Desta vez, o Real Madrid apareceu: Vinícius Jr. é The Best
O jogador brasileiro do Real Madrid confirmou o favoritismo dado pelo contexto: a cerimónia, anunciada em cima da hora, foi em Doha, onde o clube espanhol está para disputar um jogo.
Em Outubro, a France Football fez uma gala aberta a todos, com a pompa habitual, para atribuir a Bola de Ouro – e o Real Madrid, sabendo que Vinícius não iria ser o melhor do mundo, decidiu não comparecer e boicotar o evento. Nesta terça-feira, a FIFA fez uma gala fechada, sem pompa alguma, para atribuir o The Best no formato digital dos novos dias – e o Real, paradoxalmente, decidiu aparecer por lá na mesma, para Vinícius receber o seu prémio ao vivo e a cores.
É a primeira vez que o jogador é distinguido como melhor jogador do mundo e desde 2007 que um brasileiro não vencia o prémio – na altura, Kaká levou os prémios da FIFA e da France Football.
Esta distinção, atribuída conjuntamente por capitães, seleccionadores e jornalistas, está longe de ser uma surpresa, já que o contexto sugeria um só caminho para o The Best. Que contexto? Primeiro, a FIFA anunciou esta gala de um dia para o outro, algo inédito na história destas cerimónias. E fizeram-no realizando o evento virtual a partir de Doha, no Qatar, local onde “curiosamente” está a equipa do Real Madrid, que vai disputar nesta quarta-feira a Taça Intercontinental frente ao Pachuca, do México.
A FIFA realizou a gala em formato virtual, juntando-a a um jantar de gala já agendado. O formato digital da cerimónia poderá ter sido também uma resposta ao que aconteceu na última edição, em Janeiro, quando Lionel Messi não apareceu para receber o seu troféu, tornando o momento grandioso num grandioso embaraço para a FIFA.
Há alguns anos que se tornou banal jogadores faltarem a galas nas quais não seriam premiados – Messi e Ronaldo já o fizeram –, pelo que a FIFA jogou pelo seguro: sem gala não há faltas. Desta vez, o vencedor não faltou. E o Real Madrid não boicotou nada.
Premiada a arte do drible
Desportivamente, o prémio também não é uma surpresa. Já em Outubro, em contexto de Bola de Ouro, havia quem defendesse o prémio a Rodri e quem achasse que deveria ser para Vinícius. Nesse sentido, o brasileiro está longe de ser um vencedor inesperado.
Conquistou a Liga dos Campeões e a Liga espanhola, com 24 golos e 11 assistências em 39 jogos – e estes são factos suficientes. Mas há mais.
Na Bola de Ouro, os votantes deram peso à importância de Rodri no equilíbrio do Manchester City e da Espanha, bem como um relevo especial ao Europeu de selecções.
No The Best, as votações terão dado mais peso ao cariz “artístico” de Vinícius. Enquanto Rodri é um equilibrador, o brasileiro é um desequilibrador – e este perfil de quem dribla, cria e marca golos sempre foi mais “vendável” na hora de atribuir prémios individuais.
O racismo
Há ainda um ângulo adicional, que é a do conflito entre desportivismo e racismo. Vinícius é, por estes dias, um jogador longe de ser consensual pelo perfil brigão e provocador que apresenta jogo sim, jogo sim.
Mas é, por outro lado, dos jogadores mais perseguidos pelo racismo, algo que ajuda a polarizar as opiniões sobre o brasileiro.
Vinícius vai continuar a caminhar no limbo entre ser um homem provocador que também sofre racismo ou um homem vítima de racismo que responde a isso com emoção.
A resposta certa não é alcançável com factos, pelo que, para já, o facto a que Vinícius se pode agarrar é o de que se tornou, para a FIFA, o melhor jogador do mundo em 2024.
"Era tão distante, que parecia impossível chegar até aqui. Era uma criança, que só jogava à bola descalço nas ruas de São Gonçalo, perto da pobreza e do crime. Chegar aqui é muito importante para mim (...) o Real Madrid é o maior clube do mundo. Não poderia deixar de agradecer também ao Flamengo, o clube que me colocou no campo, nas ruas, para chegar até aqui", apontou.
Bonmatí repete a dose
No sector feminino, a premiada foi a espanhola Aitana Bonmatí, que junta o The Best à Bola de Ouro conquistada em Outubro.
Este prémio também não surpreende, já que a catalã foi campeã da Europa, com golos em todos os jogos da fase a eliminar. E repete a distinção de 2023.
“Estou orgulhosa por receber este prémio. Como digo sempre, isto é o trabalho da equipa. Na temporada passada ganhámos tudo no Barcelona, também a Liga das Nações com a selecção espanhola, e vai ser difícil de repetir”, apontou.
Nos restantes prémios, destaque para a presença de Rúben Dias no “onze” do ano, composto ainda por Martínez, Carvajal, Rüdiger, Saliba, Bellingham, Rodri, Kroos, Yamal, Haaland e Vinícius.
Nota ainda para o sempre apreciado prémio de melhor golo do ano. A FIFA dividiu em prémio Puskás, para o sector masculino, e prémio Marta, para o feminino.
Alejandro Garnacho – que tem estado na berlinda com Ruben Amorim no Manchester United – foi o autor do golo mais bonito do ano, num pontapé acrobático frente ao Everton. Já o prémio Marta, das mulheres, cujo nome glorifica a carreira da jogadora brasileira foi ganho pela autora de um grande golo num particular frente à Jamaica. E a jogadora foi... Marta.
Confira todos os premiados:
Melhor jogador do mundo: Vinícius Jr.
Melhor jogadora do mundo: Aitana Bonmatí
Melhor treinador futebol masculino: Carlo Ancelotti
Melhor treinador futebol feminino: Emma Hayes
Melhor GR futebol masculino: Emiliano Martínez
Melhor GR futebol feminino: Alyssa Naeher
Prémio Puskás: Alejandro Garnacho
Prémio Marta: Marta
Fifa Fan Award: Guilherme Moura (adepto do Vasco da Gama que superou um coma induzido)
Fifa Fair Play: Thiago Maia (ajuda a pessoas nas cheias de Rio Grande do Sul)