Musk pede novo líder para o Reform dias depois de Farage o descrever como um “herói”
Aliado de Trump apanha líder do partido de direita radical britânico de “surpresa”, dizendo que “não tem o que é preciso” para o cargo. Farage insiste na oposição a figura anti-islão apoiada por Musk.
Poucos dias depois de ter elogiado publicamente Elon Musk, descrevendo-o como um “herói” e um “amigo” e agradecendo o seu apoio, Nigel Farage, presidente do Reform UK, viu o multimilionário e aliado de Donald Trump recorrer ao X (antigo Twitter) para defender que o partido de direita radical do Reino Unido “precisa de um novo líder”.
“Farage não tem o que é preciso”, escreveu Musk neste domingo na rede social que comprou em 2022.
Em resposta, o deputado nacionalista, anti-imigração e eurocéptico britânico, eleito pela primeira vez para o Parlamento nas legislativas de Julho, admitiu ter ficado surpreendido, mas assegurou que não vai “vender” os seus princípios, nomeadamente em relação à sua posição sobre Tommy Robinson (cujo verdadeiro nome é Stephen Yaxley-Lennon), antigo líder do grupo islamófobo e de extrema-direita English Defense League (EDL), defendido recentemente por Musk.
“Bom, isto é uma surpresa! O Elon é uma pessoa notável, mas, neste ponto, receio que não estou de acordo com ele. A minha opinião continua a ser a de que Tommy Robinson não é o homem certo para o Reform e eu nunca irei vender os meus princípios”, escreveu Farage, também no X, partilhando a publicação de Musk.
O homem mais rico do mundo defendeu nos últimos dias a libertação de Robinson, condenado em Outubro a 18 meses de prisão por desobediência ao tribunal, por ter repetido alegações falsas e difamatórias sobre um refugiado sírio.
Musk tem repetido, no entanto, teorias conspirativas disseminadas nas redes sociais que defendem que o ex-líder da EDL – um grupo associado ao neofascismo e ao movimento supremacista branco britânico, considerado demasiado extremista pelo próprio Farage – foi preso por “dizer a verdade” sobre um escândalo de pedofilia e de tráfico de cerca de 1400 raparigas na região de Manchester, exposto em 2013, e levado a cabo por grupos de homens com ascendência paquistanesa.
O caso regressou à agenda política do Reino Unido depois de o Governo trabalhista ter recusado um pedido das autoridades locais de Oldham, nos arredores de Manchester, tendo em vista a abertura de um novo inquérito nacional sobre os abusos sexuais na região; o executivo de Keir Starmer lembrou que uma investigação a esse nível apresentou as suas conclusões em 2022 e aconselhou o poder local a avançar com um inquérito em nome próprio.
Perante as críticas do Partido Conservador, na oposição, e do Reform UK, Musk publicou uma série de mensagens no X a acusar o primeiro-ministro de não ter acusado e prendido “gangues de violadores” quando era procurador-geral de Inglaterra e do País de Gales (2008-2013), a apelar à “detenção” da subsecretária de Estado responsável pela pasta da protecção das vítimas e a pedir ao rei Carlos III que dissolva o Parlamento britânico, em nome da “segurança”.
Pelo meio, o homem mandatado por Trump para cortar a despesa do Governo federal norte-americano pediu a libertação de Tommy Robinson.
Na passada sexta-feira, confirmando e agradecendo o apoio financeiro de Musk ao Reform – ainda que rotulando de “exageradas” as notícias sobre um alegado donativo de 100 milhões de libras ao partido (mais de 120 milhões de euros) –, num comício do partido, Farage lembrou, no entanto, o dono da Tesla e da SpaceX sobre os verdadeiros motivos da detenção de Robinson e insistiu que o Reform “não precisa” dele, nem quer a sua inscrição como militante.
Fundado em 2018 com o nome de Partido do Brexit, o Reform UK é liderado por Farage desde Junho do ano passado, depois de um interregno de dois anos, durante os quais o multimilionário Richard Tice assumiu a presidência.
Nas eleições legislativas de Julho, defendendo restrições à imigração, cortes nos impostos e uma oposição feroz à “ideologia de género” (questões de género) e à transição energética, o Reform obteve cerca de quatro milhões de votos, tendo sido o terceiro partido mais votado, e elegeu cinco deputados.
Na prática, o partido dividiu o eleitorado que vota tradicionalmente à direita, prejudicando o Partido Conservador (centro-direita), no poder há 14 anos, e abrindo caminho para uma vitória confortável do Partido Trabalhista (centro-esquerda).