Trump perde recurso em processo de difamação da escritora E. Jean Carroll

Em causa, na decisão, estava a acusação, feita por Carroll em 2019, num artigo da New Yorker, de que Trump a violou num provador dos armazéns de luxo Bergdorf Goodman, em Manhattan.

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Trump toma posse como Presidente dos EUA no dia 20 de Janeiro Cheney Orr / REUTERS
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Um tribunal federal de Nova Iorque confirmou esta segunda-feira um veredicto que obriga Donald Trump a indemnizar e compensar a escritora E. Jean Carroll, no âmbito de um processo de difamação relacionado com um caso de abuso sexual.

Em causa na decisão desta segunda-feira estava a acusação, feita por Carroll em 2019, num artigo publicado na revista New Yorker, de que Trump a violou num provador dos armazéns de luxo Bergdorf Goodman, em Manhattan. Segundo Carroll — na época uma conhecida colunista na revista Elle —, os dois conheceram-se de forma fortuita nos armazéns, na famosa 5.ª Avenida, numa data que não conseguiu especificar e que colocou "entre o Outono de 1995 e a Primavera de 1996".

Depois de uma troca de palavras com elogios de parte a parte, a escritora diz que Trump lhe pediu que o ajudasse a escolher uma peça de lingerie para oferecer a "uma amiga" e que a empurrou para dentro de um provador, onde a agrediu e violou. Na sequência da denúncia feita em 2019, o então Presidente dos EUA desmentiu a acusação de Carroll e acusou a escritora de ter mentido para promover a publicação de um livro.

Embora os jurados do tribunal federal de Manhattan não tenham concluído que Trump cometeu uma violação, atribuíram à antiga colunista da revista Elle 2,02 milhões de dólares (cerca de 1,9 milhões de euros) por agressão sexual e 2,98 milhões de dólares (2,6 milhões de euros) por difamação.

Em Janeiro, um júri diferente ordenou a Trump que pagasse 83,3 milhões de dólares (mais de 76 milhões de euros) a Carroll por a ter difamado e prejudicado a sua reputação em Junho de 2019, quando negou, pela primeira vez, a alegação de violação. Em ambos os desmentidos, Trump disse que não conhecia Carroll, que ela "não fazia o seu género" e que a escritora fabricou a acusação de violação para promover o seu livro de memórias.

Trump tentou, então, recorrer da decisão que o obrigaria a pagar os 83,3 milhões de dólares, que não foi aceite pelo tribunal. Os casos que envolvem Carroll ainda correm na Justiça, apesar de Trump ter ganho um segundo mandato de quatro anos na Casa Branca. Em 1997, num caso que envolvia o antigo Presidente Bill Clinton, o Supremo Tribunal dos EUA decidiu por unanimidade que os Presidentes em exercício não têm imunidade contra litígios civis em tribunais federais por acções anteriores e não relacionadas com as suas funções oficiais como Presidente.

Os advogados de Trump argumentaram que o veredicto de 5 milhões de dólares (4,8 milhões de euros) teria de ser rejeitado porque o juiz não deveria ter deixado os jurados ouvirem o testemunho de duas outras mulheres que acusaram Trump de má conduta sexual. Uma delas, a empresária Jessica Leeds, disse que Trump a apalpou num avião no final da década de 1970. Natasha Stoynoff, antiga redactora da revista People, afirmou que Trump a beijou à força na sua propriedade de Mar-a-Lago em 2005. Os advogados de Trump também afirmaram que o juiz do julgamento não deveria ter deixado os jurados assistirem a um vídeo de 2005 do programa Access Hollywood, em que Trump se vangloriava graficamente de assediar várias mulheres.