Pedro Sobral, o “optimista indefectível” que queria que os livros chegassem às mãos de todos

Começou na área financeira, mas foi aos livros que dedicou esforço e entusiasmo, lutando por uma visão inclusiva da literatura e procurando formas de combater os baixos índices de leitura em Portugal.

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Pedro Sobral integrou primeiro o Grupo Almedina, passando depois para a Leya quando da fundação desta, em 2008. Morreu este sábado vítima de atropelamento quando circulava de bicicleta Enric Vives-Rubio
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Alguém que “acreditava profundamente que todos os livros, qualquer que fosse o género literário, eram um instrumento crítico para aumentar a compreensão do mundo e do Outro”. Um agente do universo livreiro que tinha a liberdade de expressão como valor fundamental, muito empenhado, num país onde de parcos hábitos de leitura, em que “cada vez se editassem mais livros” e que “se encontrasse forma de os fazer chegar às mãos das pessoas, em particular das gerações mais novas”. Assim o descreve Ana Rita Bessa, CEO da Leya.

Alguém que lutava por “uma visão inclusiva da literatura”, um “inovador” com “uma vontade enorme de abraçar o futuro”, assim o recorda Clara Capitão, directora editorial da Penguin Random House e membro da direcção da Associação Portuguesa e Editores e Livreiros (APEL). Falam de Pedro Sobral, director-geral de Edições do Grupo Leya e presidente da APEL, que perdeu a vida este sábado, aos 51 anos, vítima de atropelamento junto à Cordoaria Nacional, em Lisboa.

Licenciado em Economia e Ciência Política pela Universidade Católica de Lisboa, iniciou o seu percurso profissional na área financeira. Seria aos livros, porém, que dedicaria o seu esforço e entusiasmo. Primeiro na Almedina, enquanto director de marketing e vendas, e, a partir de 2008, na Leya, que integrou desde a fundação.

“Fez um notável trabalho como presidente da APEL e fará muita falta ao sector de livro em particular e da Cultura em geral", assinala em nota de pesar o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. "Apresentou-nos uma nova forma de trabalhar o sector e, com base em estudos e abordagens inovadoras, desenhava uma estratégia assente no trabalho em conjunto para criar mudanças significativas e estruturais no sector do Livro", escreveu o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, em nota enviada à imprensa. “Reconhecido quer pelo seu espírito crítico e empreendedor, quer pela sua dinâmica aberta ao diálogo, no mercado editorial e livreiro, Pedro Sobral será lembrado pelo seu percurso dedicado aos livros e à importância dos hábitos de leitura no nosso país”, escreve a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, na sua nota de pesar.

A dedicação aos livros é, de resto, destacada por quem com ele trabalhou na APEL, bem como a forma como procurava construir pontes e abrir-se a novas perspectivas, sempre com o foco no crescimento do livro e da sua leitura no país. A sua prioridade, nota Clara Capitão, passava “por fomentar os índices de leitura, não só para que o sector seja vibrante e próspero, mas também para a construção de uma sociedade mais equilibrada e mais justa”. Daí a sua luta para o reforço dos orçamentos das bibliotecas públicas, essenciais para que barreiras económicas não sejam entrave ao acesso aos livros, e pela implementação do cheque livro em Portugal, programa que se tornou realidade em Novembro, ou a forma como se bateu, com sucesso, pela realização das Feiras do Livro durante a pandemia.

“Corajosamente defensor da liberdade de expressão, valor tão superior que tinha de ser preservado mesmo que trouxesse polémicas e problemas com segmentos da nossa sociedade” – “acreditava que desse debate viria luz e entendimento”, nota Ana Rita Bessa —, Pedro Sobral olhava para as transformações no mercado livreiro sem receio do futuro, “seja no fomentar de podcasts e clubes de leitura, quer no garantir que os autores estabeleciam uma relação próxima com os seus leitores”. Um “optimista indefectível, muito positivo, conciliador e mobilizador”, descreve Clara Capitão. “E como isso é importante nestes tempos que vivemos”.

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