democratas não contestam os resultados eleitorais, o Departamento de Segurança Nacional dos EUA designou-a como "evento de segurança nacional especial".
"Não podemos ser apanhados de surpresa outra vez", disse na semana passada Tom Manger, comandante da polícia do Capitólio, garantindo que o edifício seria protegido "dia e noite" até à confirmação da vitória de Trump.
A cerimónia acabou por decorrer sem sobressaltos e sem que nenhum dos congressistas democratas contestasse os resultados eleitorais de qualquer estado, numa prova de unidade do partido, que procurava a transferência pacífica do poder, e respeito pelo sistema democrático.
Há quatro anos, a 6 de Janeiro de 2021, o que deveria ser mais uma cerimónia protocolar de transição de poder tornou-se um motim, quando milhares de apoiantes de Donald Trump derrubaram as barreiras de segurança do Capitólio e perto de 2000 invadiram o edifício, alegando "fraude" no processo eleitoral que deu a vitória a Joe Biden — acusações infundadas e recusadas por mais de 50 tribunais norte-americanos.
Desse dia resultaram cinco vítimas mortais e mais de 150 polícias feridos, além de perto de 1500 processos em tribunal contra os envolvidos na rebelião. Trump já assegurou que uma das suas prioridades assim que regressar à Casa Branca será amnistiar os acusados pela Justiça norte-americana.
Até hoje, o papel e responsabilidade de Trump no motim dividem opiniões nos Estados Unidos, ainda que o relatório final da comissão de inquérito sobre a invasão ao Capitólio identifique o sucessor de Joe Biden como o cabecilha de uma "conspiração" destinada a reverter os resultados das presidenciais de 2020.