Em Nottingham, Nuno “descascou” Wood, um kiwi bem maduro
Chris Wood, avançado da Nova Zelândia, só aos 33 anos parece estar na melhor forma da carreira. Nuno Espírito Santo tem criado condições para explorar um jogador que faz do fora-de-jogo uma arte.
O Nottingham Forest está no segundo lugar da Liga inglesa. Para uns, poderemos falar da “Nunodependência” que vive o avançado Chris Wood, do Nottingham, que está na forma da sua vida aos 33 anos, numa equipa montada para si. Para outros, poderemos traçar a “Woododependência” que vive o treinador português, tão dependente deste avançado da Nova Zelândia – um kiwi, para os amigos.
Nuno é alguém cujos resultados estão a ser catapultados pelo terceiro jogador da Liga inglesa que mais supera o seu valor xG (golos esperados) – marcou 11 e “só deveria” ter marcado sete, em função da probabilidade de sucesso das finalizações.
É quase unânime que, por estes dias, ambos precisam um do outro – e neste domingo isso ficou provado mais uma vez, com um golo do avançado de 33 anos a permitir ao Nottingham Forest vencer (2-0) o Everton e subir provisoriamente ao segundo lugar do campeonato.
Pico tardio
Geralmente, os avançados demoram alguns anos para atingirem o seu pico de forma – alguns estudos apontam os 27 anos. Mas Chris Wood exagera na demora. Só chegou à Liga inglesa aos 25 anos e só agora, aos 33, parece estar a ser explorado por inteiro.
Mas isto não é necessariamente desprovido de nexo. O pico tardio dos avançados pode estar relacionado com a ideia de que marcar golos tem mais que ver com sabedoria do que com talento – e a sabedoria vem da experiência.
O que se tem passado com Chris Wood na pacata cidade de Nottingham atesta essa tese – e uma outra que poderá dizer-nos que quem marca golos não é o pé do jogador: é a cabeça.
Esta premissa pode ser muito literal, se considerarmos que Chris Wood já tem 11 golos marcados e quatro deles foram de cabeça – ninguém marca mais dessa forma nesta temporada e já na anterior foi assim.
Mas a premissa também é mais metafórica na medida em que o avançado da Nova Zelândia é uma boa prova de que quem marca golos não é o pé do jogador, é o movimento – ou o cérebro/cabeça, se quisermos.
Inzaghi da Nova Zelândia
Olhando para Wood, um “pinheiro” de 1,91 metros e 94 quilos, é fácil adivinhar que o Forest cruza bastante e explora o jogo de área e o poder aéreo até à exaustão – até pelos golos de cabeça que ele marca. Mas isso não é exactamente assim.
O Forest até é a quarta equipa da Liga inglesa que menos cruzamentos faz por jogo. E este dado surpreendente tem de esconder mais qualquer coisa.
Essa coisa leva-nos ao perfil de Wood, que está longe de ser um jogador de contacto. Apesar do porte físico, o próprio avançado chegou a assumir que nunca foi forte nos duelos e isso leva-o a fugir dessa dimensão do jogo.
Numa encarnação de Filippo Inzaghi, Wood tem cunhado um estilo próprio, assente numa ideia aparentemente simples.
O seu movimento “de assinatura” é começar em posição de fora-de-jogo, ficar no ângulo morto do central e apostar tudo no timing em que aparece em jogo e se desmarca. Trata-se de fugir dos adversários, mais do que pedir cruzamentos e lutar com eles.
Finaliza de primeira
A “brincadeira” corre mal muitas vezes? Corre – e por isso é que é o segundo jogador da Liga inglesa mais vezes apanhado em fora-de-jogo. Mas quando corre bem é provável que ele apareça sozinho para finalizar. E isso leva-nos aos golos que ele tem marcado.
Wood tem o valor mais alto de remates de primeira na Liga inglesa e um valor também bastante alto, diz o The Athletic através da Opta, de oportunidades de golo sem defensores por perto. É o jogador com maior percentagem de remates sem oposição por perto, o que atesta a sagacidade de Wood nos movimentos que faz.
Neste domingo, não foi diferente: finalizou sem oposição e de primeira, num belo “chapéu” a Pickford.
De cabeça ou com o pé, é provável que quem veja o Nottingham veja Wood a finalizar sem oposição, depois de ludibriar um adversário. Nunca pelo drible, sempre pelo movimento. Nem sempre com o pé, mas sempre com o cérebro.