Presidente da Áustria encarrega líder da direita radical de formar governo
“Não dei este passo de ânimo leve”, disse Alexander van der Bellen, depois de ter reunido com o líder do FPÖ, partido eurocéptico e pró-Rússia que venceu as últimas eleições legislativas.
O Presidente da Áustria, Alexander Van der Bellen, encarregou esta segunda-feira o líder do Partido da Liberdade (FPÖ), de direita radical, de formar um governo de coligação, depois de uma tentativa centrista de reunir um executivo sem o FPÖ, que venceu as últimas eleições legislativas, ter fracassado no fim-de-semana.
O anúncio marca uma reviravolta dramática para o Presidente austríaco, antigo líder dos Verdes e crítico de longa data do FPÖ que entrou em conflito com o seu líder, Herbert Kickl, mas poucas opções restaram a Van der Bellen após o fracasso dos centristas em formar uma coligação.
O FPÖ, partido nacionalista, eurocéptico, pró-Rússia, anti-imigração e islamofóbico, venceu as legislativas de Setembro passado com 29% dos votos. Vai agora entrar em conversações com o seu único potencial parceiro, o conservador Partido Popular (ÖVP), para poder liderar um governo pela primeira vez desde que foi fundado nos anos 1950 por um antigo oficial superior das SS nazis.
“Encarreguei Herbert Kickl de encetar conversações com o Partido Popular para formar um governo”, declarou Van der Bellen num discurso transmitido pela televisão após o encontro com o líder do FPÖ , acrescentando: “Não dei este passo de ânimo leve”.
Quando Kickl saiu do encontro com o Presidente, centenas de manifestantes, incluindo estudantes judeus e activistas de esquerda, vaiaram, assobiaram, gritaram “Fora nazis” e agitaram cartazes com slogans como “Não queremos uma Áustria de extrema-direita”.
Van der Bellen enfureceu o FPÖ ao não encarregar o partido de formar governo logo após as eleições, uma vez que não havia nenhum potencial parceiro de coligação imediatamente disponível. Essa tarefa coube ao Partido Popular (ÖVP), de tendência conservadora, e ao seu líder, o chanceler Karl Nehammer. O ÖVP ficou em segundo lugar nas eleições.
As tentativas de Nehammer para formar uma coligação, primeiro a três e depois com dois partidos centristas após a saída do liberal Neos fracassaram no fim-de-semana, levando-o a anunciar a sua demissão.
Nehammer há muito que insistia que o seu partido não governaria com Kickl, afirmando que o líder da FPÖ era um teórico da conspiração e uma ameaça à segurança da Áustria. Com a saída de Nehammer, essa linha vermelha também desapareceu. O seu sucessor interino como líder do ÖVP, Christian Stocker, disse no domingo que o seu partido iria juntar-se às conversações de coligação lideradas por Kickl.
“Estamos no início. Se formos convidados para essas conversações, o resultado das mesmas está em aberto”, disse à emissora ORF Wilfried Haslauer, governador do estado de Salzburgo, que esteve ao lado de Stocker na sua primeira declaração aos media como líder designado do partido.
No entanto, se as conversações falharem, é provável que se realizem eleições antecipadas e as sondagens mostram que o apoio do FPÖ tem aumentado desde Setembro.
O ÖVP e o FPÖ têm divergências em várias questões, nomeadamente no que se refere a uma posição dura em matéria de imigração.
A questão mais espinhosa nas conversações dos centristas, no entanto, foi a forma de reduzir o défice orçamental, que se prevê que ultrapasse o limite da UE de 3% da produção económica em 2024 e 2025.
Enquanto ambos os partidos defendem a redução dos impostos, o FPÖ promete atacar alguns dos interesses do ÖVP, como a poderosa Câmara de Comércio. Também entraram em conflito por causa da oposição do FPÖ à ajuda à Ucrânia na sua guerra contra a Rússia e aos planos actuais para um sistema de defesa antimíssil.
Van der Bellen tem afirmado repetidamente que se manterá vigilante para garantir que as “pedras angulares da democracia”, incluindo os direitos humanos, os meios de comunicação social independentes e a adesão da Áustria à União Europeia, sejam respeitadas.