SPMS abrem auditoria ao caso de criança que foi encaminhada para urgência fechada
Ministra nega que SNS 24 esteja a falhar na resposta à população: se a linha “não estivesse a dar resposta, admito que a situação era bem diferente daquela que temos neste momento.”
Os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) abriram uma auditoria interna para apurar as circunstâncias em que uma criança foi encaminhada por um operador da linha SNS24 para uma urgência que estava fechada, adiantou esta quinta-feira a ministra Ana Paula Martins. De acordo com a governante, “dentro de poucas horas, amanhã o mais tardar” haverá resultados dessa auditoria. Para já, a ministra da Saúde assumiu que terão existido problemas de comunicação entre o hospital em causa e a Linha de Saúde 24.
“Tenho conhecimento que esse caso aconteceu, já falei com a senhora presidente dos SPMS, que imediatamente accionou, já tinha accionado, aliás, uma auditoria interna para saber exactamente o que se passou”, referiu Ana Paula Martins, que falava aos jornalistas à margem de uma visita ao Hospital Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, que integra a Unidade Local de Saúde (ULS) do Arco Ribeirinho.
Em causa está o caso de uma criança que foi encaminhada para o serviço de urgência pediátrica do Hospital de Torres Vedras quando este serviço estava encerrado. De acordo com o relato da mãe da criança à Sic Notícias, depois de ter estado uma hora e meia em espera para ser atendida pelo SNS24, quando conseguiu falar com um profissional de saúde, recebeu a mensagem de que deveria levar o filho ao Hospital de Torres Vedras, unidade que a própria tinha já verificado estar encerrada, como constava do site da ULS Oeste.
Da linha terão insistido que não era esse o caso e, por isso, que levasse o filho o quanto antes para ser observado. Contudo, a mãe não procedeu dessa forma e deslocou-se a outra unidade de saúde, a 40 quilómetros de casa.
“Do pouco que sabemos, queria salientar que parece ter havido uma falha de comunicação entre o hospital e a linha. Quem está na linha a atender e a fazer a triagem [dos utentes] tem de saber que aquele hospital já não está a conseguir receber doentes pediátricos ou doentes emergentes”, referiu esta quinta-feira a ministra da Saúde, indiciando que tal não terá ocorrido. “Essa informação tem de ser colocada no sistema para que quem está do outro lado possa, quando olha para o ecrã e atribui um nível de prioridade, de acordo com a região onde a pessoa está, saber para onde pode enviar a pessoa”, resumiu.
Questionada pelos jornalistas sobre a ineficiência do SNS 24, dado o número de casos de espera prolongada que têm vindo a público por estes dias, Ana Paula Martins sublinhou: “Não diria que a linha SNS 24 não está a dar resposta porque se ela não estivesse a dar resposta admito que a nossa situação era bem diferente daquela que temos neste momento.”
Natal com 13 urgências fechadas
“Nem que seja só um caso, tem de nos preocupar”, acrescentou ainda a governante, para defender: “O importante é perceber onde há falhas para podermos corrigi-las.” Apesar disso, deixou uma mensagem de confiança no sistema e adiantou que o Ministério da Saúde está a trabalhar num balanço relativo aos dias 23, 24 e 25 de Dezembro. “Ainda não está feito, só amanhã [sexta-feira] e faremos uma nota à imprensa com o número de atendimentos, com os encaminhamentos do SNS24, e a comparação com o ano anterior, que também é importante”, garantiu.
Ana Paula Martins não deixou, contudo, de notar a “sobrecarga na linha” já que, “de repente, de um ano para o outro”, se passou a ter uma linha de saúde “que respondia a quem telefonava, naturalmente, e que tinha dois ou três projectos de ‘Ligue Antes, Salve Vidas’ e hoje tem mais de 20 projectos pelo país inteiro”, além do projecto-piloto de referenciação nas urgências obstétricas que está em curso na região de Lisboa e Vale do Tejo, Leiria e Caldas da Rainha.
Neste feriado de Natal, alguns serviços de urgência hospitalares estiveram com mais de oito horas de espera, sendo que 13 urgências estiveram mesmo fechadas ou condicionadas, de acordo com um balanço feito pela RTP. Em declarações à estação televisiva, o director executivo do SNS, António Gandra d'Almeida garantiu que “vai haver resposta a todas as necessidades da população portuguesa em termos de urgência e emergência”.
“Foram contratados todos [os médicos prestadores de serviços] que tiveram disponibilidade. Aquilo que foi possível fazer, para contratar e trazer os colegas para virem trabalhar, foi feito. Todo o esforço foi feito”, assegurou aos jornalistas.
Mas tal não foi suficiente para evitar falhas nas escalas dos hospitais que levaram, subsequentemente, ao fecho de serviços de urgências durante esta quadra festiva. O PÚBLICO questionou o Ministério da Saúde e a Direcção Executiva do SNS sobre que garantias dá de que este cenário não se vai repetir já na próxima semana, quando se festeja a passagem de ano, mas não obteve resposta até ao momento.