O que deve saber antes de comprar um telemóvel ou computador recondicionado?

Os produtos electrónicos recondicionados podem geralmente custar cerca de 15 a 20% menos do que se fossem comprados novos. Não comprar tecnologia nova também traz benefícios climáticos e ambientais.

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Optar por um smartphone recondicionado pode evitar a extracção de cerca de 80 quilos de recursos e cerca de 23 quilos de emissões que aquecem o planeta NARONG SANGNAK / EPA
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Se está a pensar comprar um novo telemóvel, computador portátil ou até um smartwatch, adquirir tecnologia recondicionada pode ser uma boa opção para poupar dinheiro e ajudar o planeta. "A maior diferença que as pessoas verão é que os produtos são mais baratos e, no entanto, têm as mesmas funcionalidades de algo que é novo", disse Lucas Gutterman, director da campanha norte-americana Designed to Last, do fundo para a educação do Grupo de Investigação para o Interesse Público (PIRG, na sigla em inglês), um grupo apartidário de defesa do consumidor nos EUA.

Lucas Gutterman defende que "manter algo a funcionar durante muito mais tempo vai permitir enormes poupanças ambientais em relação ao fabrico de algo novo". Eis o que precisa de saber sobre a compra de aparelhos recondicionados:

Por que razão deve comprar um produto recondicionado?

A tecnologia recondicionada refere-se normalmente a dispositivos usados que passam por um processo de inspecção profissional para garantir que funcionam como novos, embora a definição exacta varie consoante os retalhistas. Se estiver a comprar dispositivos descritos apenas como "usados" ou "em segunda mão", isso significa frequentemente que está a receber a tecnologia no estado em que se encontra.

Os produtos electrónicos recondicionados podem geralmente custar cerca de 15 a 20% menos do que se fossem comprados novos, com um desconto adicional de 10% por cada ano desde que o artigo foi originalmente vendido, de acordo com o PIRG. Isto significa que um tablet com três anos de idade pode custar cerca de metade do preço do modelo mais recente da mesma tecnologia.

Não comprar tecnologia nova também traz benefícios climáticos e ambientais. Comprar um smartphone recondicionado, por exemplo, pode ter um impacto ambiental cerca de 80 a 90 por cento menor do que comprar um dispositivo novo, de acordo com um relatório de 2022 publicado pela Équiterre, uma organização ambiental canadiana sem fins lucrativos.

Optar por um smartphone recondicionado pode evitar a extracção de cerca de 80 quilos de recursos e cerca de 23 quilos de emissões que aquecem o planeta, segundo o mesmo documento. Utilizar os aparelhos electrónicos durante mais tempo também evita que se juntem ao fluxo crescente de resíduos que acabam em aterros.

Deve preocupar-se com a qualidade?

Embora a compra de produtos electrónicos em segunda mão se tenha tornado mais popular, ainda pode haver uma "lacuna de confiança" entre os potenciais clientes, disse Lauren Benton, directora-geral nos Estados Unidos (EUA) da Back Market, um mercado global de produtos recondicionados com sede em Paris.

Lauren Benton comparou o crescente mercado de tecnologia recondicionada a carros usados, observando que os dispositivos vendidos por retalhistas verificados são normalmente sujeitos a rigorosos testes de qualidade e classificação em várias etapas. "Não se trata de um dispositivo em que falta um botão ou que vai ter um defeito conhecido", afirmou.

Antes de comprar, damos-lhe algumas dicas para avaliar as suas opções:

  1. Encontre retalhistas de confiança. "Desde que comprem num programa de recondicionamento certificado, as pessoas devem esperar obter algo que seja perfeitamente funcional, poupar muito dinheiro e proteger o ambiente", afirma Lucas Gutterman. A PIRG recomenda vendedores especializados em produtos recondicionados nos EUA, como a Back Market, a Gazelle, a VIP Outlet e a Decluttr. Os fabricantes originais podem ser outra fonte, embora o PIRG observe que esta opção é frequentemente a mais cara. Outros grandes retalhistas, como a Amazon, a Best Buy e a Walmart, também vendem tecnologia recondicionada.
  2. Saber o que se quer e procurar aparelhos que sejam feitos para durar e que possam ser reparados. "Comprar coisas que podem ser reparadas, que já foram concebidas para durar, será a melhor escolha", observa Lucas Gutterman. Pesquise a marca e o modelo do que está interessado em comprar. Existem recursos online que registam e avaliam a durabilidade e a capacidade de reparação da tecnologia. Tenha cuidado com a compra de artigos que utilizem software que já não é suportado ou tecnologia mais frágil, como televisores de ecrã plano ou monitores de secretária de grandes dimensões, que podem ter uma maior probabilidade de sofrer danos, alertou ainda. As impressoras também podem ser complicadas, porque a tinta pode acumular-se no interior e podem ser difíceis de limpar completamente. Deve também evitar artigos com pilhas que não possam ser substituídas.
  3. Leia as letras pequenas. Existem muitos termos utilizados para descrever o estado destes produtos, tais como "caixa aberta", "como novo" ou "renovado". " Infelizmente, podem significar coisas muito diferentes", explicou Lucas Gutterman. Leia atentamente os sites dos retalhistas para saber qual é o seu processo de inspecção e o que querem dizer quando utilizam estes termos diferentes.
  4. Seja realista quanto ao preço. Saiba quando é que o modelo foi lançado, porque os preços dos artigos renovados são muitas vezes definidos pelo ano em que o produto foi lançado, de acordo com o PIRG. Não se esqueça de comparar produtos e preços. "Se for demasiado bom para ser verdade e não se tratar de um mercado dedicado a este espaço, tenha cuidado", diz Lauren Benton. "Há dispositivos absolutamente fraudulentos que andam por aí."
  5. Avalie as políticas de devolução e de garantia. Muitos agentes de reparação legítimos podem oferecer uma janela de devolução mínima de 30 dias e uma garantia de pelo menos 90 dias, avisa Lucas Gutterman.

O que deve fazer depois de comprar?

Verifique o artigo imediatamente após a recepção, sugere ainda Lucas Gutterman. Certifique-se de que pode ser ligado, de que está tudo a funcionar e de que está em boas condições. Se estiver a substituir um dos seus artigos antigos, não o deite fora imediatamente nem o abandone numa gaveta, acrescenta Lauren Benton. Muitas vezes, o dispositivo que está a substituir ainda funciona. "Troque-o assim que já não o estiver a utilizar", disse, referindo que estes programas normalmente oferecem dinheiro em troca. "É necessário devolver o dispositivo para optimizar o seu valor e a sua vida útil", conclui a responsável da Back Market.

Exclusivo The Washington Post/PÚBLICO