Sem o gás russo, a Transnístria foi obrigada a desligar a sua indústria

Apenas a produção alimentar se mantém em funcionamento na região separatista da Moldova. Reservas de gás só duram mais duas semanas.

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Vista de Tiraspol, capital da região separatista da Transnístria REUTERS/Vladislav Bachev
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O corte do fornecimento de gás russo à região separatista da Transnístria, na Moldova, obrigou ao encerramento de todas as empresas industriais, excepto as produtoras de alimentos, informou o governo local.

O território de língua russa, com cerca de 450 mil habitantes, que se separou da Moldova na década de 1990 com o colapso da União Soviética, sofreu um golpe doloroso e imediato com o corte do fornecimento de gás russo à Europa Central e Oriental através da Ucrânia, na quarta-feira.

“Todas as empresas industriais estão paradas, com excepção das que se dedicam à produção de alimentos - ou seja, que garantem directamente a segurança alimentar da Transnístria”, disse Serguei Obolonik, primeiro vice-primeiro-ministro da região, a um canal de notícias local.

“É demasiado cedo para avaliar a evolução da situação... O problema é tão extenso que, se não for resolvido durante muito tempo, teremos mudanças irreversíveis - ou seja, as empresas perderão a sua capacidade de funcionar.”

A Ucrânia permitiu que a Rússia continuasse a bombear gás através do seu território, apesar de quase três anos de guerra, e estava a ganhar até mil milhões de dólares por ano em taxas de trânsito. Mas Kiev recusou-se a renovar um acordo de cinco anos que expirou na quarta-feira.

Os compradores europeus de gás, como a Eslováquia e Áustria, tinham-se preparado para o corte, assegurando fornecimentos alternativos. Mas a Transnístria - apesar dos seus laços com Moscovo e da presença de 1500 soldados russos no local - ficou paralisada.

A empresa local de energia cortou o aquecimento e a água quente das casas na quarta-feira, instando as famílias a manterem-se quentes juntando-se numa única divisão, cobrindo as janelas com cortinas ou cobertores e utilizando aquecedores eléctricos.

O líder da Transnístria, Vadim Krasnoselsky, disse que a região tinha reservas de gás que poderiam durar dez dias de utilização limitada na parte Norte e o dobro no Sul.

Krasnoselsky afirmou que a principal central eléctrica tinha passado do gás para o carvão e deveria poder fornecer electricidade aos residentes em Janeiro e Fevereiro.

A Rússia tem estado a bombear cerca de dois mil milhões de metros cúbicos de gás por ano para a Transnístria - incluindo a central eléctrica que também fornece energia a toda a Moldova, um país de 2,5 milhões de habitantes que pretende aderir à União Europeia.

A Moldova tem um longo historial de disputas sobre o pagamento do gás e de relações tensas com a Rússia. A ex-república soviética está a tentar reduzir o consumo de energia em pelo menos um terço e importa mais de 60% das suas necessidades da vizinha Roménia.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, descreveu o fim do trânsito de gás russo como “uma das maiores derrotas de Moscovo” e pediu aos Estados Unidos para fornecerem mais gás à Europa.

Desde a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia, a Europa reduziu a sua dependência da energia russa e aumentou as importações de outras fontes, incluindo o gás canalizado da Noruega e o gás natural liquefeito (GNL) dos EUA e do Qatar.

A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, afirmou que a perda de gás russo estava a prejudicar economicamente a Europa e que os EUA eram os beneficiários.

“A responsabilidade pela cessação do fornecimento de gás russo cabe inteiramente aos Estados Unidos, ao regime fantoche de Kiev, bem como às autoridades dos Estados europeus que sacrificaram o bem-estar dos seus cidadãos para apoiar financeiramente a economia americana”, afirmou.