Investigação científica: precisamos de mais para fazer melhor
O subfinanciamento é uma realidade e a ciência é, normalmente, esquecida pela política.
A ciência é um dos temas de maior interesse para a população portuguesa. No entanto, pode ser difícil de comunicar, porque aborda temas e termos técnicos que vão além do conhecimento geral da população. Afinal, como podemos colmatar este desafio, tornando a ciência mais entendível e, por isso, mais próxima das pessoas?
Nos últimos 15 anos, tem-se assistido ao desenvolvimento de uma maior sensibilidade, por parte das instituições relativamente à forma como comunicam ciência, preocupação que tem também moldado a forma e frequência com que a comunicação social “fala” sobre ciência. Os pioneiros foram os jornais, mas, com o decorrer dos anos, a ciência tornou-se um tema regular nas notícias e não só. As redes sociais massificaram-se e tornaram-se um meio privilegiado para transmitir, de forma fácil e acessível, novos conhecimentos e investigação científica.
Ainda assim, é uma batalha que se vai conquistando, isto porque as redes sociais podem ser sinónimo de falta de credibilidade, um dos fatores comprovados pelos resultados do estudo “Perceções e expectativas dos portugueses sobre a ciência”, realizado no âmbito da celebração dos 25 anos da AstraZeneca. Isto implica que a população que mais se interessa tenha, em geral, um nível elevado de educação, sendo que o mesmo estudo confirma a importância que a opinião pública dá à ciência, apesar de estar pouco informada sobre a atividade investigativa.
A verdade é que, por vezes, há um certo sensacionalismo e inflacionamento dos resultados científicos nos meios de comunicação social, com o objetivo de captar a atenção das pessoas. Na saúde, tal é muito óbvio, pelo que há sempre o desafio de tratar as novidades científicas de forma verdadeira e equilibrada entre a simplificação da notícia e a realidade mais complexa. Por outro lado, as instituições de investigação tornaram-se também cada vez mais abertas e próximas da população, com a criação de open days e atividades para partilhar os seus trabalhos.
Mas, além da questão da comunicação, a ciência enfrenta, em Portugal, desafios financeiros, tanto no setor privado como no público. Desde os anos de 1990 que investimos na criação de um sistema científico robusto e completo, mas há um limite para esse crescimento relacionado com a falta de investimento, uma questão que está na origem do grande debate que existe no nosso país sobre o nosso potencial não aproveitado. O subfinanciamento é uma realidade e a ciência é, normalmente, esquecida pela política.
Este subfinanciamento está também na origem da perda de muitos investigadores, que trocam as dificuldades que existem cá por países com mais apoios e melhores condições e oportunidades. Ainda assim, sou apologista de que o mercado de trabalho é cada vez mais europeu e internacional e, por isso, saídas para o estrangeiro para fazer formação e desenvolver novas competências são muito importantes. O problema em Portugal é a falta de capital para investir, pelo que, com melhores condições e mais oportunidades, conseguiríamos fixar mais investigadores no nosso país.
Apesar de todos os desafios, acredito que temos grupos de excelência, com projetos de ciência em andamento e centros de investigação de nível internacional. Isto foi uma conquista dos últimos 15 anos, mas estamos com dificuldade em progredir.
Por isso, nos próximos anos, temos de caminhar para ter melhores condições, acesso a equipamentos diferenciadores e infraestruturas que capacitem os investigadores portugueses a fazer a sua ciência e a partilhá-la internacionalmente. É, claramente, o subfinanciamento que está a evitar que se continue a progredir na investigação nacional. Estamos a fazer muito com pouco e está na altura de fazermos ainda mais com melhores condições e financiamento adequado!
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico