Grande Lisboa e Península de Setúbal são as regiões com maior distância no PIB per capita
A região norte é, a par de Lisboa, a que mais contribui para a riqueza nacional. Viver na Margem Sul e trabalhar na Grande Lisboa beneficia a média salarial dos habitantes da Península de Setúbal.
Estão frente a frente geograficamente, com o Tejo a separá-las, mas estão em pólos opostos na escala da riqueza por cada habitante que aí vive. Dados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que a Grande Lisboa e a Península de Setúbal são as regiões do país com a maior discrepância no Produto Interno Bruto (PIB) per capita.
A área territorial da capital tem o valor mais elevado (31,6 mil euros por habitante) e a Península de Setúbal o mais baixo (14,7 mil euros).
Mas se a distância que as separa é a maior quando se olha de forma isolada para este indicador estatístico, não quer dizer que o rendimento da população da Margem Sul seja o mais baixo a nível nacional. Como muitos cidadãos trabalham na capital ou nos concelhos limítrofes que compõem a Grande Lisboa, a produção da riqueza para a qual contribuem fica adstrita à região onde trabalham e não àquela onde vivem, mas os salários que recebem aparecem contabilizados no local da sua morada, o que faz com que a Península de Setúbal saia a ganhar estatisticamente quando nos focamos no indicador do rendimento disponível das famílias.
Vejamos as duas dimensões. Segundo o INE, “a Península de Setúbal, com 7,8% da população residente, origina no seu território apenas 5,5% do PIB, sendo uma das regiões com menor peso de emprego (indivíduos) no total da sua população residente (32,5% face a 59,7% da Grande Lisboa).” E estes resultados, nota o instituto estatístico na síntese desta terça-feira, “são indissociáveis do facto de grande parte dos residentes na Península de Setúbal exercer a sua actividade profissional na região da Grande Lisboa, obtendo aí grande parte dos seus rendimentos, especificamente remunerações, contribuindo para o PIB desta região.”
Como os salários são mais altos na Grande Lisboa, a Península de Setúbal, embora tenha um PIB per capita inferior às restantes regiões, apresenta “um rendimento disponível das famílias per capita similar às regiões Norte, Centro, Alentejo e Regiões Autónomas” (o mesmo se verifica com Oeste e Vale do Tejo, igualmente vizinho da região da capital).
Ao contrário do que acontece com o indicador do PIB per capita, Setúbal não é a última na lista, mas a quinta. E, mais uma vez, diz o INE, “esta situação está relacionada com a diferente localização geográfica onde os trabalhadores residem e exercem a sua actividade”, porque os movimentos pendulares Setúbal-Lisboa alteram a distribuição do rendimento disponível entre os dois territórios.
É isso que explica que a disparidade entre as duas regiões seja “significativamente inferior” nos rendimentos das famílias do que no PIB per capita? Sim. Há uma diferença assinalável devido ao efeito que a “correcção dos movimentos pendulares” tem na afectação do rendimento disponível, “fundamentalmente devido às remunerações, que reflectem o local de residência e não o local de trabalho.”
Olhando para o mapa nacional, Lisboa aparece em primeiro no indicador do rendimento disponível per capita (em média, um habitante da região dispõe de 17,2 mil euros brutos para viver num ano). O Algarve surge em segundo (também acima dos 17 mil euros), o Alentejo em terceiro (14,5 mil), Açores em quarto (14,3 mil), seguido de Setúbal com um valor idêntico (14,3 mil euros), a Madeira em sexto lugar (13,9 mil), Oeste e Vale do Tejo em sétimo (também com 13,9 mil), o Centro em oitavo (13,7 mil) e o Norte em último (12,8 mil).
A nível nacional, a média está nos 14.371 euros, o que significa que só Lisboa, Alentejo e Algarve estão acima do valor de referência.
Norte em primeiro no PIB
Apesar de a região Norte ser a que mais contribui para o PIB nacional, com uma percentagem de 30,3%, o nível remuneratório das famílias por habitante é o mais baixo a nível nacional.
Atendendo ao PIB, o contributo dado pela região Norte é semelhante ao da Grande Lisboa, que representa 30,2% da riqueza produzida a nível nacional. Neste campo, segue-se a região Centro (com um peso de 14,4%), Oeste e Vale do Tejo (6,4%), Setúbal (5,5%), o Algarve e o Alentejo com contributos semelhantes (4,4% e 4,3%, respectivamente), a Madeira (2,3%) e os Açores (2%).
Na lista do PIB per capita, a ordem já é diferente: Grande Lisboa, Madeira, Algarve, Alentejo, Centro, Açores, Norte, Oeste e Vale do Tejo, e Península de Setúbal.
Os dados que o INE agora divulgou seguem a divisão geográfica que resulta da nova organização das unidades territoriais definida, para fins estatísticos, por um novo regulamento europeu de 2022, que levou a que as chamadas NUTS II sejam agora compostas por nove regiões e não pelas habituais sete que vigoravam até aqui. Há quatro que se mantêm iguais (Norte, Algarve, Açores e Madeira); há outras duas que se mantêm, mas com alterações territoriais (Centro e Alentejo); ao mesmo tempo, é criada a Região do Oeste e Vale do Tejo; e passam a existir a Grande Lisboa e a Península de Setúbal (quando dantes as duas formavam uma só, a Área Metropolitana de Lisboa, agora desagradada nestas duas).
Embora estas sejam justamente as regiões que apresentam a maior disparidade regional do PIB por habitante, o INE assinala que o indicador das duas, visto em conjunto, continua “muito próximo” da base anterior.
A síntese estatística do INE permite ainda verificar que em 2023, ano em que o país cresceu 2,5%, houve uma melhoria económica em todas as regiões do país. A variação positiva foi mais visível na Madeira (4,5%), nos Açores (3,4%), no Algarve e Grande Lisboa (3,3% nas duas) e no Oeste e Vale do Tejo (2,9%). Abaixo da média ficaram a região Norte (2,3%), a Península de Setúbal (1,7%) e o Centro (1,4%) e o Alentejo, que, nota o INE, registou o desempenho mais fraco (0,4%).
Os dados do INE podem ser consultados aqui.