Alimentos com alto teor calórico são os preferidos de todos

Os resultados da investigação foram algo inesperados, deixando a equipa de cientistas intrigada.

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Hambúrgueres a serem preparados para vender TANNEN MAURY/EPA
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Os alimentos com alto teor calórico são os preferidos de todos, sejam pessoas com ou sem obesidade, mesmo que outra comida tenha um sabor semelhante, indica um estudo divulgado esta terça-feira na revista científica PLOS Biologyno qual participou o investigador e médico psiquiatra da instituição Albino Oliveira Maia, da Fundação Champalimaud.

O trabalho mostrou que “os alimentos com maior teor calórico foram os preferidos tanto entre indivíduos com como sem obesidade, apesar de os seus sabor e textura serem semelhantes”, refere um comunicado da Fundação Champalimaud.

Explicam os cientistas que, quando comemos, são enviados sinais ao cérebro com informação sobre o conteúdo energético de um alimento, o que pode influenciar as nossas preferências alimentares, independentemente do sabor.

“As pessoas com obesidade apresentam frequentemente alterações em áreas do cérebro onde a dopamina – neurotransmissor ligado à sensação de prazer e motivação –​ é libertada, o que pode motivar o consumo alimentar relacionado com a recompensa, bem como a preferência por alimentos ricos em energia, gordura e açúcares”, refere o comunicado.

Por sua vez, acrescenta-se que a “a perda de peso devido à cirurgia bariátrica – de redução do estômago, para tratar casos de obesidade grave –​ tem sido associada a uma normalização da alimentação relacionada com a recompensa, com uma mudança de preferências para opções mais saudáveis, mas os mecanismos subjacentes não são bem compreendidos”.

A hipótese colocada pelos cientistas portugueses foi a de que as recompensas após a ingestão serão prejudicadas na obesidade, em comparação com uma amostra saudável e magra, e serão recuperadas pela cirurgia bariátrica.

Nesse sentido, após examinar um grande grupo de voluntários saudáveis, os investigadores compararam as preferências alimentares em três grupos: 11 indivíduos com obesidade, 23 doentes após cirurgia bariátrica e 27 indivíduos de controlo não obesos.

Os participantes receberam iogurtes magros doces, com ou sem maltodextrina (um hidrato de carbono que acrescenta calorias ao iogurte sem impacto no sabor ou na textura), que comiam em casa, alternando entre o iogurte que continha maltodextrina e o simples.

Para visualizar os receptores de dopamina no cérebro, utilizou-se a marcação com iodo radioactivo e a tomografia computorizada de emissão de fotão único.

Os indivíduos com obesidade apresentaram menor disponibilidade de receptores daquele neurotransmissor do que os indivíduos de controlo sem obesidade. No caso destes, a disponibilidade de receptores de dopamina foi semelhante nos grupos cirúrgico e não obeso e esteve associada a níveis mais elevados de restrição alimentar”.

“Nos três grupos, os participantes comeram mais iogurte contendo maltodextrina, apesar de classificarem ambos [os iogurtes, ou seja, o iogurte simples também] como igualmente agradáveis, mostrou o estudo.

“Algo inesperado”

Segundo os investigadores, foi “algo inesperado” o facto de os efeitos da maltodextrina no consumo de iogurte terem sido semelhantes nos indivíduos com obesidade em relação aos participantes sem obesidade.

“Ficámos muito intrigados porque, apesar de o comportamento estar orientado para a ingestão de iogurtes com maior teor energético, tal não pareceu ser o resultado de escolhas explícitas, uma vez que não foram encontradas alterações consistentes na agradabilidade dos sabores enriquecidos com hidratos de carbono”, indicam os autores do artigo citados no comunicado.

Salientam, por outro lado, que aquele “comportamento se manteve em doentes com obesidade e após cirurgia para perda de peso, embora existissem diferenças importantes no sistema dopaminérgico cerebral”.

“Estes resultados sugerem que as alterações cerebrais relacionadas com a obesidade podem ser revertidas após a cirurgia bariátrica, impactando potencialmente na quantidade de alimentos consumidos, mas não necessariamente nos tipos de alimentos preferidos”, resume o comunicado sobre o trabalho publicado na revista PLOS Biology.