Mais de 40% das infra-estruturas da polícia destruídas nos protestos em Moçambique

Comandante-geral polícia moçambicana garante, ainda assim, que os agentes vão permanecer no terreno “para garantir a ordem e a segurança públicas”. Oposição contesta eleição de Daniel Chapo.

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Mensagem de um manifestante para a polícia de Moçambique LUISA NHANTUMBO / EPA
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O comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael, estima que mais de 40% das infra-estruturas daquela força policial foram destruídas ou parcialmente vandalizadas nas manifestações e protestos pós-eleitorais desde 21 de Outubro.

Numa declaração feita numa parada realizada no quartel da Unidade de Intervenção Rápida da PRM, em Katembe, Maputo, e confirmadas este sábado à Lusa pelo próprio comandante-geral, Bernardino Rafael deu conta que a rede de infra-estruturas, “que levou anos a construir”, foi “severamente afectada” pela violência pós-eleitoral que se regista no país.

“Estamos a falar de mais de 40% das unidades vandalizadas parcial ou totalmente em pouco mais de 80 dias de manifestações”, declarou Bernardino Rafael, recordando que as mesmas infra-estruturas serviam de “aproximação” da PRM às populações.

“Serviam directamente as pessoas que tomaram a iniciativa de destruí-las”, disse ainda o comandante-geral da corporação, garantindo que, apesar do nível de destruição, que visou sobretudo a polícia, a PRM permanece no terreno “para garantir a ordem e a segurança públicas”.

O Conselho Constitucional (CC) de Moçambique fixou oficialmente o dia 15 de Janeiro para a tomada de posse do novo Presidente da República, que sucede a Filipe Nyusi.

Em 23 de Dezembro, o CC, última instância de recurso em contenciosos eleitorais, proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi; bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições de 9 de Outubro.

Daniel Chapo, apontado pela Frelimo como uma “proposta jovem” e que vai ser o primeiro chefe de Estado nascido após a independência, assumirá a Presidência moçambicana no ano em que o país assinala 50 anos de independência, um período marcado, entretanto, pela maior oposição aos resultados eleitorais desde as primeiras eleições, 1994.

A sua eleição é contestada nas ruas e o anúncio do CC aumentou o caos que o país vive desde Outubro, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane – candidato que, segundo o CC, obteve apenas 24% dos votos, mas que reclama vitória – em protestos a exigirem a “reposição da verdade eleitoral”, com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.

Confrontos entre a polícia e os manifestantes já provocaram quase 300 mortos e mais de 500 pessoas feridas a tiro, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.

Além de Venâncio Mondlane, apoiado pelo partido Podemos, no percurso até à Ponta Vermelha (Residencial oficial do Presidente da República), Chapo enfrentou Ossufo Momade (que obteve 6,62%), líder e apoiado pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal força de oposição, e Lutero Simango (que teve 4,02%), presidente do Movimento Democrático de Moçambique.

Mondlane, que lidera a contestação a partir do estrangeiro, afirmou, num dos seus directos na rede social Facebook, que vai tomar posse no dia 15 de Janeiro e prometeu anunciar, com detalhes, a próxima fase das manifestações, que chamou de “Ponta de Lança”.