Há um mural com o retrato de Germano Silva do tamanho de um prédio inteiro do Porto

Jornalista e historiador foi homenageado pela Câmara do Porto em iniciativa realizada para assinalar os 20 anos da Sociedade de Reabilitação Urbana. MrDheo foi o escolhido para pintar o retrato.

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O mural com o retrato de Germano Silva foi pintado por MrDheo para assinalar duas décadas da Porto Vivo - SRU Nelson Garrido
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O mural com o retrato de Germano Silva foi pintado por MrDheo para assinalar duas décadas da Porto Vivo - SRU Nelson Garrido
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O mural com o retrato de Germano Silva foi pintado por MrDheo para assinalar duas décadas da Porto Vivo - SRU Nelson Garrido
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A olhar para o sítio onde anteriormente estava o coreto do Jardim da Cordoaria. É nessa direcção que apontam os olhos do retrato de Germano Silva, pintado pelo artista urbano MrDheo na empena de um prédio do Campo dos Mártires da Pátria. É com esta exactidão que o historiador e jornalista retratado consegue situar geograficamente o mural que foi feito em sua homenagem. E, obviamente, tem um episódio para contar sobre aquele local (já lá vamos), que desta vez não é só sobre a cidade que adoptou como sua, mas que remete sobretudo para a sua origem. Aos 93 anos, dificilmente lhe terá escapado uma rua que não tenha passado a pente fino à procura de mais memórias que o ajudem a continuar a escrever a história da cidade. Nesta quarta-feira de manhã, quando viu o resultado final do graffiti, coleccionou mais uma memória que acabará também por não ser só sua: o ano em que fizeram um retrato de Germano Silva do tamanho de um prédio inteiro do Porto.

MrDheo sabia muito bem quem estava a retratar. Basta olhar para o cenário de fundo que escolheu para enquadrar o historiador e jornalista do JN para perceber isso mesmo. Estão lá os azulejos da Capela da Nossa Senhora das Almas, o velho casario portuense e a Torre dos Clérigos – está em casa. E em grande destaque, boina na cabeça e sorriso rasgado, está o rosto do protagonista.

“É como se estivesse a olhar para um espelho”, diz Germano Silva aos jornalistas presentes no dia em que Rui Moreira o acompanhou até ao número 23 do Campo dos Mártires da Pátria, que serviu de tela para o trabalho do artista urbano portuense.

A obra efémera foi feita num prédio municipal, que se encontra vazio, para assinalar os 20 anos da Porto Vivo – Sociedade de Reabilitação Urbana. Por acaso, acabou por ser realizada em território que diz muito à família de Germano Silva, e remete para tempos em que ainda o coreto da Cordoaria não tinha sido deslocado para o sítio onde está desde a remodelação do jardim, em 2001 – está um pouco mais ao lado.

O coreto onde os pais se conheceram

“Foi neste coreto, a ouvir a banda do 18 [Banda Militar do Regimento de Infantaria Nº 18], que um dia, em 1927, se encontraram o Manel e a Maria. O Manel e a Maria eram da mesma terra. Mas a Maria estava aqui [no Porto], era criada de servir, e não sabia que o Manel tinha cá vindo fazer a tropa. Encontraram-se, depois namoraram, casaram e eu fui o primeiro [filho]”, recorda o historiador e explica a ligação que existe com o Jardim da Cordoaria. “Este olhar ali para o lugar do coreto tem um pouco a ver com isso”, sublinha.

Apesar de os seus pais se terem conhecido no Porto, Germano Silva acabou por nascer numa aldeia de Penafiel, numa altura em que "Manel" e Maria tinham regressado temporariamente a casa. “A Maria já estava grávida de mim e aos oito meses foi ao casamento de uma irmã gémea e eu nasci no meio da boda.” Talvez por isso, diz, goste tanto de festas e “do São João em especial”.

Não esquece Penafiel, nem a aldeia de São Martinho de Recezinhos, onde nasceu, mas não é lá que se sente em casa. “Tive que ficar lá há uns tempos e depois vim para o Porto e esta é a minha terra, foi sempre a minha terra”, sublinha.

Em pouco tempo, para qualquer lado que olhe de onde está, consegue lembrar-se de uma referência do sítio para onde está a mirar. “Ali ao fundo, naquele palacete, ali ao lado da Capela das Almas, era a residência dos Sandman, mas foi lá que também começou a Escola Industrial do Infante do Henrique e o Clube de Ténis do Porto.” “Nas traseiras há uma casa onde viveu um elemento da família Brito e Cunha, o António Brito e Cunha, que foi um dos Mártires da Liberdade [um dos 12 liberais], foi um dos homens que o D. Miguel mandou enforcar na Praça Nova”, assinala. Mais tempo tivesse, mais histórias e curiosidades assinalaria.

Germano Silva agradece a homenagem ao presidente da Câmara do Porto. Rui Moreira não parece ter dúvidas sobre a escolha que foi feita para a obra realizada por MrDheo: “É uma homenagem a uma figura, talvez a figura mais carismática da cidade, e seguramente a pessoa que reúne mais afectos na cidade. Acho que toda a gente gosta do Germano e toda a gente o conhece”.

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