Morreu Ney Latorraca, que marcou o teatro e a televisão brasileiros com o seu humor

Numa carreira que começou aos seis anos, distinguiu-se em telenovelas como Vamp, Zazá, O Cravo e a Rosa ou O Beijo do Vampiro.

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Ney Latorraca morreu aos 80 anos vítima de uma sépsis pulmonar, na sequência do tratamento a um cancro da próstata Zo Guimarães/Folhapress
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Ney Latorraca, actor brasileiro conhecido pela sua verve irónica e pelo seu humor refinado, morreu, aos 80 anos, na manhã desta quinta-feira. Estava internado há seis dias na Clínica São Vicente, na zona sul do Rio de Janeiro. Foi vítima de uma sépsis pulmonar, na sequência do tratamento a um cancro da próstata. A notícia foi confirmada pelo hospital.

Antonio Ney Latorraca nasceu em Santos, no litoral do estado de São Paulo, em 1944. Filho de cantores de casino, começou o seu percurso artístico aos seis anos, quando participou numa radionovela da rede brasileira Record. Fez sua estreia nos palcos em 1964, numa encenação de Pluft, O Fantasminha, de Maria Clara Machado, também em Santos.

Pouco depois, partiu para São Paulo e foi atrás de grandes nomes do teatro dos anos 1960, como Flávio Rangel, Maria Della Costa, Cacilda Becker ou Walmor Chagas. Participou em Reportagem de um Tempo Mau, de Plinio Marcos, mas a peça foi censurada e teve só uma encenação, no Teatro de Arena, na região central de São Paulo.

Ao longo da década de 1960, teve pequenos papéis em novelas como Beto Rockfeller, Super Plá ou Audácia, a Fúria dos Trópicos e participou em produções de teleteatro da rede de televisão pública TV Cultura, como Yerma.

Em 1967, entrou para a Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo, onde se formou em 1969. Nesse ano, encenou O Balcão, de Jean Genet, dirigido por Victor Garcia. Nos anos 70, entrou nos musicais Hair e Jesus Cristo Superstar. Ainda no início da década, foi contratado pela TV Record, que o colocou em cinco novelas.

Em 1975, fez a sua estreia na Globo, na novela Escalada, de Lauro César Muniz, no papel do playboy Felipe. No ano seguinte, encarnou o rebelde Mederiquis da novela Estúpido Cupido: a sua personagem só se vestia de preto e circulava numa lambreta baptizada pelo actor de Brigitte. Na década de 1980 passou por várias novelas e minisséries, como Coração Alado, Avenida Paulista ou Grande Sertão: Veredas, esta última a partir do romance homónimo de João Guimarães Rosa, obra seminal da literatura brasileira.

No teatro, dedicou-se a Rei Lear, de Shakespeare, em 1983 e, três anos depois, começou a participar naquele que viria a ser um dos grandes sucessos da sua carreira – o espectáculo O Mistério de Irma Vap, exemplar do chamado “teatro besteirol”, movimento teatral brasileiro da década de 80 caracterizado pelo humor anárquico e pelo rompimento com a cultura dita erudita. A peça esteve 11 anos ininterruptos em cartaz.

No final dos anos 1980, Latorraca protagonizou um dos seus papéis mais populares e marcantes: o velhinho Barbosa, do programa de televisão humorístico TV Pirata, transmitido pela Globo. "Quando era o Barbosa, nunca imaginei que seria aquele sucesso. Ninguém esperava que aquilo fosse funcionar como uma mudança [no humor]", disse o actor em entrevista à Folha de S. Paulo, em 2007.

Já na década de 1990, distinguiu-se como o Conde Vlad de Vamp (1991), em que contracenou com a cantora e actriz Claudia Ohana. No currículo das novelas, destacam-se também as participações em Zazá (1997), ao lado de Fernanda Montenegro, O Cravo e a Rosa (2000), O Beijo do Vampiro (2002) ou Da Cor do Pecado (2004). No cinema, entrou em filmes como O Beijo no Asfalto (1980), Ópera do Malandro (1982), Ele, o Boto (1986) ou Carlota Joaquina (1995). Com PÚBLICO

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