Museu com colecção de arte de Armando Martins é inaugurado em Março de 2025
No mesmo edifício do século XVIII, integralmente restaurado, será também instalado um hotel de cinco estrelas. Para a direcção do museu foi convidada a historiadora de arte e curadora Adelaide Ginga.
O Museu de Arte Contemporânea Armando Martins (MACAM), em Lisboa, que reunirá centenas de obras do coleccionador, abre a 22 de Março de 2025, com um hotel de cinco estrelas no mesmo edifício histórico, anunciaram os promotores.
A inauguração do museu, instalado no Palácio Condes da Ribeira Grande, na Rua da Junqueira, será marcada por três dias de actividades comemorativas, com entrada gratuita para o público, segundo um comunicado enviado à agência Lusa.
De acordo com os responsáveis pelo projecto, o MACAM funcionará com "um conceito inovador que junta no mesmo espaço um museu e um hotel de cinco estrelas, o primeiro do género em Portugal e na Europa", referem.
Inicialmente com inauguração prevista para 2021, a abertura foi adiada para o primeiro semestre deste ano, um atraso justificado com constrangimentos ditados pela pandemia da covid-19 e agravados pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, assim como a complexidade do projecto de reabilitação e adaptação do edifício histórico onde ficará o museu, que remonta ao início do século XVIII.
O MACAM terá um total de 13 mil metros quadrados, com cerca de dois mil metros quadrados de espaço expositivo, seguindo o projecto liderado pelo atelier de arquitectura português MetroUrbe, que reabilitou o palácio para as suas novas funções, procurando preservar e restaurar várias áreas e materiais do edifício, ainda segundo os seus promotores.
Foi criada uma nova ala que liga o palácio ao espaço expositivo, cuja fachada - premiada em Fevereiro na edição anual dos Surface Design Awards, em Londres - está coberta por uma série de azulejos tridimensionais da autoria da artista portuguesa Maria Ana Vasco Costa, inspirada na tradição portuguesa do fabrico deste revestimento cerâmico.
Para o espaço do MACAM foram convidados três artistas a desenvolver obras site-specific: o artista espanhol Carlos Aires, o escultor português José Pedro Croft e a artista canadiana Angela Bulloch.
Para a antiga capela, Carlos Aires concebeu uma instalação "inspirada no diálogo ambíguo entre a espiritualidade e a brutalidade da guerra", enquanto José Pedro Croft criou uma intervenção escultórica de grande dimensão composta por três elementos ovais em aço e vidro colorido para o terraço nascente da fachada do palácio.
No outro terraço da fachada, a poente, ficará uma obra concebida por Angela Bulloch, uma peça vertical e colorida de cinco poliedros irregulares de aço inoxidável pintado, "que funcionam como uma ilusão de ótica num jogo lúdico, bi ou tridimensional, dependendo da posição do observador".
O projecto terá como mote The House of Private Collections ("A Casa das Colecções Privadas"), segundo o comunicado, e irá convidar outros privados a mostrarem as suas colecções no espaço expositivo do MACAM, na linha dos objectivos do fundador para o museu, o empresário português Armando Martins.
"Espero que este projecto possa ser útil e dar um contributo à cidade de Lisboa, à cultura e a quem nos visita", afirma o empresário, presidente do Grupo Fibeira, da área do imobiliário, da hotelaria e dos serviços, citado no comunicado.
Para a direcção do museu foi convidada a historiadora de arte e curadora Adelaide Ginga.
A data de abertura foi escolhida para coincidir com o aniversário de Armando Martins, cuja colecção pessoal de arte reúne mais de 600 obras, desde o final do século XIX até à actualidade.
Esta data coincide também com o dia de aquisição da primeira obra de arte original da colecção - 22 de Março de 1974 -, de um português, Rogério Ribeiro. A aquisição pelo empresário passou depois a ser mais intensa nos anos de 1980, particularmente de arte portuguesa contemporânea do século XX, estendendo-se em seguida a artistas estrangeiros.
A colecção de Armando Martins reúne obras de artistas como Paula Rego, Maria Helena Vieira da Silva, José Malhoa, Amadeo de Souza-Cardoso, Almada Negreiros, Eduardo Viana, Pedro Cabrita Reis, Julião Sarmento, Rui Chafes, José Pedro Croft e Lourdes Castro, entre outros.
Quanto a artistas estrangeiros, estão representados na colecção Gilberto Zorio, John Baldessari, Albert Oehlen, Olafur Eliasson, Marina Abramovic, Antoni Tàpies, Antonio Ballester Moreno, Juan Muñoz, Santiago Sierra, Carlos Aires, Pedro Reyes, Carlos Garaicoa, Ernesto Neto, Marepe, Rosângela Rennó, Vik Muniz ou Isa Genzken.
Algumas das obras da colecção de Armando Martins já foram cedidas para exposição em espaços museológicos como o Museu Nacional de Soares dos Reis e o Museu de Serralves, no Porto, o Museu Calouste Gulbenkian, o Museu de Arte Arquitectura e Tecnologia, o Museu Nacional de Arte Contemporânea e o antigo Museu Colecção Berardo, em Lisboa, assim como para o Museu Rainha Sofia, em Madrid, entre outras instituições.
Quanto ao MACAM Hotel, de cinco estrelas, será dirigido por Vera Cordeiro, e irá dispor de 64 quartos com obras de arte no interior, nos corredores e nos terraços exteriores, indica ainda o comunicado.
O complexo inclui um restaurante e uma cafetaria, um auditório e uma capela dessacralizada do século XVIII, totalmente restaurada, onde será instalado um Live Arts Bar, que irá receber durante todo o ano um programa de eventos culturais, concertos, leituras de poesia e sessões literárias.
Embora tenha seguido o seu gosto pessoal, o empresário recorreu, ao longo das décadas, ao aconselhamento de curadores e galeristas como Pedro Cera e Filomena Soares, entre outros.
A colecção de Armando Martins foi distinguida, em 2018, com um prémio da área do coleccionismo, pela Fundação ARCO de Madrid, em Espanha.