“Não foram demitidos”: director do SNS justifica afastamento da administração da ULS Almada-Seixal com fim de mandato
António Gandra d’Almeida fala em “mudança de gestão, natural nas lideranças organizacionais” e insiste que conselho de administração não foi demitido: está em fim de mandato.
O director executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), António Gandra d'Almeida, negou esta quarta-feira ter demitido a administração da Unidade Local de Saúde (ULS) de Almada-Seixal, que inclui o Hospital Garcia de Orta. “Gostava de esclarecer o seguinte: o actual conselho de administração, a quem muito agradecemos a sua dedicação e empenho, vai terminar o seu mandato a 31 de Dezembro, tal como estava previsto. Nunca foi demitido”, defendeu Gandra d'Almeida.
“Esta mudança de gestão, natural nas lideranças organizacionais, envolverá uma reestruturação para assegurar um melhor funcionamento da instituição e garantir a sua resiliência perante os desafios no sector da saúde”, justificou ainda o director executivo do SNS sobre esta demissão, durante a sua audição, esta quarta-feira na Comissão da Saúde do Parlamento, a requerimento do Chega e do PS.
A Direcção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) decidiu, no início de Setembro, afastar o conselho de administração da Unidade Local de Saúde (ULS) de Almada-Seixal. Nesta quarta-feira, Gandra d'Almeida sustentou que “foi identificada na ULS uma necessidade de mudar as linhas orientadoras da administração”.
“Gostaríamos que a ULS melhorasse a forma de actuar, que as coisas fossem feitas de outra forma para que se desse uma resposta adequada à população”, disse o director executivo, para insistir: “O conselho de administração não foi exonerado, não foi demitido.”
O nome de Jorge Seguro Sanches, um militante do PS, chegou a ser considerado para suceder à actual presidente. Questionado pelos deputados sobre o recuo dado entretanto, Gandra d'Almeida esclareceu: “O dr. Seguro Sanches foi contactado e inicialmente ia presidir ao conselho de administração da ULS e, naturalmente, como qualquer pessoa, chegou a um momento em que já não tinha disponibilidade para o fazer e é um direito seu.” A DE-SNS está agora a trabalhar na constituição de uma nova equipa.
Abaixo-assinado de protesto
Importa lembrar que, em Outubro, Teresa Luciano, presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde (ULS) de Almada-Seixal, afirmou que a administração foi demitida pelo director executivo do SNS através de um telefonema que durou “menos de três minutos” e que lhes foi pedido que fizessem uma carta de rescisão. O motivo terá sido os encerramentos que aconteceram na urgência de ginecologia/obstetrícia durante o Verão. A responsável afirmou que o conselho não vai apresentar a demissão e que não recebeu mais indicações.
Quanto à duração do telefonema, Gandra d'Almeida sublinhou, esta quarta-feira, que foi uma “conversa empática e pacífica”, mas não precisou quanto tempo durou. “O tempo, para mim, não é o importante; é o conteúdo.”
O director executivo do SNS disse ainda que, na altura, questionou a presidente do conselho de administração quanto à sua abertura para “incluir outras linhas orientadoras na ULS”. “Estávamos a três meses do fim do seu mandato. Eles não estão há um ano em funções, vão completar os três anos [em Dezembro], e haveria lugar a outro conselho de administração. Deixei o conselho de administração decidir como se sentiriam melhor, se a completar ou a sair antes [do final do mandato]. Não lhes pedi para apresentarem cartas de rescisão. Pu-los à vontade. Eles estavam em funções e continuam em funções”, frisou ainda. “Não foram demitidos.”
“Não foi uma decisão política, nem sequer houve pressa em demitir, porque não foram demitidos. Foram informados de que não iriam continuar e que iria ser constituída outra equipa.”
Na altura do afastamento, directores de serviço do Hospital Garcia de Orta, coordenadores de centros de saúde do agrupamento de Almada-Seixal, enfermeiros-gestores e técnicos coordenadores manifestaram-se contra a demissão num abaixo-assinado em que afirmaram discordar da decisão e reiteraram “toda a confiança na actual equipa de gestão e na continuidade dos projectos em curso”. O documento foi assinado por 36 directores de serviço do Hospital Garcia de Orta, pelos coordenadores de 23 unidades de saúde familiar, a que se somaram 16 enfermeiros-gestores e nove técnicos coordenadores.