CAM 2025 com Paula Rego, Adriana Varejão, inéditos de Carlos Bunga e diáspora africana
Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, em Lisboa, apresentou esta segunda-feira a sua programação de exposições para 2025.
A programação do Centro de Arte Moderna (CAM) da Gulbenkian para 2025 terá como “momentos altos uma exposição inédita que junta Paula Rego e a artista brasileira Adriana Varejão e uma mostra com novas criações de Carlos Bunga que serão postas em diálogo com obras da Colecção do CAM, anunciou esta segunda-feira a instituição.
Paula Rego e Adriana Varejão. Entre os vossos dentes inaugura-se a 11 de Abril com a curadoria de Adriana Varejão, Helena de Freitas e Victor Gorgulho. Na Nave do CAM, a mostra vai contar com cerca de 80 obras distribuídas com cenografia de Daniela Thomas e com o foco num ponto comum do trabalho das duas artistas: a violência, seja política, seja privada. “O ponto de partida é a pintura A Primeira Missa no Brasil, de Paula Rego, uma obra realizada em 1993, raramente exibida, pertencente a uma colecção particular inglesa”, diz o CAM na sua apresentação da programação.
Seguir-se-á, também na Nave e em parte no Mezzanino, Carlos Bunga. Habitar a Contradição. De 31 de Outubro a 30 de Março de 2026, Bunga é também o senhor que se segue a Leonor Antunes no formato “carta branca” para a ocupação do espaço nobre do museu e da criação de diálogos com a colecção do CAM, além de incorporar materiais de arquivo, livros e performances. O ponto de partida é o desenho A minha primeira casa era uma mulher, de 1975, que representa a mãe de Carlos Bunga e que abre a porta para aquilo que o CAM apresenta como “uma das suas exposições mais complexas e pessoais até à data”. Entre as novas obras que o artista trará está uma instalação site-specific em cartão em torno das formas da natureza.
Além destas duas grandes mostras, o CAM vai receber na Primavera (14 de Março) uma exposição dedicada à Arte Britânica, título que abarca mais de cem obras entre o acervo do CAM e a Colecção Berardo. É contar com Antony Gormley, Bridget Riley, David Hockney, Francis Bacon, Frank Auerbach ou Rachel Whiteread, mas também com mais Paula Rego e outros artistas portugueses que passaram longos ou curtos períodos em Londres – Bartolomeu Cid dos Santos, Menez, Eduardo Batarda, Fernando Calhau, Graça Pereira Coutinho, João Penalva e Rui Sanches.
Do Reino Unido para o Brasil, com uma exposição que se espalhará na sede da Fundação Gulbenkian, na galeria principal e na galeria do piso inferior, entre 13 de Novembro do próximo ano e 17 de Fevereiro de 2026, com título provisório Experimento Brasil. A curadoria estará a cargo de José Miguel Wisnik, Millena Brito e Guilherme Wisnik e o objectivo é “problematizar as relações seculares entre o Brasil e Portugal, promovendo um contexto de diálogo entre os dois países, definido tantas vezes por um desconhecimento mútuo”. Para isso, a mostra organizada pelo Programa Gulbenkian Cultura vai reunir vídeos, música, documentos e obras de arte para propor “uma travessia de experiências que pretende dissolver estereótipos e abrir novas perspectivas de entendimento”, diz o texto da programação. A exposição originará uma publicação e um programa de actividades paralelas, entre as quais um concerto da Orquestra Gulbenkian dedicado ao Brasil.
Já Julianknxx, Zineb Sedira, Diana Policarpo, Mikhail Karikis, Tristany Mundu e Francisca Rocha Gonçalves são o elenco de artistas convidados a apresentar projectos em 2025 no CAM.
No Espaço Engawa estará Coro em Memória de um Voo, fruto das colaborações de Julianknxx, artista nascido na Serra Leoa, com nove cidades da Europa sobre a diáspora africana. O resultado desta encomenda do Barbican Centre de Londres e da WeTransfer, é uma instalação que usa o canto e a música como transmissores de resistência – Lisboa foi uma dessas cidades e o programa paralelo conta com a co-curadoria de cantora Selma Uamusse, do actor Paulo Pascoal e do colectivo artístico The Blacker the Berry.
Diana Policarpo ocupará em Fevereiro o espaço Projecto com Ciguatera, uma instalação de grande escala que resulta de uma viagem de investigação às Ilhas Selvagens, numa co-produção da TBA21-Academy, Veneza, e do CAM, em colaboração com o antigo Instituto Gulbenkian de Ciência. No mesmo espaço, em Setembro, a artista franco-argelina Zineb Sedira reflecte sobre as utopias dos anos 1960, no contexto das independências africanas. É uma encomenda do CAM, do Bildmuseet, Umeå, do Jeu de Paume, Paris, e do IVAM, Valência.
A instalação audiovisual Mikhail Karikis. Sons de uma Revolução vai estar a partir de 15 de Maio na Sala de Desenho como espécie de súmula do projecto Sons de Uma Revolução, que o artista desenvolveu com 50 alunos do Artallis - Conservatório d’Artes de Loures. A sala recebe, entre 22 de Fevereiro e 5 de Maio, Tristany Mundu. Cidade à Volta da Cidade, uma encomenda do CAM ao músico e produtor português de ascendência angolana que organizou uma tripla projecção e “bandeiras” têxteis.
Na Sala do Som, Francisca Rocha Gonçalves traz Interferências no Tejo, “uma instalação sonora imersiva que captura as características acústicas e vibracionais do ambiente subaquático do rio Tejo, onde os sons das espécies se misturam com ruídos produzidos pelo homem”. A ideia é frisar a necessidade de proteger as espécies locais e de ampliar as zonas de protecção sonora.