Restos do mais antigo antepassado dos mamíferos descobertos em Maiorca

O local onde este antepassado dos mamíferos com 270 milhões de anos foi descoberto – em Maiorca, nas ilhas Baleares – é considerado, por si, só um facto invulgar.

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Ilustração de um gorgonopsiano numa várzea inundada do período Pérmico em Maiorca Henry Sutherland Sharpe
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Os restos do que poderá ser o antepassado mais antigo dos mamíferos foram descobertos em escavações em Maiorca, uma das ilhas Baleares de Espanha, revelou o Instituto Catalão de Paleontologia (ICP) Miquel Crusafont.

“É provavelmente o gorgonopsiano mais antigo do planeta. Aquele que encontrámos em Maiorca tem pelo menos 270 milhões de anos e os restantes registos deste grupo em todo o mundo são no mínimo um pouco mais jovens”, salienta, em comunicado, Josep Fortuny, líder do grupo de investigação de Biomecânica Computacional e Evolução da História de Vida do ICP e autor sénior do artigo científico sobre a descoberta publicado na revista Nature Communications.

Os gorgonopsianos, um grupo extinto, pertencem, no entanto, à linhagem evolutiva que iria dar origem aos primeiros mamíferos 50 milhões de anos mais tarde e viveram durante o período Pérmico, entre há 270 e 250 milhões de anos, segundo o ICP. Foram os primeiros animais a desenvolver os dentes de sabre característicos dos predadores e eram muitas vezes os superpredadores dos ecossistemas em que viviam.

Os restos foram encontrados num sítio no município de Banyalbufar, na serra de Tramuntana, em Maiorca, e pertencem a um animal de pequeno a médio porte, com cerca de um metro de comprimento.

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Restos ósseos do fóssil encontrado em Maiorca Anna Solé/Instituto Catalão de Paleontologia Miquel Crusafont

“O grande número de restos ósseos é surpreendente. Encontrámos de tudo, desde fragmentos de crânio, vértebras e costelas, até um fémur muito bem preservado. Na verdade, quando iniciámos esta escavação, nunca pensámos que iríamos encontrar tantos restos de um animal deste tipo em Maiorca”, explica Rafel Matamales, conservador do Museu Balear de Ciências Naturais, investigador associado do ICP e o primeiro autor do artigo científico.

A idade do exemplar surpreendeu os investigadores e a sua localização “é um facto invulgar por si só”, refere o ICP, assinalando que os restos de gorgonopsianos conhecidos antes desta descoberta pertenciam a latitudes muito elevadas, como a Rússia ou a África do Sul”.

A pata quase completa recuperada permitiu estudar o modo como o animal se movia. Os gorgonopsianos tinham as patas posicionadas de forma mais vertical e, por isso, movimentavam-se de forma intermédia entre os répteis e os mamíferos”, o que é “mais eficiente para caminhar e principalmente para correr”.

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Réplica de um dente de sabre descoberto em Maiorca, nas ilhas Baleares, Espanha Anna Solé/Instituto Catalão de Paleontologia Miquel Crusafont

Os dentes de sabre encontrados “confirmam a sua dieta”. “Sabemos que se trata de um animal carnívoro, característica partilhada por todos os gorgonopsianos do mundo. Os dentes de sabre são uma característica comum nos grandes predadores dos ecossistemas e o que encontrámos terá sido provavelmente um deles no ambiente em que vivia”, sublinha Àngel Galobart, investigador do ICP e director do Museu de la Conca Dellà, na província de Lérida, na Catalunha.

Durante o período do Pérmico, indica o ICP, Maiorca não era uma ilha, fazendo parte do supercontinente Pangeia. “Situava-se numa latitude equatorial, onde hoje se encontram países como a República Democrática Congo ou a Guiné” e o seu “clima era de monção, alternando entre estações chuvosas e muito secas”.

O local onde os fósseis foram encontrados era uma planície de inundação com lagoas temporárias onde os gorgonopsianos bebiam e outra fauna, entre a qual um antigo grupo de répteis herbívoros ao qual pertencia o Tramuntanasaurus tiai – uma espécie nova para a ciência cuja descoberta foi anunciada em 2023 na revista Papers in Palaeontology e que pode ela própria ter feito parte da dieta dos gorgonopsianos.

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Silhueta do animal com a identificação dos seus ossos encontrados Eudald Mujal/SMNS

“Apesar de ocuparem uma área pequena, as ilhas Baleares possuem um registo fóssil excepcional”, realça-se no comunicado, e “os fósseis mais estudados e conhecidos são do Plistocénico (entre 2,5 milhões e 11.700 anos) e do Holocénico (época iniciada há cerca de 11.600 anos)”.

O registo de outros tempos históricos nas ilhas Baleares é bastante menos conhecido, com a descoberta de “fósseis notáveis, como o mosquito mais antigo do mundo, quase mil espécies de amonóides (cefalópodes aparentados com lulas), antepassados de cavalos e hipopótamos, tubarões gigantes e grandes recifes de coral.