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Desejos para 2025: autorização de residência, salários maiores e lei contra xenofobia
Brasileiros em Portugal querem sair das amarras de não poderem ver nem a família no Brasil por causa da falta de documentação. Também pedem mais compreensão dos portugueses em relação aos imigrantes.
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A chef de cozinha Alice Cadina, 35 anos, já fez seu pedido para 2025: "O meu desejo é, finalmente, receber meu cartão de residência, porque vai me possibilitar estar em Portugal em situação regular, realizando o sonho de quando vim para o país de ter uma base na Europa para morar, mas poder viajar pelo mundo trabalhando com alimentação e conhecendo diferentes culinárias. Indo para a Índia, para Ásia, viajando dentro da Europa".
Não só. Para ela, a tão esperada autorização de residência será um grito de libertação das amarras que a impedem, atualmente, de visitar a família no Brasil. Desde maio de 2022 em Portugal, a chef afirma: "O título de residência também vai me permitir voltar para o Brasil, que é a minha terra natal, e visitar toda a minha família. Creio que uma das coisas mais difíceis para os imigrantes que ainda estão à espera da autorização de residência é a proibição, a não possibilidade de voltar para o país natal enquanto a documentação não sai".
Alice frisa que, quando desembarcou em Portugal, esperava, inicialmente, que toda a questão da documentação fosse resolvida num prazo de três meses. "Mas o que temos visto é uma espera de dois a três anos. Então, quando resolver a minha situação e poder voltar para o meu país e visitar meus familiares, será muito importante para mim", ressalta.
O ideal, na avaliação dela, seria que as pessoas tivessem mobilidade para circular enquanto o processo envolvendo a autorização de residência em Portugal estivesse tramitando. "Essa liberdade é fundamental. As pessoas, mesmo esperando a autorização de residências, poderiam, pelo menos, viajar para a terra natal e retornar em segurança para Portugal", destaca.
Para Alice, como imigrante e diante da importância que os trabalhadores estrangeiros têm para Portugal, seria muito importante que a Assembleia da República colocasse na Constituição leis que transformassem em crime a xenofobia e o racismo. "Infelizmente, em Portugal, não há legislação que proteja pessoas que não sejam europeias desses crimes", diz.
Ela vai além: "A maioria dos imigrantes que vive em Portugal é de países do terceiro mundo, africanos, sul-americanos, asiáticos, que tem a pele mais escura. Creio que leis que proibissem e criminalizassem o racismo e a xenofobia ajudariam muito os imigrantes e o país a se desenvolver e os portugueses, a reverem esse pensamento bastante conservador".
Ano de recomeço
Para a publicitária Clarissa Machado Câmara, 37, Portugal foi um recomeço, e o desejo para 2025 é de que as mudanças que ocorreram na vida dela levem a um caminho de conquistas. "Quero reestruturar a minha rotina, porque acabei de passar por uma separação, montei minha casa nova, entrei num emprego novo. Quero cuidar da minha vida, dos meus dois cachorros", enfatiza.
Antes de se mudar para Lisboa, há dois anos e um mês, Clarissa vivia na Suécia. "Como queria continuar morando na Europa, apliquei para um visto de nômade digital em Portugal, e deu certo", frisa. Ela reconhece, porém, que o custo de vida, sobretudo do aluguel, aumentou bastante em território luso. "Esse é um ponto que pega toda a população, não só de imigrantes, mas também os portugueses. O salário não tem sido suficiente para todas as despesas", afirma.
Segundo a publicitária, seria muito bom se esse problema fosse resolvido, pois o cobertor está muito curto. "O salário mínimo sobe, porém, a inflação também aumenta. Não dá para ficar sempre nesse burnout de trabalhar demais para conseguir ter o mínimo no final do mês. Ter um emprego de 9h às 5h da tarde, de segunda à sexta, seria muito bom", assinala ela, que vê como desafio viver em Portugal além da bolha de brasileiros.
Mudança na lei
A questão profissional está no topo dos desejos para 2025 da chef de cozinha Paula Grings, 30, que vive em Portugal há apenas sete meses. "O que espero para o novo ano está muito envolvido com minha profissão. Quero que o Calma, restaurante que está abrindo agora, em que estou à frente, seja próspero, que aconteça", ressalta. "Estou me sentindo em construção em Portugal, me sinto agregando", acrescenta.
Paula conta que, tão logo conseguiu o contrato de trabalho em Portugal, caiu a manifestação de interesse, extinta pelo Governo em 3 de junho. Essa ferramenta era usada pelos imigrantes para regularizarem a documentação do país. "Foi um momento impactante para mim", assinala.
Contudo, ela está mais tranquila diante das mudanças promovidas pela Assembleia da República nos títulos de residência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Os brasileiros, assim como os timorenses, poderão entrar em Portugal como turistas e, já no país, pedir a autorização de residência.
Olhar para os imigrantes
Chefe de turno de um restaurante, Sydney Santos Silva Feitosa, 37, diz que gosta muito de viver em Portugal, para onde se mudou há dois anos. "Minhas expectativas em relação a 2025 são de continuidade das coisas que já vêm acontecendo comigo. Pode parecer meio piegas, um pouco brega falar sobre prosperidade, mas meus desejos, tanto para mim quanto para todo mundo que conheço e convivo em Lisboa, são de prosperidade", diz. "Quando conquistamos algo, dá aquela energia de ir atrás de mais", complementa.
Na opinião dele, por ser estrangeiro em Portugal, as conquistas têm valor ainda maior. "É complicado ser imigrante, é preciso aceitação, compreensão em relação aos estrangeiros que moram no país. O português viaja muito, sobretudo aqueles que têm entre 19 e 25 anos. Vão estudar e trabalhar em outros lugares, depois, voltam para Portugal", assinala.
Sydney assegura que nenhum brasileiro se muda para Portugal com o intuito de fazer algo errado, quebrar alguma regra, fazer com que as pessoas que estão ao redor dele percam. "Pelo contrário, todos os brasileiros que eu conheço querem conquistar mais coisas, porque podem tanto continuar no país quanto irem para outro lugar".
Na visão dele, é preciso enxergar o próximo, independentemente da origem da pessoa. "O português é um povo que emigrou durante muito tempo. Somos reflexos disso. A sociedade portuguesa precisa compreender que o imigrante vem para Portugal para ter uma vida melhor e, provavelmente, para prover uma vida melhor a seus familiares", enfatiza.
Fome de tudo
No ar na novela Garota do momento, da TV Globo, a atriz e apresentadora Úrsula Corona, 42, deseja saúde em abundância para todos em 2025. E que o projeto dela, Fome de Tudo, voltado para pessoas que vivem em situação de rua e em comunidades carentes, continue a colher bons frutos.
"Que o Fome de Tudo cresça cada dia mais e que a minha vida continue prosperando em boas realizações", diz Úrsula, que também tem planos de fazer mais novelas no ano que vem. "Estava com saudades da TV. Quero atuar cada vez mais."
Ela, inclusive, já preparou o ritual para a entrada em 2025: vai comer uva e pisar descalça no primeiro minuto do ano novo para que as escolhas sejam firmes e alinhadas com o universo. "Tenho isso desde pequena por conta da cultura indígena", frisa.