A roupa pode mudar de cor para se adaptar à temperatura? Cientistas dizem que sim

Investigadores da Universidade de Tsinghua, na China, desenvolveram um tecido inteligente capaz de se regular tanto para manter o têxtil quente em dias frios como arrefecer nos dias mais quentes.

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Adaptar os têxteis às flutuações de temperatura é uma das formas de facilitar a sobrevivência humana Manuel Roberto
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O cenário não é animador: as temperaturas elevadas do planeta, derivadas da emissão de gases com efeito de estufa para a atmosfera, já põem em perigo diversas espécies, ecossistemas e o bem-estar do ser humano. As alterações climáticas estão a forçar o ser humano a desenvolver soluções para lidar com a maior intensidade e frequência de fenómenos extremos como as ondas de calor. Uma destas adaptações pode ser a roupa que usamos no dia-a-dia.

“É essencial desenvolver uma tecnologia de gestão térmica adaptativa e inteligente da temperatura para fazer face às flutuações das condições ambientais”, descrevem os investigadores no estudo publicado na revista Science Advances. “Além disso, esta tecnologia inteligente de gestão térmica adaptativa deve ter a capacidade de alternar entre os modos de arrefecimento e aquecimento à medida que a temperatura ambiente se altera”.

Investigadores da Universidade de Tsinghua, na China, desenvolveram um têxtil que muda de cor consoante a temperatura externa - o tecido inteligente (smart fabric, em inglês). Este têxtil é carregado com microcápsulas termocrómicas, ou seja, que mudam de cor sob determinadas temperaturas e revestido com óxido de grafeno, um excelente condutor de calor, e sulfato de bário, com aplicações na indústria química e na radiologia.

Para os dias mais frios, o tecido preto absorve a luz solar e armazena-a, ao contrário dos dias mais quentes onde o tecido, agora branco, reflecte a radiação solar e garante o arrefecimento da peça de roupa.

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Os têxteis adaptam-se à temperatur ambiente

Um passo na adaptação às alterações climáticas

No primeiro dia de Novembro, os investigadores fizeram uma demonstração desta tecnologia durante 12 horas em Beijing, na China. Colocaram um têxtil de 100 mm por 100 mm “em duas caixas térmicas para monitorizar directamente a temperatura”. Os investigadores conseguiram determinar a capacidade de arrefecimento durante as fases mais quentes do dia assim como de aquecimento através da absorção da luz solar, conseguindo, assim, regular a temperatura e adaptar o têxtil às flutuações de temperatura.

“A uma temperatura ambiente elevada, o tecido inteligente tem uma reflexibilidade solar elevada e uma emissão selectiva de 94% na janela atmosférica para realizar o arrefecimento radiactivo”, explicam os investigadores no estudo. “Proporciona um ambiente de conforto térmico de 19 a 28 graus Celsius para o corpo humano e o ambiente de vida, o que demonstra que o vestuário e as tendas preparadas com estes têxteis são capazes de se adaptarem à temperatura e de se adaptarem a todas as condições meteorológicas”, concluem.

No entanto, existem alguns desafios a ter em conta antes da comercialização deste produto. Actualmente, a produção deste tecido é muito dispendiosa para o “mercado em massa”, o que reforça a necessidade de optimizar o processo. É crucial entendermos as “preferências do utilizador” no que toca a “conforto, estética e funcionalidade” para garantir que este têxtil abrange o maior número de consumidores possíveis.

Os investigadores destacam, ainda, o potencial deste tecido para receber novas funcionalidades como “monitorização do estado de saúde do utilizador” ou “limpeza própria”.

China e a aposta na indústria têxtil adaptada ao clima

Em 2023, a Universidade de Nankai, na China, desenvolveu uma "roupa" que, através da energia solar e de um "sistema avançado de termorregulação" é capaz de aquecer o corpo humano quando está frio e arrefecê-lo quando está calor.

Este modelo conjuga um "módulo fotovoltaico flexível com unidades electrocalóricas para uma termorregulação personalizada e eficiente", segundo explicam os investigadores do estudo publicado na revista Science. O dispositivo proposto pela equipa chinesa pode ser integrado em roupas normais, do quotidiano, dando-lhes um aspecto futurista.

A ciência tem feito esforços para tornar a adaptação do ser humano às alterações climáticas mais fácil, mas o primeiro passo terá sempre de ser a diminuição das emissões com gases de efeito de estufa e a transição energética. Os têxteis têm um grande potencial no que toca a soluções avançadas de controlo de temperatura, mas não serão suficientes se as questões mais estruturais não forem abordadas.