Nascer sem pressa de crescer: na Quinta dos Encados, o vinho é um projecto de família

Um casal de médicos arregaçou as mangas e transformou a quinta da família em Guimarães numa adega de espírito boutique, rodeada pelo bosque da montanha da Penha.

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Maria José Areias e Rui Carvalho Azevedo, ambos médicos obstetras, fizeram nascer um projecto enoturístico familiar rodeado de floresta. Goncalo Delgado
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São ambos médicos obstetras. Ela ainda no activo, ele já reformado. Depois de uma vida inteira a dar assistência a partos em hospitais do Porto, Maria José Areias e Rui Carvalho Azevedo decidiram fazer nascer uma adega com espírito boutique rodeada pelo bosque da montanha da Penha, em Guimarães. Em boa verdade, foi mais um renascimento, já que a Quinta dos Encados era da família de Maria José, em conjunto com outras propriedades, e produzia vinhos com foco na quantidade.

Após a morte do patriarca, separou-se a sociedade e repartiram-se as quintas entre os irmãos. A Maria José calharam estes oito hectares de loureiro e arinto (mais umas pequenas parcelas de trajadura para equilibrar lotes), área que conseguiram expandir pela compra de parcelas em redor, mas apenas para aumentar a barreira florestal. “Não queremos crescer. Queremos manter isto como uma coisa familiar, e está a correr bem”, explica a médica.

O arranjo de castas, assim como o modo de implementação no terreno, vêm já de uma reconversão feita na geração anterior, por volta de 2010. Quando Rui e Maria José trouxeram a bordo o enólogo consultor António Sousa, este foi peremptório em manter tudo como estava, e os resultados foram animadores logo na primeira colheita, 2018, com o Grande Escolha a conquistar uma medalha de ouro no concurso Os Melhores Verdes.

Além deste Grande Escolha, um lote de arinto e loureiro com forte propensão para sublimar comidas de sabor a mar, têm apenas uma outra referência, um monocasta de loureiro, cítrico, complexo, equilibrado, que também já lhes valeu alguns prémios. Torcendo para que António Sousa leve a sua adiante, perspectiva-se para breve o lançamento de um espumante de arinto.

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“É importante estarmos presentes”, sublinha Maria José Areias. Na Quinta dos Encados, é sempre um membro da família – se não o casal, uma das filhas, Filipa e Rita – a receber os visitantes. Gonçalo Delgado
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A antiga casa dos caseiros da quinta foi adaptada ao turismo rural, com grande atenção à integração na paisagem, à privacidade dos hóspedes e a soluções engenhosas de optimização de espaço. Gonçalo Delgado

Para tirar o máximo partido da envolvente natural onde a quinta fica – e o corredor de bosque que leva da beira da estrada ao coração da propriedade é um óptimo preâmbulo –, transformaram a antiga morada dos caseiros numa casa de turismo rural com mão de arquitecto: linhas minimalistas, soluções de espaço engenhosas, respeito pelo traço original e perfeito enquadramento paisagístico, com cúmulo nos janelões debruçados sobre as vinhas.

Seja nos trabalhos da vinha, nas provas ou no acompanhamento de outras actividades de enoturismo, ponto assente: “É importante estarmos presentes”, sublinha Maria José. Por esse motivo, na Quinta dos Encados é sempre um membro da família – se não o casal, uma das filhas, Filipa e Rita – a receber os visitantes. Para quê crescer?

A Quinta dos Encados produz apenas duas referências – o Grande Escolha (na imagem), blend de arinto e loureiro, e um monocasta de loureiro. Para um futuro próximo, prevê-se o lançamento de um espumante de arinto. Gonçalo Delgado
Na sala de provas, Maria José Areias e Rui Carvalho Azevedo exibem com orgulho o palmarés que conseguiram acumular nos seis anos que levam à frente da Quinta dos Encados. Gonçalo Delgado
Nos oito hectares de vinha da Quinta dos Encados, predominam as castas loureiro e arinto. Para equilibrar lotes, produzem também pequenas quantidades de trajadura. Gonçalo Delgado
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A Quinta dos Encados produz apenas duas referências – o Grande Escolha (na imagem), blend de arinto e loureiro, e um monocasta de loureiro. Para um futuro próximo, prevê-se o lançamento de um espumante de arinto. Gonçalo Delgado

Este artigo foi publicado na edição n.º 14 da revista Singular.
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