Uma prenda especial de Natal de última hora? Adopte um panda, um urso, um lince ou um lobo

Neste Natal, pode fazer a diferença na preservação das espécies e no restauro ecológico de regiões em declínio. Ofereça cuidado e protecção da natureza.

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Portugal perdeu, em 20 anos, cinco alcateias de lobos-ibéricos David Diez/GettyImages
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O censo total do lince-ibérico em Portugal e Espanha alcançou os 2021 indivíduos em 2023, incluindo 722 crias nascidas no ano passado Carlos Carreno/GettyImages
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Actualmente, existem cerca de 26 mil ursos polares selvagens Johnny Johnson/GettyImages
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Três quartos de todos os pandas selvagens vivem em reservas naturais Liu Ranyang / REUTERS
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Encontrar uma prenda de Natal de última hora pode ser uma tarefa complicada, mas é possível dar algo único a quem mais gosta: a adopção simbólica da natureza. Seja um lobo-ibérico, um urso-polar, um panda ou um lince-ibérico, a Associação Natureza Portugal (ANP) e a WWF desafia os portugueses a adoptar a natureza com um donativo que pode fazer a diferença todo o ano. Recebe um certificado e passa a pertencer a uma rede de apoio ao trabalho de conservação das espécies.

Pela primeira vez como campanha de Natal, Ângela Morgado, directora executiva da WWF Portugal, explica ao PÚBLICO que esta adopção "simbólica" não tem apenas o intuito de apoiar a organização, adoptando uma das espécies, mas de "consciencializar a população para o investimento que vai proteger estas espécies em programas específicos".

"As pessoas podem entrar no nosso site, seleccionar a opção de adopção e escolher a espécie que querem apoiar", explica a directora executiva. "Duas destas espécies são espécies nossas, muito procuradas e emblemáticas da Península Ibérica. As outras duas são gigantescas referências da biodiversidade."

Adopta a Natureza com um donativo

Na página oficial da WWF Portugal, encontramos quatro espécies: o urso-polar, o lobo-ibérico, o panda e o lince-ibérico. Neste Natal, tem a oportunidade de fazer uma adopção simbólica para si ou para oferecer.

Apenas o acto de ajudar na preservação das espécies já pode fazer a diferença. A adopção tem um valor mínimo de 15 euros. No final do processo, recebe um certificado personalizado com a espécie que adoptou e o seu nome. Caso queira oferecer esta adopção, pode colocar o nome da pessoa presenteada.

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A WWF Portugal revela-se muito "preocupada" com o declínio das populações de lobos-ibéricos Vincent West / REUTERS

A WWF assegura transparência durante o processo, informando em que tipo de programas e projectos de preservação das espécies os donativos são aplicados. De acordo com a directora, o contacto com quem adopta é realizado frequentemente através de newsletters e emails. "As pessoas passam a fazer parte de uma rede de apoiantes que recebe frequentemente informações sobre os projectos e até outras actividades como de voluntariado."

Estes donativos vão permitir à organização sustentar o trabalho no terreno no âmbito do restauro ecológico de regiões em declínio e na protecção dos habitats, assim como apoiar o trabalho de comunicação e educação ambiental com a população em geral e com as autoridades.

"Esta campanha, não só em Portugal mas noutros escritórios mundiais, é mais apetecível, as pessoas gostam de fazer a adopção", acrescenta Ângela. A WWF Portugal alberga um programa de apoio extenso em Portugal. "O nosso programa assenta em cinco pilares: florestas e biodiversidade, oceanos, utilização responsável da água, clima e energia e alimentação".

"Estas questões atacam o imaginário que as pessoas têm da natureza", comenta a directora. "Tudo o que envolve espécies é o que tem mais sucesso e é exactamente o que o nosso Governo ataca, com inércia."

A WWF Portugal manifestou recentemente uma "profunda preocupação" com o declínio dos lobos-ibéricos no território nacional e apela a mais esforços e "coragem" ao actual Governo para que esta tendência possa ser revertida. A organização reitera a importância desta espécie nos ecossistemas, uma vez que são predadores de topo e ajudam na manutenção do equilíbrio natural da vida selvagem.

As espécies deste Natal

Os ursos-polares são uma das espécies directamente afectadas pelo degelo, não só pela perda do seu habitat como da diminuição do alimento, também afectado pelo aumento da temperatura da água do oceano. Um estudo publicado na revista Nature Communications explica que as calorias presentes na Terra não são suficientes para garantir a sobrevivência no futuro. Actualmente, existem cerca de 26 mil ursos-polares selvagens, mas este número pode diminuir cerca de 30% em 2050, segundo a WWF.

