Debate apenas entre dois candidatos motiva protestos na Alemanha

Emissoras públicas convidaram apenas Friedrich Merz e Olaf Scholz para debate em Fevereiro.

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Friedrich Merz discursa no Bundestag, com o chanceler, Olaf Scholz, e vice-chanceler, Robert Habeck, ao fundo Axel Schmidt / REUTERS
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A decisão das emissoras de televisão pública ARD e ZDF convidarem apenas dois candidatos a chanceler da Alemanha para um debate televisivo (o chamado “duelo”) provocou protestos de outros partidos.

Friedrich Merz, o candidato da União Democrata-Cristã (CDU), está com valores muito destacados nas sondagens (30%, segundo a sondagem mais recente, do instituto Forsa) e, por isso, é tido como o chanceler mais provável na sequência das próximas eleições, antecipadas para 23 de Fevereiro após a queda do Governo.

Olaf Scholz, o actual chanceler, está muito atrás (17% segundo a Forsa), e é, de momento, o terceiro partido mais votado, sendo o partido cada vez mais extremista Alternativa para a Alemanha (AfD) o segundo (com 19%), e os Verdes o quarto (com 13%).

Se é certo que a chancelaria foi, desde o pós-guerra, ocupada em regra por um dos dois partidos do centro, nas eleições de 2021, com a hipótese de o partido Os Verdes ser o mais votado, os debates incluíram também a sua candidata a chanceler, Annalena Baerbock.

O site Table Media relatou que Olaf Scholz teria condicionado a sua participação no debate, marcado para 9 de Fevereiro, a este ser um duelo e a não ter mais intervenientes.

“É muito irritante que nos esteja a ser apresentada uma ‘grande coligação’ na televisão e que tenhamos um duelo entre ontem e anteontem”, disse Irene Mihalic, dos Verdes, referindo-se à possibilidade de Merz ter mesmo de fazer uma coligação com o Partido Social-Democrata (SPD) e apresentando os dois partidos como fazendo parte do passado.

A fragmentação política e as percentagens altas da AfD (e agora também a potencial presença do novo partido de esquerda populista e anti-imigração Aliança Sahra Wagenknecht) tornam muito difícil fazer coligações como as do passado, que, durante décadas, incluíram os liberais a governar, quer com a CDU quer com o SPD, e, depois, viram os Verdes estrearem-se numa coligação com o SPD (de Gerhard Schröder).

Angela Merkel teve na “grande coligação” o modelo para três dos seus quatro governos, e depois do falhanço da coligação actual, que juntou o SPD, Verdes e os liberais, haverá medo de mais experiências com coligações diversas (por exemplo, com conservadores, verdes e liberais, se os liberais conseguirem entrar no Parlamento e forem esquecidas as querelas com os Verdes).

Além dos Verdes, também a AfD protestou, dizendo que pondera iniciar uma acção legal por não ser incluída, apesar de ser o segundo partido nas sondagens (qualquer coligação com a AfD é excluída por todos os restantes partidos, incluindo a nível dos estados federados; apesar disto, o partido anunciou uma candidata a chanceler, Alice Weidel).

Processos legais anteriores semelhantes têm falhado, com os tribunais a considerar mais alto o valor da liberdade de expressão.

Ao defender a sua decisão, a ARD disse à agência de notícias DPA que tinha planeado “dois duelos, cada um a ser emitido em prime time”: um com Merz e Scholz, e outro com Robert Habeck e Alice Weidel (nenhum dos outros partidos apresenta candidaturas a chanceler).

Mas os Verdes tinham já recusado qualquer debate com a AfD. Dois líderes ofereceram-se para tomar o lugar dos Verdes no debate: Christian Lindner e Sahra Wagenkecht. Ambos estão, segundo as sondagens, perto do limite dos 5% necessário para entrar no Parlamento. Se os liberais não o conseguirem, será apenas a segunda vez na sua história.

Governo minoritário na Saxónia

Esta fragmentação tem também efeito nos parlamentos dos estados federados, com os governos minoritários a serem uma hipótese mais frequente. Esta sexta-feira, foi finalmente anunciado o executivo da Saxónia, que tinha ido a eleições em Setembro, assim como a Turíngia. Em ambos os estados a AfD conseguira à volta de 30%, sendo o partido mais votado na Turíngia e ficado em segundo na Saxónia, com a CDU um pouco à frente.

Na Saxónia, os conservadores lideram uma grande coligação com os sociais-democratas, mas mesmo assim as duas forças juntas não têm uma maioria, pelo que vão ter de contar com apoio dos Verdes, da Aliança Sahra Wagenknecht, ou de Die Linke para aprovar legislação. Esta é a primeira vez que o estado tem um governo minoritário.

Já na Turíngia tinha sido anunciada no mês passado uma coligação entre SPD, CDU e a Aliança Sahra Wagenknecht que terá, mesmo assim, de contar com um voto do partido Die Linke para ter maioria.

O partido de Sahra Wagenknecht, que se destaca ainda por ser contra o apoio à Ucrânia, entrou também na coligação de governo em Brandeburgo, o estado federado à volta de Berlim, com o SPD, na semana passada.

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