Montenegro “não gostou de ver” imagens do Martim Moniz, mas não vê desrespeito
Numa entrevista ao Diário de Notícias no 160.º aniversário do jornal, o primeiro-ministro fala essencialmente sobre a segurança do país e diz que “não gostou” de ver imagens, mas defende a polícia.
Luís Montenegro afirma que " há alguns indícios de que a criminalidade grave e violenta tenha tido algum agravamento", embora ainda não tenha acesso aos dados provisórios de 2024 e admite que não gostou de ver cidadãos serem encostados às paredes para serem revistados pela polícia. "No sentido visual, não gostei de ver. É uma situação anómala, que não é o dia-a-dia", afirmou, em entrevista ao Diário de Notícias. Porém, logo a seguir, o primeiro-ministro acrescenta que não viu "nenhum desrespeito pela dignidade das pessoas". Mas vinca uma mensagem clara: "Nunca fiz uma associação entre imigração e insegurança. E acho que ela não existe", disse, embora complete que "há criminalidade dentro da comunidade portuguesa e há criminalidade dentro da comunidade imigrante".
Numa entrevista dominada pelo tema da segurança, o primeiro-ministro insistiu que não falou "com ninguém, rigorosamente ninguém, nem antes, nem durante, nem depois da operação", mas o que lhe pareceu foi "uma medida de operacionalidade que não tinha alternativa". E afirma que já viu "muitas imagens daquelas" com rusgas em discotecas. Montenegro insistiu que "não há nenhum intuito, tenho a certeza absoluta, nas forças policiais e no Governo, de perseguição e de estigmatização de nenhuma comunidade".
Imigrantes como "novos portugueses"
Montenegro defende que o país irá precisar de imigrantes nos próximos "30, 40 anos", embora mantenha que o ideal é saber "o perfil das pessoas que precisamos e que possamos atraí-las", como o caso da construção civil. "Devemos olhar para os imigrantes que nos procuram, que se estabelecem e trabalham aqui, que trazem as suas famílias ou que cá constituem as suas famílias, como novos portugueses", acrescentou.
Questionado sobre o facto de a segurança estar tão presente na sua agenda, Montenegro defende que "a segurança é fundamental para que haja liberdade" e que "nunca se deve baixar a guarda". Além disso, o primeiro-ministro aponta a Suécia e a Bélgica como exemplos de países que "tinham bons índices de segurança e hoje são países com graves problemas" avisando que também em Portugal as coisas "podem descambar".
Para o primeiro-ministro, "as pessoas não precisam de ser alvo de crime para se sentir inseguras", uma vez que "basta assistirem a crimes que atingem outras pessoas".
Montenegro voltou a queixar-se da "profunda demagogia" de muitas "intervenções" que tem ouvido sobre a acção policial, acusando os seus autores de "profunda falta de ligação entre a realidade quotidiana das pessoas do país" em que "nem precisávamos de polícia porque estava tudo garantido". "Vivíamos todos na paz do senhor e não haveria nenhuma dificuldade para poder travar fenómenos criminais e fenómenos de desvio comportamental", ironizou.
Na Defesa, o primeiro-ministro admite antecipar ainda mais a meta de 2% do PIB em investimento nesta área, exigida pela NATO, e que Portugal aponta, actualmente, para 2029. "Quando assumi funções decidimos antecipar um ano o atingir dessa meta. Já tive a ocasião de dizer, e reitero aqui, que talvez tenhamos de recalendarizar este esforço", disse. "Desse ponto de vista, também não nos podemos deixar levar por aqueles que já começam a falar em 4% e 5% de forma transversal. Isso não é, sinceramente, adequado", ressalvou.
Quanto às presidenciais, Montenegro não quis comentar uma possível candidatura de Gouveia e Melo, e vincou que continua "empenhado", enquanto presidente do PSD, em defender um candidato que seja militante do partido e "suficientemente mobilizador do país, conhecedor do país e uma garantia de que seja uma mais-valia no exercício da função".