No FC Porto, Mora pode nem precisar da bola para trabalhar

O triunfo sobre o Boavista sugere algo para o futuro: é que Mora, pela tremenda qualidade técnica que tem, pode vir a ser um “engodo” de alto nível. “Dragões” saltam para liderança da Liga.

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FC Porto e Boavista em duelo no Dragão MANUEL FERNANDO ARAUJO / EPA
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Neste sábado, o Boavista levou ao Estádio do Dragão uma ideia que passava, em boa medida, por limitar o jogo entre linhas ao FC Porto, tirando Rodrigo Mora do jogo e forçando os portistas a explorarem a largura. E estava a haver sucesso nessa missão. Depois do jogo, o que há para dizer do triunfo do FC Porto, por 4-0, é isto: Rodrigo Mora acabou com... uma assistência e um golo.

Esta noite realça a complexidade de um jogo de futebol, já que Mora esteve tapado minutos a fio, teve vários erros técnicos e não conseguiu ser útil, mas focou em si muitas marcações que libertaram Pepê e Nico. E este paradoxo sugere algo para o futuro: é que Mora, pela tremenda qualidade técnica que tem, pode vir a ser um “engodo” de alto nível, já que atrai adversários e liberta espaço para os colegas.

Depois, com o jogo desbloqueado, pode ter espaço para fazer a diferença, porque é um jogador claramente diferente dos demais. E foi isso que aconteceu, numa partida que levou o FC Porto ao topo do campeonato, de forma isolada e na expectativa do que irá acontecer no derby de domingo, entre Sporting e Benfica.

Boavista subido

O Boavista levou ao Dragão um preceito já habitual e do qual não abdicou mesmo jogando contra o FC Porto. Falamos da linha defensiva bem alta, com a equipa distribuída em cerca de 30 metros, com pouco espaço entre os sectores.

Esta não é uma ideia de jogo surpreendente, já que, apesar de ser uma equipa afundada na tabela, há um motivo para que o Boavista seja a equipa da I Liga que mais bolas longas permite. O FC Porto resistiu a explorar as bolas longas no espaço, mas também não tinha como jogar por dentro.

As linhas boavisteiras tão juntas tiravam Mora do jogo e a partida foi pachorrenta até aos 24’ – ter Mora tapado e não haver Fábio Vieira (nem esteve no banco) a encontrar soluções de frente para o jogo também não ajudava a achar espaços.

A solução que o FC Porto aplicou para a falta de ideias foi... baralhar as ideias. Aos 25’, Pepê saiu do lado esquerdo e foi pedir a bola à direita, criando a superioridade numérica que deu as soluções para uma jogada mal finalizada por Samu.

Aos 31’, Pepê também saiu da sua zona e pediu mais baixo, atraindo um adversário que deixou uma “cratera” no meio-campo suficiente para Nico desequilibrar pelo meio, em drible e condução, antes de abrir na largura – houve cruzamento de Martim e finalização para golo de Samu.

Aos 44’, deu-se a mesma ideia, mas feita ao contrário do que tinha acontecido aos 25’: foi Franco a sair da direita para ir à esquerda criar superioridade e a jogada acabou com finalização de Martim e defesa de César.

Mora apareceu

Três lances de perigo, três lances com ideias muito semelhantes, pedindo a Franco e Pepê que saíssem da sua zona para desequilibrarem noutro local, criando superioridade inesperada nos corredores, abdicando de fazer o jogo passar pela zona central muito fechada.

Depois, um lance de bola parada, aos 55’, deu cruzamento de Mora para finalização de Nico, e um contra-ataque aos 59’ deu jogada individual de Mora para um grande golo do jovem de 17 anos. Samu, na sequência de uma jogada feita de primeira, a três toques, ainda marcou o 4-0 aos 88'.

No fim de contas, Pepê não marcou golo, não fez assistência e, em rigor, não foi sequer criador de oportunidades. Mas foi pelos pés – e sobretudo pelo cérebro – do jogador brasileiro que o FC Porto desbloqueou o jogo, entendendo os locais do campo que deveria pisar para ajudar a equipa a inventar soluções.

Também Nico teve um papel fundamental, com um golo, que dá sempre nas vistas, mas também com participações nas fases embrionárias do 1-0 e 3-0.

Depois, aconteceu Mora. E provavelmente vai acontecer mais vezes.

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