Organizações ambientais manifestam-se contra gasoduto de hidrogénio para Europa central

Quase três dezenas de organizações não-governamentais (ONG) posicionaram-se contra projecto H2Med, dedicado à exportação de hidrogénio por gasoduto da Península Ibérica para o norte e centro europeu.

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Um posto de abastecimento de hidrogénio H2 integra a a exposição Hyvolution, patente este ano em Paris, França BENOIT TESSIER / REUTERS
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Quase três dezenas de organizações não-governamentais (ONG) ambientais, a maioria ibérica, manifestaram-se esta quinta-feira contra o projecto H2Med, dedicado à exportação de hidrogénio por gasoduto, da Península Ibérica para o centro e norte da Europa.

A associação portuguesa Zero explica, num comunicado, que as organizações ambientais consideram que o H2Med pode "comprometer a disponibilidade de energia renovável para consumo interno" na Península e ter "impactos significativos nos ecossistemas, com potenciais perturbações nos habitats e ameaças à biodiversidade".

Os activistas argumentam que, no total, o gasoduto terá capacidade para transportar até dois milhões de toneladas de hidrogénio por ano até 2030, o que exigirá a "instalação de, pelo menos, 40 gigawatts (GW) de nova capacidade de energia renovável em Portugal e Espanha" e pode gerar "competição por terrenos, recursos de energia renovável e infra-estruturas de transporte de electricidade".

"Caso o gasoduto seja concluído, mas a disponibilidade de hidrogénio verde seja insuficiente, a solução de recurso será a mistura com gás fóssil", dizem, considerando que "esta abordagem pode prolongar a dependência do gás fóssil por décadas, aumentar a dependência energética de países estrangeiros e continuar a ser uma fonte significativa de emissões de gases com efeito de estufa".

"Faltam dados fiáveis"

Os ambientalistas assinalam ainda que "não existem dados fiáveis sobre a procura futura exacta de hidrogénio verde na Europa Central" ou "a perspectiva de produção de hidrogénio verde para exportação", pelo que "o gasoduto pode revelar-se um desperdício de fundos públicos".

Além disso, tendo em conta que "o transporte de hidrogénio é tecnicamente desafiante e consome quantidades significativas de energia", defendem que se estabeleça como prioridade a produção e consumo local de hidrogénio verde, que consideram mais eficiente, "reservando-o para sectores de difícil electrificação, acompanhado de medidas de redução da procura (a produção de aço e amoníaco, a aviação e o transporte marítimo, por exemplo)".

Os signatários do documento estão contra "o desenvolvimento de grandes infra-estruturas de transporte e exportação de hidrogénio" nesta altura, considerando que os fundos públicos destinados ao H2Med poderiam ser mais bem utilizados em "alternativas comprovadas, como a electrificação directa, o autoconsumo, as comunidades de energia e a melhoria da eficiência energética".

A divulgação do posicionamento das organizações ocorre um dia depois do "encerramento (...) do "Convite à manifestação de interesse" para os potenciais produtores e consumidores de hidrogénio envolvidos neste projecto".

O Memorando de Entendimento para o desenvolvimento do H2Med foi assinado em Dezembro de 2022 pelos seus promotores - REN (Portugal), Enagás (Espanha) e Téréga & GRTgaz (França) -, tendo um ano depois sido considerado Projecto de Interesse Comum e Mútuo pela Comissão Europeia.

A Academia Cidadã, a rede Gas No Es Solución, Climáximo, Ecologistas en Acción, Federació d'Ecologistes en Acció de Catalunya, GEOTA - Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, Food & Water Action Europe, Les Amis de la Terre France, Linha Vermelha e Plataforma por un Nuevo Modelo Energético são algumas das 28 organizações que partilham a opinião divulgada pela Zero.

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