Alemanha e França anunciam encontros com novas autoridades sírias

Governos ocidentais ainda consideram o HTS um grupo terrorista. Alemanha diz que novas autoridades têm tido acção “cautelosa”.

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Fotografias de pessoas desaparecidas num monumento em Damasco MOHAMMED AL RIFAI / EPA
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Responsáveis da Alemanha e França preparavam-se para se encontrar, esta terça-feira, com as novas autoridades no poder em Damasco, depois de, na véspera, diplomatas britânicos se terem reunido com Ahmed al-Sharaa (o nome civil de Abu Mohammed al-Jolani).

Também o coordenador do Gabinete da ONU para as Questões Humanitárias, Tom Fletcher, se encontrou com Sharaa na segunda-feira e declarou, a seguir à reunião, que este era um “momento de esperança cautelosa” para o país.

Do Líbano, que durante décadas viveu sob influência do poder sírio, o diário L’Orient Le Jour considerava que os primeiros passos de Sharaa são “bastante tranquilizadores”, falando dos contactos das novas autoridades com vários países da região, mas também com os Estados Unidos, por exemplo.

“Tanto quanto se pode perceber, têm agido com prudência até agora”, disse um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros citado pela emissora Deutsche Welle, referindo-se às novas autoridades lideradas pela organização islamista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que até 2016 tinha ligações com a Al-Qaeda, antes do encontro com uma delegação de diplomatas alemães marcado para esta terça-feira.

Para a Alemanha, era importante reforçar a necessidade de protecção de minorias no país e saber como vai ser o processo de transição.

Na véspera, a alta-representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia, Kaja Kallas, disse que os 27 estão disponíveis para dialogar com a nova liderança de Damasco, mas precisam de ver “acções concretas” dos novos dirigentes islamistas em termos da representatividade do governo e de garantia dos direitos das minorias religiosas e étnicas.

Foram entretanto descobertas mais valas comuns onde podem estar milhares de corpos. Ainda há muitos casos de pessoas desaparecidas após a detenção. Um monumento no centro de Damasco estava a servir de expositor para fotografias de muitas destas pessoas desaparecidas.

“O importante não é o blazer

Também na segunda-feira, imagens de Sharaa, de fato, reunido com a delegação britânica, marcaram o início destes contactos presenciais e formais com países ocidentais. Sharaa pediu o fim das sanções ao país, condição necessária, argumentou, para que os refugiados sírios regressem (o Reino Unido, assim como vários países europeus, deixou os pedidos de asilo de sírios suspensos, enquanto se clarifica o que irá acontecer no futuro próximo).

A responsável da agência da ONU para os refugiados, Rema Jamous Imseis, disse, entretanto, que a organização calcula que cerca de um milhão de refugiados regressem ao país nos primeiros seis meses de 2025. Imseis também apelou aos países para não levarem a cabo retornos forçados de refugiados, algo que tem sido discutido em alguns, e até anunciado, como na Áustria.

As sanções ao regime de Assad, que caiu no dia 8 de Dezembro, são um dos problemas das novas autoridades; o outro é a ainda designação do HTS como grupo terrorista.

No que foi visto como uma tentativa de alterar as restrições a que o HTS está sujeito, Sharaa também anunciou que os combatentes do seu grupo irão juntar-se a um exército que ficará sob a alçada do Ministério da Defesa. “Temos de adoptar uma mentalidade de Estado, não de oposição”, disse. Prometeu ainda um país unido: “Tem de haver um contrato social entre o Estado e todas as seitas para garantir justiça social.”

Muito foi dito sobre a imagem e o blazer do ex-líder rebelde – mas, para Joyce Karam, da Universidade George Washington, estas são distracções. “O verdadeiro teste vão ser a nova Constituição, a latitude dada ao Ministério do Interior/forças de segurança, e os programas escolares”, escreveu na rede social X.

Karam vê com bons olhos o envolvimento ocidental com as novas autoridades, já que “lidar com isto como se fosse outro 1979 [a revolução islâmica no Irão] ou taliban iria condenar a Síria a um destino de desespero – a Síria não é o Irão nem o Afeganistão”, sublinhou. Ainda assim, “é importante esperar para ver o que acontece além do blazer”.

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