A Supertaça de Itália já é um “clássico” do futebol saudita

A competição realiza-se fora da “bota” pelo terceiro ano consecutivo, e continua em formato de final a quatro, com incentivos financeiros para se manter assim, pelo menos, até 2029.

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Ademola Lookman da Atalanta e Denzel Dumfries do Inter durante uma das meias-finais da Supertaça italiana, na Arábia Saudita STRINGER / EPA
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Em 2023, Pedro Proença falava dos EUA e da Arábia Saudita como mercados “muitíssimo apetecíveis” para a Taça da Liga, referindo a necessidade de uma internacionalização das competições do futebol nacional? E como é que isso está a correr? Vamos ter uma final a quatro em Riade, Los Angeles ou Nova Iorque durante a próxima semana? Será em Leiria. Enquanto isso, nesta quinta-feira, a Supertaça italiana arrancou para a sua quinta edição na Arábia Saudita, e a Supertaça espanhola, também em formato de final a quatro, já é um “clássico” no reino, disputando-se em solo saudita pela quinta vez.

Trazer jogos de competições de futebol de outro país para o seu território é apenas uma pequena parte da estratégia da Arábia Saudita para deixar a sua marca no desporto mundial. Sabemos que, no futebol, já conquistou o “grande prémio”, o direito de receber o Mundial em 2034, e vai polvilhando o seu pozinho de fada (dinheiro) um pouco por todo o mundo. Por seis anos Supertaça do “calcio”, desde 2023 até 2029, os sauditas pagaram 138 milhões de euros, a um custo de 23 milhões por temporada.

É uma sempre desejada injecção de dinheiro no futebol italiano, mas veio com uma cláusula – a de serem três jogos, duas meias-finais e uma final, em vez de apenas o campeão contra o vencedor da Taça. Os clubes também beneficiam, havendo um bolo de 16,2 milhões, dos 23 milhões iniciais, a ser dividido pelos quatro participantes, dependendo do desempenho na competição – o vencedor da final irá receber um total de oito milhões, o finalista vencido terá cinco, os dois eliminados nas “meias” ficam-se pelos 1,6 milhões. O restante é dividido pelos outros 16 clubes da Série A, pelos agentes que fecharam o negócio e para despesas da própria Liga italiana.

O futebol italiano não foi o único “raptado” pela Arábia Saudita. Na próxima semana, também a Supertaça espanhola regressa ao reino para três jogos, sendo a expectativa de que haja um Real Madrid-Barcelona na final – os catalães defrontam o Athletic Bilbau, os “merengues” terão o Maiorca pela frente. O negócio que os espanhóis assinaram com os sauditas, de acordo com a imprensa internacional, é bastante superior, a rondar os 40 milhões de euros por época, sendo que é a própria Liga espanhola que faz a divisão do bolo pelos participantes e restantes equipas.

Se isto faz maravilhas pelas finanças dos clubes europeus (com isto e com as transferências, claro), o que é que esta exposição ao futebol de alto nível tem feito pelo futebol saudita? Não muito. Por mais que Cristiano Ronaldo diga que a Saudi Pro League é um dos melhores campeonatos do mundo, não é essa a percepção que o mundo tem dela – um estudo recente da Opta coloca o principal campeonato saudita no 33.º lugar a nível mundial, atrás, por exemplo da primeira divisão da Colômbia.

A selecção saudita também não beneficia desta exposição ao futebol de alto nível, que começou com a chegada de Cristiano Ronaldo ao reino, no início de 2023, com jogadores como Benzema ou Neymar a seguirem os passos do português. Basta dizer que a selecção tem o seu pior ranking dos últimos três anos (59.º), o que não é surpresa nenhuma dada a falta de espaço dos jogadores locais com a contratação permanente dos craques estrangeiros.

E há pessoas a ver os jogos nas bancadas? Os quatro clubes beneficiados pelo Fundo de Investimento (PIF) saudita, o Al-Ittihad, o Al-Ahli, o Al-Nassr e o Al-Hilal têm bastante gente nas bancadas – 34 mil, 23 mil, 16 mil e 14 mil de média, respectivamente. Metade dos clubes do campeonato (nove) tem médias inferiores aos cinco mil em 2024-25 e há um, o Al-Wehda, que não chega aos mil de média por jogo.

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