Portugal perdeu, em 20 anos, cinco alcateias de lobos-ibéricos segundo os resultados obtidos no Censo Nacional 2019/2021. Esta espécie pode ser encontrada principalmente a norte do rio Douro e a redução da espécie no território nacional revela ainda que os objectivos de conservação, estabelecidos há 20 anos, não foram cumpridos. Alguns ataques do predador ao gado bovino, ovino ou caprino têm conduzido também a uma menor tolerância à presença do lobo.

Segundo a WWF, "três quartos de todos os pandas selvagens vivem em reservas naturais", uma vez que ainda são uma espécie ameaçada. O seu habitat natural tem sido degradado ao longo dos anos pelo ser humano que procura ervas medicinais e bambu, a principal fonte de alimento desta espécie.

Esta espécie é especial por ser também o símbolo da organização que, desde 1980, se tornou "a primeira organização internacional convidada a trabalhar na China" para "ajudar a proteger os ursos-pandas", como podemos ler na página de adopção do panda.

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Os ursos polares têm um olfato tão notável que podem detectar uma foca a nadar na água - abaixo de um metro de neve compactada - a até um quilômetro de distância. Michael Dalder / REUTERS

A última espécie, o lince-ibérico (Lynx pardinus), é o carnívoro mais ameaçado na Europa e um dos felinos mais ameaçados do mundo. As alterações climáticas e a consequente deterioração do habitat levou à diminuição da sua principal presa, o coelho-bravo, o que "quase levou ao desaparecimento deste felino carismático", como descreve a associação. Os esforços conjuntos de Portugal e Espanha permitiram que o lince-ibérico não só deixasse de ser uma espécie classificada como "em perigo", como visse o número de espécies aumentar de 547, em 2017, para 1668, em 2022.

A população de linces-ibéricos na Península Ibérica continua a crescer. O censo total em Portugal e Espanha alcançou os 2021 indivíduos em 2023, incluindo 722 crias nascidas no ano passado. Em apenas três anos, a população ibérica da espécie Lynx pardinus duplicou.

Um Natal mais sustentável

"Nós fazemos esta campanha para chamar a atenção para a importância de reduzir o consumo nesta época natalícia", refere a directora. "Nós não dizemos às pessoas para deixarem de comer bacalhau, que é tão tradicional para nós, dizemos que devem reduzir o seu consumo..."

Ângela Morgado descreve este modelo de consumo como "insustentável" para o meio ambiente. "Uma alimentação que tem por base a proteína vegetal não só é a que cuida mais do planeta, mas a que cuida mais da nossa saúde." Fala-se em consciencializar a população nesta época, em que um terço dos produtos alimentares é desperdiçado – cerca de 931 milhões de toneladas de alimentos.

Em Portugal, cada cidadão desperdiça 184 quilos de alimentos por ano, o quarto país da Europa com maior taxa de desperdício alimentar. O mesmo acontece com os resíduos sólidos provenientes dos presentes e dos embrulhos natalícios.

"É uma época de muitos presentes, muito consumismo", comenta. "Esta campanha incentiva a contribuir para uma causa que é fundamental, inspira as pessoas e motiva a adoptar [simbolicamente] espécies", contribuindo, assim, para reduzir o número de presentes que são comprados anualmente.

Uma previsão "preocupante" de 2025

Na rede social Instagram, a WWF Portugal está a organizar uma outra iniciativa que destaca os maiores retrocessos e os piores momentos que aconteceram em 2024. Os "Globos do Ambiente" destacam a redução da protecção do lobo como o "maior retrocesso" do ano e o corte de barbatanas de tubarão como a "maior incoerência" pelo facto da Comissão Internacional para a Conservação dos Tunídeos do Atlântico (ICCAT) não ter conseguido, pela 16.ª vez, proibir a prática de mutilação dos tubarões.

Apesar de as perspectivas para o próximo ano serem "preocupantes" e muito negativas, a WWF destaca a mudança do estatuto do lince-ibérico de "em perigo" para "vulnerável" e o aumento dos exemplares da espécie como a "maior vitória" de 2024.

Sem uma acção climática, uma em cada 20 espécies da Terra podemestar em risco até 2100. O aquecimento do planeta está a modificar os ecossistemas profundamente, seja a obrigar determinadas espécies a migrarem, seja a reduzir as populações das espécies. As perdas de biodiversidade custam-nos, todos os anos, um valor igual ao Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos da América.

Este Natal, ofereça preservação das espécies a quem mais ama e opte por um "gesto único".