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A alienação da humanidade
Infelizmente, as recentes inovações, investimentos e patentes indicam que a alienação da humanidade está crescendo e sendo canalizada para o consumismo e as engenharias financeiras.
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Chegamos ao fim do ano com más notícias sobre a crise climática. O Observatório Copernicus, da União Europeia, confirmou que 2024 foi o ano mais quente da história. Pela primeira vez, a temperatura média do mundo ultrapassará o limite climático de 1,5ºC, — desde que há registros —, acima da era pré-industrial, com uma anomalia positiva próxima de 1,6ºC, previsto apenas para 2025. Sem medidas urgentes para equacionar esse problema, com o corte drástico nas emissões de gases com efeito estufa, atingiremos um ponto de não retorno, ou seja, uma tragédia.
Há muito que o mundo sofre com a violência da crise climática. Embora nenhum país esteja imune às mudanças acarretadas pelo descuido com o meio ambiente, os mais atingidos, numa lista de 10 elaborada pela Norte Dame Global Adaptation Initiative, são as nações de mais baixa renda, nove delas no Continente Africano.
Sofremos secas na Amazônia e no Centro-Oeste brasileiro, incêndios no Pantanal, inundações catastróficas no Sul, ondas de calor, desmoronamentos e enchentes nas periferias das cidades. São milhares os desabrigados, aumentando o contingente de refugiados do clima. A recente devastação causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul alerta, mais uma vez, lideranças políticas e governantes para providências capazes de conter esses desastres, o que é possível.
Os impactos climáticos são cada vez mais intensos e frequentes, devido aos aumentos voláteis de energia na atmosfera. Mas outras são as preocupações do Congresso do Brasil, onde uma maioria parlamentar permanece chantageando o Governo para a aprovação de emendas do seu interesse. É um vergonhoso toma lá dá cá. Ou o governo cede, ou não se votam projetos do interesse nacional, como é o caso do pacote fiscal.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) relata que as anomalias relacionadas às mudanças climáticas têm custado bilhões de dólares anualmente e vêm crescendo exponencialmente. Por enquanto, são danos calculados em moeda, mas, logo, surgirão as implicações nutricionais, ou seja, a comida pode rarear e não ser suficiente para alimentar populações em todo o mundo.
Nem os Oceanos, de onde retiramos parte da nossa alimentação, escapam das influências negativas do clima. Nos últimos 34 anos, metade dos corais e recifes em todo o mundo morreram, por causa do aumento da temperatura da água e da acidificação causada pela alta concentração de CO2 nos mares. A acidificação degrada a base da cadeia alimentar marinha, reduzindo em 50% a capacidade reprodutiva dos peixes no planeta. O aumento do nível dos mares indica que mais catástrofes se aproximam, representando risco para bilhões de habitantes das zonas costeiras.
É consenso entre os cientistas que estudam a trajetória climática que precisamos estar 2 graus abaixo das temperaturas que representam o aquecimento global. Será que vamos conseguir? Pouco provável. Ninguém quer pagar essa conta. Não se percebe na maioria dos países, onde se inclui o Brasil, esforços realísticos nessa direção. Lideranças de todo o mundo reúnem-se em congressos internacionais para deliberar sobre o assunto, mas as verbas que disponibilizam para evitar esses desastres são sempre inferiores ao necessário.
Agrava nossa preocupação o fato de Donald Trump, que assumirá a presidência dos Estados Unidos, desdenhar o problema negando sua existência. Trump estaria preparando-se para sair do Acordo de Paris. Ele já fez isso no mandato anterior. Os governadores de Califórnia, Nova York e Washington fundaram a Aliança Climática dos Estados Unidos (USCA), com a finalidade de manter os esforços para a redução de poluentes.
É óbvio que não sabemos ao certo como será o futuro, mas podemos enxergar as tendências. Infelizmente, as recentes inovações, investimentos e patentes indicam que a alienação da humanidade está crescendo e sendo canalizada para o consumismo e as engenharias financeiras.
Evidências anteriores a nós sugerem que iremos sofrer incontroláveis e perigosos níveis de alteração climática, que trará fome, destruição, migrações, doenças e guerras, como acontece atualmente. O tempo não está do nosso lado, já alertou o Secretário-geral da ONU, o português António Guterres.