Agredido em Odivelas, activista do PAIGC aponta dedo a elementos ligados ao Governo guineense

Feliciano Pinto, conhecido como “Kanhota di Povo”, foi alvo de uma perseguição automóvel e acabou agredido por cinco indivíduos encapuzados com tacos de baseball.

Foto
Manifestação em Lisboa de guineenses contra a deriva autoritária do Presidente Umaro Sissoco Embaló, acusado de perseguir opositores políticos FILIPE AMORIM / LUSA
Ouça este artigo
00:00
03:37

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O activista guineense Feliciano Pinto, ligado ao PAIGC, foi agredido na noite de sexta-feira no bairro das Patameiras, em Odivelas. O activista, conhecido nas redes sociais como “Kanhota di Povo”, aponta o dedo a elementos ligados ao Governo da Guiné-Bissau e ao Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló.

Em declarações ao PÚBLICO, Feliciano Pinto, que vive no Luxemburgo, conta que o carro onde seguia foi alvo de uma perseguição durante “muito tempo” antes da agressão, tendo passado pela zona do Largo da República, no centro de Odivelas, antes de chegar às Patameiras.

Feliciano Pinto estava acompanhado de uma amiga a quem estava a dar boleia, facto que não impediu os agressores de consumarem o seu acto. Segundo o seu relato, terão estado envolvidos no ataque três pessoas encapuzadas (sendo que pelo menos mais duas estariam a vigiar) que o atingiram em várias zonas do corpo, incluindo na cabeça, antes de conseguir escapar.

Foto
Feliciano Pinto contou o ocorrido, ainda ensanguentado, através de um vídeo nas redes sociais filmado no local onde ocorreu a agressão DR

“Tinham tacos de baseball. Apanharam-me na cabeça, levei três pontos e também na zona da costela, no queixo, no nariz”, conta Feliciano Pinto, que afirma ter sido assistido no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures.

Apesar de ser conhecido pelas críticas que faz a quem governa a Guiné-Bissau, o activista não deixa de se mostrar surpreendido com a violência do ataque. “Aquilo foi tão brutal… Eu nunca estava a contar.” Depois da agressão, Feliciano Pinto conduziu para uma “zona mais segura” onde iniciou uma transmissão ao vivo nas redes sociais para denunciar o ocorrido.

Nas imagens, o activista aparece ainda com sangue a escorrer pela cara a contar os pormenores, mostrando o veículo danificado, nomeadamente com o vidro do lado do condutor estilhaçado.

“Eu estava a sangrar e a explicar o caso às pessoas”, conta o activista, numa transmissão que conta já com mais de 190 mil visualizações. Ao todo, o activista tem mais de 31 mil seguidores no Facebook.

Os autores da agressão são até agora desconhecidos, mas Feliciano Pinto acusa o Governo guineense de estar por trás do ataque. “Eu sei que isto é mais uma perseguição política", denuncia, justificando o facto por ser "uma das pessoas que faz mais denúncias" do que está a acontecer na Guiné-Bissau, nomeadamente a relação entre o Governo guineense e esquemas de tráfico de droga.

“Porque tenho alcance e porque tenho informações”, esta agressão não é uma mera agressão, garante ao PÚBLICO o Kanhota di Povo. “O objectivo deles não era para bater, o objectivo era para matar”, acusa.

Dentro da Guiné-Bissau, vários activistas da oposição, maioritariamente ligados ao PAIGC, e também de organizações de defesa de direitos humanos têm acusado o Presidente Umaro Sissoco Embaló, de perseguição, quer pela via judicial, quer por ameaças dos apoiantes.

Um dos últimos a sofrer na pele esse tipo de perseguição é o antigo presidente da Liga Guineense de Direitos Humanos (LGDH), o conhecido advogado defensor dos direitos humanos Luís Vaz Martins, obrigado a esconder-se no início do mês de Dezembro por ter recebido ameaças de morte após denunciar, em comentários na rádio, a corrupção e as alegadas ligações do Governo ao crime organizado.

Em Maio deste ano, a mesma LGDH denunciou situações de tortura em manifestantes presos depois de protestos pacíficos, que levaram a mais de 90 detenções.

Apesar do ataque, Feliciano Pinto garante que vai “continuar a andar” e “continuar a falar”, especialmente nas suas transmissões ao vivo em que, conta, costumam estar mais de três mil pessoas a ver em directo.

O activista afirma ter participado o caso à PSP, e que pretende avançar com uma queixa. Contactada pelo PÚBLICO, a esquadra da PSP de Odivelas não comentou a ocorrência do caso.

“Eu sou activista, ninguém pode calar-me”, afirmou Feliciano Pinto. “Estou a lutar pelo meu país”.

Sugerir correcção
Ler 7 comentários