Mais crime em Lisboa? Moedas diz que sim, dados preliminares da PSP não o confirmam

Carlos Moedas afirmou haver “mais violência e mais crimes” na capital. Mas segundo a PSP, os primeiros 10 meses de 2024 mostraram uma realidade diferente na Área Metropolitana de Lisboa.

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Carlos Moedas no 42º Congresso Nacional do PSD Nelson Garrido
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A frase

Consigo dizer que Lisboa é uma das capitais mais seguras do mundo, mas nos últimos anos tem havido mais violência e mais crimes.

Carlos Moedas, 3 de Janeiro de 2025

O contexto

Numa entrevista concedida ao Diário de Notícias, publicada esta sexta-feira, 3 de Janeiro, Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), foi questionado se se sentiu incomodado perante as imagens de pessoas a serem revistadas na Rua do Benformoso, numa recente acção policial que suscitou críticas por parte da oposição e da sociedade civil. O autarca, ao responder, disse: “Há uma preocupação genuína, porque hoje há crimes mais violentos na cidade e as pessoas estão preocupadas”.

Questionado ainda sobre se Lisboa é das capitais mais seguras do mundo, Carlos Moedas disse acreditar que sim. No entanto, referiu que “nos últimos anos tem havido mais violência e mais crimes”. O presidente da CML acrescentou ainda que os sinais que tem tido "nos últimos anos, são sinais de insegurança.”

Os factos

O PÚBLICO tentou contactar a assessoria de Carlos Moedas para perceber em que dados se baseava o autarca para alegar um aumento da criminalidade na capital. Contudo, não obteve resposta. No entanto, numa entrevista publicada também no Diário de Notícias, em Agosto de 2024, Carlos Moedas fazia uma afirmação semelhante e usava, para a sustentar, o último Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), referente ao ano de 2023.

De facto, o RASI 2023 aponta para um ligeiro aumento da criminalidade violenta e grave em Lisboa. Em 2022 registavam-se 5146 crimes graves, em 2023 eram 5208. Não há, de momento, um RASI referente a 2024, já que é habitual que sejam publicados até ao final do primeiro trimestre do ano seguinte. Neste caso, até 31 de Março de 2025.

Ainda assim, há dados mais recentes que indiciam contestar a afirmação de Carlos Moedas. A 20 de Novembro de 2024, a agência Lusa noticiava que a criminalidade violenta na Área Metropolitana de Lisboa tinha estagnado. Luís Elias, comandante metropolitano de Lisboa da PSP, fornecia então alguns dados sobre o assunto na cerimónia comemorativa do 157.º aniversário do seu comando, o Cometlis.

"Ao comparar os primeiros 10 meses de 2023 e de 2024, a criminalidade geral na área do Comando Metropolitano de Lisboa diminuiu 9,4%, quanto à criminalidade violenta e grave decresceu também ligeiramente cerca de 0,2%, o que representa uma estagnação", dizia Luís Elias em Novembro.

Duas ressalvas importantes: a primeira é feita pelo próprio responsável da PSP, que sublinhava que só terminado o ano de 2024 seria possível ter "capacidade para fazer uma análise e balanço global"; a segunda é o âmbito desses dados, já que a Área Metropolitana de Lisboa é muito mais vasta que o município liderado por Moedas, pelo que uma redução geral da criminalidade poderia não significar que o mesmo tivesse ocorrido no território da capital.

Ainda assim, fica a declaração do comandante metropolitano da PSP: "os dados estatísticos sobre a criminalidade registada não são assim correspondentes ao sentimento de insegurança difundido nas redes sociais e em certos sectores da opinião pública".

O veredicto

A afirmação relativa a uma suposta subida da violência e da criminalidade em Lisboa, proferida por Carlos Moedas, não encontra de momento sustentação em dados que já sejam públicos ou que tenham sido citados até ao momento pelas autoridades policiais no que diz respeito ao último ano.

Dados preliminares da PSP, relativos à Área Metropolitana de Lisboa, mostram um decréscimo significativo na criminalidade geral e uma estagnação na criminalidade violenta nos primeiros 10 meses de 2024 em comparação a igual período de 2023, ano em que de facto se registou uma ligeira subida face a 2022. E o responsável do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP dizia não haver nos números, até Outubro de 2024, qualquer correspondência com o "sentimento de insegurança" referido na opinião pública.

Carecendo de sustentação sólida em dados públicos relativos a 2024, que confirmem a manutenção nesse ano da tendência registada em 2023, a afirmação do presidente da Câmara Municipal de Lisboa é parcialmente falsa.

Texto editado por Pedro Guerreiro

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