Airbnb arrisca-se a pagar coima por não retirar anúncios ilegais da plataforma em Espanha

Investigação do Ministério dos Direitos do Consumidor faz parte de repressão geral contra arrendamento turístico, que muitos espanhóis dizem estar a criar escassez de habitação nas grandes cidades.

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Espanha investiga Airbnb por não eliminar milhares de alojamentos ilegais da plataforma YUYA SHINO / REUTERS
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Autoridades espanholas abriram uma investigação à Airbnb por a empresa não ter eliminado milhares de alojamentos ilegais da plataforma, numa tentativa de travar um negócio acusado pelas autoridades e por muitos residentes de contribuir para a escassez de habitação e para a subida dos preços dos imóveis. A Airbnb disse na quarta-feira que era a plataforma visada pela investigação anunciada dias antes pelo Ministério dos Direitos do Consumidor de Espanha e referiu que iria recorrer se fosse considerado que violou as regras.

A investigação faz parte de uma repressão geral em Espanha contra o arrendamento turístico através de sites como o Airbnb e o Booking, que muitos espanhóis dizem estar a criar um excesso de turismo, a prejudicar o parque habitacional e a tornar o arrendamento incomportável para os habitantes locais.

O Ministério dos Direitos do Consumidor ordenou, durante o Verão, que a Airbnb retirasse milhares de anúncios considerados "publicidade ilegal" por não terem licença de utilização turística, informou um porta-voz do ministério. Como os anúncios não foram removidos, foi iniciado um processo disciplinar, com a plataforma a enfrentar uma coima que pode ir até aos 100 mil euros ou até quatro a seis vezes o lucro obtido com esta prática, disse o ministério, mas esta possível multa pode ser contestada em tribunal.

A Airbnb disse que pede sempre aos anfitriões que confirmem que têm autorização para arrendar os espaços e que cumprem todas as regras locais. Mas a empresa também afirma que o ministério não forneceu listas de alojamentos que não estavam a cumprir as regras e que muitos proprietários não precisam de uma licença para arrendar as suas propriedades.

A empresa disse que o ministério não tinha autoridade para tomar decisões sobre arrendamentos de curta duração e que estava a desconsiderar certas decisões judiciais, incluindo uma decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia que em 2019 decidiu que a Airbnb deveria ser regulamentada como um "serviço da sociedade da informação" e não como um agente imobiliário. "A Airbnb é uma plataforma sujeita à Lei dos Serviços Digitais que não tem obrigações de controlo", afirmou.

Um porta-voz do ministério declarou que "não pode comentar o processo e os requerimentos abertos contra uma plataforma cujo nome não podemos confirmar". "Quase todos os regulamentos regionais relativos a habitações turísticas exigem a publicação do número da licença nas suas comunicações comerciais, sendo a sua não publicação considerada publicidade ilegal", acrescentou o porta-voz. A medida mais dura em Espanha contra o arrendamento de casas de férias foi tomada pelo presidente da Câmara de Barcelona, Jaume Collboni, que, em Junho, ordenou a proibição de novos alojamentos turísticos até 2028.

A proibição está a ser contestada em tribunal por associações que representam os proprietários de apartamentos turísticos. A Airbnb instou Collboni a reconsiderar, argumentando que a proibição beneficia apenas o sector hoteleiro e não terá efeito no excesso de turismo e na crise da habitação. Na semana passada, o Ministério dos Direitos do Consumidor também lançou uma investigação sobre os agentes que gerem, por vezes, centenas ou milhares de contas neste tipo de plataformas em nome dos proprietários.