Num postal com votos de Ano Novo enviado a várias entidades, o biólogo e botânico Jorge Paiva cita Luís de Camões para assumir desilusão com a luta pelo ambiente que travou durante décadas. Este é o último postal que envia, o último de uma série de 35 postais.
“Camões é um valoroso e verdadeiro lírico, enquanto eu fui um 'lírico' irrealista”, lamenta o professor jubilado da Universidade de Coimbra, num postal com o título Ambiente e desilusão, onde dá os votos de boas festas e felicidades para 2025.
Jorge Paiva, de 91 anos, confessa um “desalento enorme” e afirma que “após mais de meio século de actividade cívica pelo ambiente e pela natureza”, tem agora “plena consciência de ter sido uma luta improfícua”. Estando Portugal a comemorar os 500 anos do nascimento de Camões, que estudou em Coimbra, e “sendo Os Lusíadas a sua obra mais estudada pelos alunos”, nas escolas e demais instituições onde proferiu 2500 palestras, o investigador recorda que os jovens “ficavam sensibilizados para o desastre ambiental do planeta”.
“É penoso chegar ao limiar da vida com a consciência de não ter conseguido resultados nenhuns e de que a 'gaiola' em que vivemos está imunda”, admite o ambientalista. Sugerindo aos governantes portugueses que considerem “fundamental estabelecer e incrementar o rápido ordenamento florestal do país”, Jorge Paiva informa que deixou “de ser um lírico”, tendo concluído que “não vale a pena continuar com a actividade cívica de educação ambiental”.