Desejos para a ciência em Portugal em 2025
Eis cinco desejos para ciência portuguesa no próximo ano. O primeiro é que aumente o orçamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
Esta época de final de ano e início de um novo é propícia a que se façam balanços e desejos para o ano que agora vai começar. Neste espírito, elenco aqui alguns desejos para a ciência nacional.
1. Aumento do orçamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT): quando deveríamos estar a convergir para um investimento em investigação e desenvolvimento (I&D) de 3% do produto interno bruto (PIB), já que ainda estamos longe dessa meta (cerca de 1,7%), poderemos estar a afastar-nos dela ainda mais. Isto porque o orçamento da FCT irá diminuir em 2025, como aqui dissequei no meu anterior artigo. É por isso urgente inverter esta tendência. Tal como deveríamos ter aprendido com a maior pandemia deste século, a ciência é o que nos permite estar mais bem preparados para o que o futuro nos trouxer.
2. Valorização dos recursos humanos e aumento do número de investigadores com contratos estáveis: fazer ciência requer recursos humanos altamente especializados e diferenciados, com muitos anos de treino. Numa altura de baixa atratividade das carreiras científicas, sobretudo nas universidades, é ainda mais importante valorizar os recursos humanos e haver carreiras estáveis para investigadores doutorados. Não podemos continuar a ter investigadores doutorados com contratos sucessivos a termo. Se são fundamentais para a investigação que se faz nas universidades, então têm de ter contratos permanentes com as instituições.
3. Aumento da taxa de sucesso dos concursos de projetos de I&D e periodicidade regular: como também já escrevi num artigo anterior, é preciso ter taxas de sucesso de cerca de 20% para garantir uma seleção baseada no mérito, o que contrasta com as atuais, que rondam os 6%, o que nem sequer garante que todos os projetos excelentes sejam financiados. E a periodicidade dos concursos tem de ser previsível e anual (o último concurso de projetos de I&D em todos os domínios científicos e tecnológicos foi lançado a 22 de dezembro de 2023 e ainda não se conhecem os resultados, pelo que em 2023, 2024 e 2025 poderá haver apenas um concurso, o que é insustentável).
Em países como os Estados Unidos, a data dos concursos é sempre a mesma de ano para ano, o que é fundamental para que os investigadores possam planear com tempo os projetos a que concorrem e assim estarem mais bem preparados.
4. Investimento na investigação fundamental: a investigação dita “fundamental” deve ser apoiada, pois as aplicações desta só poderão surgir se continuarmos a investir no aumento do conhecimento. Por exemplo, no último concurso de projetos de I&D referido anteriormente, uma das regras era de que os projetos só poderiam ter 10% de investigação fundamental, o que contraria este princípio. Claro que é bom que haja aplicação do conhecimento que é gerado e que isso ajude o crescimento da economia e desenvolvimento do país, mas não se pode negligenciar a investigação fundamental, ou corremos o risco de daqui a alguns anos não termos conhecimento para aplicar.
O que temos testemunhado ao longo da história é que as aplicações acabam por surgir naturalmente mais cedo ou mais tarde. Por isso, o que se deve financiar é a ciência de excelência e os investigadores que a fazem. Como disse e muito bem Louis Pasteur, “não existem ciências aplicadas, apenas aplicações da ciência”.
5. Mais financiamento privado: assistimos este ano ao surgimento de uma nova fundação dedicada à ciência — a Fundação GIMM (Gulbenkian Institute for Molecular Medicine) — que está por trás do instituto com o mesmo nome. É um momento importante para a ciência nacional, pois até agora só havia duas grandes fundações a apoiar institutos de investigação — a Fundação Champalimaud e a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). No entanto, não passámos a ter três fundações deste género, pois a FCG integra a Fundação GIMM. Seria bom que seguíssemos o exemplo de outros países, sobretudo os anglo-saxónicos e houvesse mais fundações privadas que financiassem a ciência, com institutos próprios ou financiando investigadores que estão em institutos já existentes.
Numa época de escassez de fundos públicos, seria crucial que a sociedade se unisse e demonstrasse aos decisores políticos que acredita que é através da ciência que poderemos melhorar o nosso bem-estar e desenvolvimento.
Um feliz 2025 para todos!
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
Professor associado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa