Imigração qualificada provoca primeiras divisões entre apoiantes de Trump

No centro do debate estão os vistos H-1B, que permitem às empresas colocar nos Estados Unidos trabalhadores estrangeiros altamente qualificados e que Elon Musk tem defendido.

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Donald Trump ainda não se pronunciou sobre esta polémica Cheney Orr / REUTERS
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Se foi a oposição à imigração a unir muitos dos eleitores de Donald Trump, é também ela que provoca agora as primeiras divisões entre os apoiantes do Presidente eleito. A concessão de vistos a trabalhadores qualificados é uma das questões a gerar discórdia entre o multimilionário Elon Musk e a base mais conservadora da campanha Make America Great Again (MAGA).

No centro do debate estão os vistos H-1B, que permitem às empresas colocar nos Estados Unidos trabalhadores estrangeiros altamente qualificados. O sistema é muito utilizado em Silicon Valley e Elon Musk, um sul-africano que obteve este visto, é um fervoroso defensor da possibilidade de utilizar mão-de-obra estrangeira especializada.

Esta quinta-feira, o homem mais rico do mundo, aliado próximo e apoiante de Donald Trump, afirmou na rede social X, de que é proprietário: “Trazer os 0,1% melhores talentos de engenharia através da imigração legal é essencial para que a América continue a prosperar."

O milionário Vivek Ramaswamy, nomeado por Donald Trump para liderar juntamente com Elon Musk o futuro Departamento de Eficiência Governamental, uma comissão destinada a reduzir e redesenhar o Governo federal, também defendeu o recurso a trabalhadores estrangeiros.

“A nossa cultura americana venera a mediocridade em vez da excelência há demasiado tempo”, afirmou o empresário filho de pais indianos, defendendo uma “mudança radical” para poder competir com a China.

Uma nova nomeação de Trump foi o suficiente para provocar a discussão que agora opõe os empresários de Silicon Valley que defendem o uso de talento estrangeiro ao núcleo duro MAGA, que os acusam de minimizarem as conquistas tecnológicas dos Estados Unidos.

No início da semana, o Presidente que se prepara para o segundo mandato na Casa Branca nomeou Sriram Krishnan, empresário nascido na Índia, para o cargo de conselheiro sénior para a inteligência artificial na sua administração.

Laura Loomer, personalidade da ala mais radical do Partido Republicano, conhecida por promover campanhas de desinformação e estar ligada a movimentos de supremacia branca, foi uma das vozes a insurgir-se contra a nomeação "profundamente perturbadora" de Krishnan.

Loomer recorreu às redes sociais para denunciar o apoio do investidor aos vistos H-1B, considerando que entra em "directa oposição" à agenda de Donald Trump.

O ultraconservador Stephen Miller, o próximo chefe de gabinete adjunto de Donald Trump na Casa Branca, publicou no X um discurso do líder republicano de 2020 em que este elogia a “cultura” americana que tinha “dominado a electricidade, dividido o átomo, dado ao mundo o telefone e a Internet”.

Stephen Miller chamava assim a atenção para o facto de Donald Trump ter sido de novo eleito com base numa plataforma predominantemente anti-imigração, considerando também que os Estados Unidos não precisam de mão-de-obra estrangeira qualificada para alcançarem grandes feitos.

Na mesma rede social, Elon Musk respondeu na sexta-feira que a sua empresa de veículos eléctricos, a Tesla, recebeu o nome do inventor de origem sérvia que chegou aos Estados Unidos no final do século XIX e que se notabilizou precisamente na área da electricidade.

Na sua primeira campanha para a Casa Branca, em 2016, Donald Trump manifestou-se contra os vistos H-1B, que o próprio admitiu ter utilizado nas suas empresas, mas que descreveu como “muito injustos” para os trabalhadores americanos, tendo enquanto Presidente feito algumas restrições aos H-1B.

Donald Trump ainda não se pronunciou sobre esta polémica.