Psiquiatra saudita islamófobo suspeito pelo ataque no mercado de Natal em Magdeburgo

O motivo que levou um homem a atropelar centenas de pessoas num mercado de Natal na Alemanha ainda estão por apurar, mas o suspeito era autor de várias publicações críticas do islão.

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Homenagem às vítimas do ataque no mercado de Natal de Magdeburgo Christian Mang / REUTERS
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As autoridades alemãs continuam a tentar apurar os motivos que levaram um médico psiquiatra saudita de 50 anos a viver há quase duas décadas na Alemanha a atropelar centenas de pessoas que se encontravam num mercado de Natal na cidade de Magdeburgo na sexta-feira à noite.

A polícia alemã identificou o suspeito do ataque que matou pelo menos cinco pessoas e feriu mais de 200 apenas como Taleb A., um médico saudita de 50 anos que vivia na Alemanha desde 2006. O procurador Horst Nopens disse neste sábado que os motivos para o ataque ainda estão por apurar, mas citou o “descontentamento [do suspeito] com o tratamento dado aos refugiados provenientes da Arábia Saudita” na Alemanha.

A imprensa alemã tem referido várias publicações feitas pelo suspeito nas redes sociais de teor anti-islão e com notória simpatia por algumas das ideias do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que defende fortes restrições à imigração.

Nas suas publicações, Taleb critica a política de portas abertas da ex-chanceler Angela Merkel, que em 2015 decidiu permitir a entrada de mais de um milhão de refugiados sírios que fugiam à guerra civil no seu país, acusando-a de “islamizar” a Alemanha. Em 2016, depois de ter recebido asilo, o homem anunciou ter renunciado à fé islâmica e apresentou-se como um crítico radical daquela religião, denunciando, por exemplo, o tratamento dado às mulheres no seu país de origem.

Nos últimos anos, havia desenvolvido um trabalho de apoio à fuga de sauditas e ex-muçulmanos dos seus países para a Europa, chegando a ser entrevistado por vários órgãos de comunicação. Numa entrevista ao Frankfurter Allgemeine Zeitung, em 2019, dizia que “não existe um bom islão”. Também chegou a manifestar apoio publicamente à AfD, embora não esteja confirmada qualquer filiação partidária.

As publicações que fazia mais recentemente insistiam na tese de que as autoridades alemãs estariam a agir em conluio com o Governo saudita contra os refugiados daquele país, denunciando alegadas “operações secretas”. “Asseguro-vos: se a Alemanha quer guerra, irá tê-la. Se a Alemanha quer matar-nos, iremos massacrá-los, morrer ou orgulhosamente ir para a prisão”, escrevia o homem em Agosto na rede social X.

A ministra do Interior, Nancy Faeser, afirmou que o suspeito pelo ataque de Magdeburgo é “claramente” islamófobo.

Alertas de segurança

O perfil do suspeito tem causado alguma surpresa nos especialistas. “Após 25 anos neste ‘negócio’, pensar-se-ia que já nada me poderia surpreender”, disse à Euronews o director do Centro Internacional para o Estudo da Radicalização e Violência Política do King’s College de Londres, Peter Neumann. “Mas um ex-muçulmano saudita de 50 anos a viver no Leste da Alemanha, que adora a AfD e quer punir a Alemanha pela sua tolerância em relação a islamistas — isso não estava no meu radar”, afirmou o analista.

As autoridades sauditas emitiram várias alertas ao longo dos anos junto das congéneres alemãs acerca de Taleb por causa das suas posições extremistas conhecidas publicamente, de acordo com uma fonte saudita citada pela Reuters. Segundo o jornal Die Welt, uma avaliação do risco de segurança feita pelas autoridades criminais alemãs feita no ano passado concluiu que o homem não representava “um perigo específico” para a segurança nacional.

Em Magdeburgo, cidade no centro da Alemanha, o dia foi de luto e de homenagens às vítimas do ataque. O chanceler alemão, Olaf Scholz, visitou a cidade e o local do atentado, denunciando o “terrível acto” e a “brutalidade” do seu autor. O chefe do governo do estado da Saxónia-Anhalt, Reiner Haseloff, lamentou o “incidente inimaginável” que chocou a comunidade.

Foi às 19h02 (menos uma hora em Portugal continental) de sexta-feira que foi realizada a primeira chamada para os serviços de emergência a dar conta de vários atropelamentos no mercado de Natal no centro de Magdeburgo. Um carro tinha acabado de abalroar a multidão que ali se encontrava.

Segundo a polícia, o condutor entrou na zona pedestre onde estava montado o mercado através de uma via reservada a veículos de emergência. Pelo caminho, várias pessoas foram atropeladas antes de o automóvel, um BMW preto, regressar à rua onde parou no trânsito e foi detido. O incidente durou pouco mais de três minutos, de acordo com as autoridades.

Entre as cinco vítimas mortais confirmadas, está uma criança de nove anos, mas há receios de que este número aumente. Mais de 200 pessoas ficaram feridas, mas, entre estas, pelo menos 41 estão em estado considerado grave.

O ataque ocorre numa altura politicamente sensível na Alemanha, a menos de dois meses de eleições legislativas em que se espera que a imigração e a segurança sejam temas no topo das preocupações dos eleitores. As sondagens atribuem à AfD um bom resultado, embora os principais partidos rejeitem negociar qualquer tipo de coligação com a extrema-direita.

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