Israel volta a atacar alvos houthis no Iémen e mata seis pessoas

Director-geral da OMS é uma das testemunhas dos ataques israelitas que atingiram o Aeroporto Internacional de Sanaa, entre outros alvos no Iémen.

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Iemenita carrega imitação de míssil em manifestação de solidariedade com a Palestina, em Sanaa, a 25 de Dezembro YAHYA ARHAB / EPA
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As Forças de Defesa de Israel voltaram a atacar o Iémen esta quinta-feira, 26 de Dezembro, tendo atingido vários alvos houthis e provocando pelo menos seis mortes. Aeroporto Internacional de Sanaa foi um dos locais atingidos.

Em comunicado sobre os últimos ataques ao Iémen, o Exército israelita afirmou que, além do aeroporto, também atingiu infra-estruturas militares nos portos de Hodeidah, Salif e Ras Kanatib, na Oeste do país, assim como as centrais eléctricas de Hezyaz e de Ras Kanatib.

Segundo o canal Al-Masirah, detido pelos houthis, pelo menos três pessoas morreram no ataque ao aeroporto e outras três foram mortas na cidade portuária de Hodeidah, controlada pelos rebeldes. Mais de 40 pessoas ficaram feridas.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), que se deslocou ao Iémen para negociar a libertação de funcionários das Nações Unidas (ONU) e avaliar a situação humanitária no país, estaria prestes a embarcar no aeroporto de Sanaa quando este foi atacado por Israel.

"Estávamos prestes a embarcar no nosso voo em Sanaa, há cerca de duas horas, quando o aeroporto foi alvo de bombardeamentos aéreos. Um dos membros da tripulação para o nosso voo ficou ferido", relatou o líder da OMS nas suas redes sociais esta tarde, garantindo que os membros da delegação da ONU estão a salvo. "Teremos de esperar até que os danos no aeroporto sejam reparados para podermos partir."

Segundo detalhou, o ataque terá causado estragos na torre de controlo de tráfego aéreo do aeroporto, numa das zonas de embarque e na pista de descolagem.

O membro da tripulação do avião da delegação, que trabalha para o Serviço Aéreo Humanitário da ONU, sofreu ferimentos graves mas está a recuperar no hospital, segundo contou um porta-voz da OMS à Reuters.

Em reacção, os rebeldes iemenitas, que têm disparado dezenas de mísseis em direcção a Israel, já garantiram estar prontos para dar uma resposta rápida à ofensiva israelita e enfrentar "escalada [da violência] com escalada". Vários dos seus aliados, incluindo o Hamas e o Hezbollah, também condenaram os ataques, denunciando-os como uma "continuação da guerra sionista contra o mundo árabe".

Já do lado israelita, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, avisou que Israel está "só a começar" a sua campanha contra os houthis e que se mantém "determinado a acabar com este braço terrorista do eixo do Irão".

Para o Governo israelita, os ataques ao Iémen servem também para deixar mensagens ao chamado "eixo da resistência", aliança liderada pelo Irão que inclui o Hezbollah, o Hamas, as forças de mobilização popular no Iraque e várias milícias sírias, além dos houthis.

Nesta quarta-feira, os houthis lançaram um míssil balístico dirigido ao Centro de Israel, o décimo contra essa região num período de dez dias, mas que acabou por ser interceptado pelas Forças de Defesa de Israel (IDF).

Ainda que a maioria dos mísseis iemenitas não cheguem a atingir solo israelita, no passado sábado um desses disparos conseguiu contornar o complexo sistema de defesa aérea israelita e caiu na zona de Telavive, ferindo 14 pessoas. Na semana anterior, Israel já tinha atacado Sanaa e Hodeidah e provocado nove mortes, em ataques justificados como resposta às ofensivas dos rebeldes.

Há mais de um ano que os houthis apontam armas a Israel, no que defendem como actos de resistência e solidariedade com o povo palestiniano. Uma das suas principais estratégias tem sido o ataque a navios israelitas ou com ligação a Israel que navegam no mar Vermelho e no golfo de Áden, junto à costa do Iémen, tendo já motivado retaliações militares de dois dos principais aliados de Israel: os Estados Unidos e o Reino Unido.

Guterres "alarmado" com ataques de Israel ao Iémen

O secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou-se esta quinta-feira "alarmado" pelos ataques israelitas no Iémen e condenou o que designa como "escalada" das tensões entre os dois países.

"Os ataques aéreos israelitas ao Aeroporto Internacional de Sanaa, aos portos no mar Vermelho e às centrais eléctricas no Iémen são particularmente alarmantes (...) e representam graves ameaças às operações humanitárias", lê-se num comunicado emitido por Stéphane Dujarric,​ porta-voz do líder das Nações Unidas.

"Os bombardeamentos terão causado dezenas de feridos", entre eles "um membro da tripulação do Serviço Aéreo Humanitário da ONU", sublinhou, referindo-se ao voo em que Tedros Adhanom Ghebreyesus se preparava para embarcar.

António Guterres salientou que o "direito internacional — incluindo o direito humanitário, conforme aplicável — deve ser respeitado em todas as circunstâncias" e deixou apelos para que todos "respeitem e protejam os civis e as infra-estruturas civis", assim como as equipas de ajuda humanitária, e "cessem todas as operações militares".

com André Certã

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