2024 foi um ano de mudanças para muitos. Neste ano de grandes actos eleitorais em todo o mundo, há algo que muitos não previram: a entrada de influencers na política. Fidias Panayiotou, mais conhecido como Fidias, é um exemplo claro deste fenómeno, ao abandonar o YouTube para se candidatar ao Parlamento Europeu, onde foi eleito com 19,4% dos votos no Chipre, tendo sido o mais votado entre os candidatos.
A sua campanha, totalmente baseada em redes sociais, cativou especialmente os jovens, ao prometer uma política mais próxima e acessível. No entanto, a sua abordagem gerou críticas, levantando questões sobre os riscos de transformar a política num espectáculo digital, centrado mais em likes e popularidade do que na responsabilidade política.
Como youtuber, Fidias conquistou milhões de seguidores com o seu estilo directo e descomplicado, partilhando vídeos de desafios e aventuras, sendo o mais relevante o acampamento que fez à porta da sede da Space X para abraçar Elon Musk. Durante a campanha eleitoral, utilizou essas mesmas tácticas para mobilizar eleitores, apresentando conteúdos simplificados e apelativos. Contudo, muitos dos seus vídeos sobre a União Europeia foram acusados de enviesamento: aparentavam explicar o funcionamento do sistema europeu, mas omitiam informações essenciais que contrariavam as suas críticas. Este tipo de comunicação simplificou questões complexas, contribuindo para desinformação e alimentando as desconfianças sobre as instituições europeias.
Depois de eleito, Fidias continuou a usar as redes sociais como a sua principal ferramenta política. Adoptou uma prática inédita, permitindo que os seus seguidores (muitos deles que nem são cidadãos europeus) decidissem o sentido do seu voto em questões legislativas através de sondagens online.
Esta abordagem, que Fidias apresenta como uma forma de democracia directa, levanta sérias preocupações. Deputados são eleitos para tomar decisões informadas e ponderadas, representando os interesses do povo após análise detalhada e discussão no parlamento. Ao delegar essas escolhas a uma audiência online sem escrutínio ou responsabilidade, Fidias desvirtua o papel do deputado no sistema democrático.
A longo prazo, esta prática pode fragilizar a democracia, já que decisões complexas são tomadas sem o devido cuidado e a responsabilidade recai sobre eleitores anónimos, não sobre o deputado eleito. Para além disso, Fidias publicou um vídeo em que caracterizou o espaço Schengen exclusivamente como um mecanismo para a livre circulação de migrantes, ignorando por completo as restantes liberdades fundamentais que ele assegura: a livre circulação de bens, serviços e capitais.
Esta narrativa parcial reforça preconceitos e omite os benefícios económicos e sociais deste pilar essencial da União Europeia. De forma semelhante, o Deputado também abordou temas como a eleição da Comissão Europeia ou até mesmo a eleição de António Costa para a Presidência do Conselho Europeu, mas apenas para criticar as instituições e as escolhas políticas, sem contextualizar o funcionamento democrático e complexo do sistema. Este tipo de abordagem não só promove uma visão incompleta e negativa da União Europeia, mas também enfraquece a confiança nas suas instituições, prejudicando o debate informado e fundamentado que deveria ser a base de uma democracia saudável.
Apesar das críticas, Fidias conseguiu atrair uma nova geração para o debate sobre a União Europeia, mobilizando jovens e colocando as instituições europeias no centro das discussões populares. No entanto, ao focar-se sobretudo em críticas sem apresentar soluções concretas, a sua abordagem arrisca reforçar narrativas simplistas e negativas sobre o projecto europeu, em vez de promover um debate mais informado e equilibrado. Fidias Panayiotou simboliza os desafios e as oportunidades da política na era digital. A sua campanha e mandato mostram como as redes sociais podem ser uma poderosa ferramenta para aproximar os cidadãos da política. No entanto, também destacam os perigos de trivializar a democracia, reduzindo-a a likes e sondagens online.
O equilíbrio entre inovação e responsabilidade será crucial para determinar o impacto do seu mandato e definir se ele representa uma mudança positiva ou um alerta sobre os limites da política digital. Até lá, aguardemos.