Entre Setembro e Novembro, o “Outono boreal” de 2024 registou três eventos significativos relacionados com alterações atmosféricas: emissões elevadas de incêndios florestais em Portugal e na Austrália, e uma crise de poluição sazonal no Sul da Ásia. Estes fenómenos destacam os desafios crescentes associados à qualidade do ar e às emissões globais de carbono.
Os dados são do Serviço de Monitorização da Atmosfera do Copérnico (CAMS, na sigla em inglês), que acompanha indicadores cruciais da composição atmosférica global, como a qualidade do ar na Europa, as emissões de incêndios florestais, e as concentrações de poluentes e gases com efeito de estufa.
Esta semana, o Copérnico divulgou os três fenómenos que tiveram mais impacto na qualidade do ar nos últimos meses.
Incêndios em Portugal
Em Setembro, devido a incêndios florestais no Centro e Norte do país, Portugal registou o maior volume de emissões de carbono já registado para este mês. Foram 1,9 megatoneladas de dióxido de carbono libertadas até meados de Setembro, em fogos que atingiram com particular intensidade localidades como Albergaria-a-Velha, Oliveira de Azeméis e Sever do Vouga, no distrito de Aveiro, ou Castro Daire, em Viseu. Os dados foram divulgados pelo Sistema Global de Assimilação de Incêndios (GFAS) do Copérnico e superam o anterior recorde em Portugal para este mês, estabelecido em Setembro de 2003, quando foi emitida uma megatonelada de dióxido de carbono.
De acordo com o serviço Copérnico, os incêndios tiveram um impacto significativo na qualidade do ar, com concentrações elevadas de partículas finas (PM2,5) que se espalharam para regiões vizinhas em Espanha, atravessaram o Golfo da Biscaia e alcançaram o sudoeste de França.
Incêndios na Austrália
Durante Outubro e Novembro de 2024, registaram-se incêndios florestais sazonais de grande intensidade no Norte da Austrália, com destaque para o Território do Norte e Queensland, onde as emissões estiveram acima da média para este período.
No estado de Queensland, as emissões de carbono atingiram cerca de 20 megatoneladas, o valor mais elevado desde 2011. No Território do Norte, a actividade dos incêndios também gerou cerca de 20 megatoneladas de emissões, o segundo maior registo da última década naquele estado, de acordo com o Copérnico.
Com o avanço do Verão australiano, a situação “permanece dinâmica” descrevem os cientistas, mantendo-se um elevado risco de novos incêndios florestais na região.
Smog na Índia, Paquistão e Bangladesh
Desde o início de Novembro, a Planície Indo-Ganges - uma enorme planície no extremo Nordeste do subcontinente indiano, no sul da Ásia - tem enfrentado uma crise de poluição atmosférica sazonal, com concentrações de partículas PM 2,5 em níveis alarmantes.
A qualidade do ar degradou-se significativamente em cidades como Lahore, no Paquistão, e Nova Deli, na Índia, onde a poluição atingiu picos preocupantes. Dados do CAMS sobre os valores da Profundidade Óptica do Aerossol (AOD) e observações da rede de estações terrestres da Aeronet mostraram um aumento na carga de aerossóis na atmosfera desde o início de Novembro, com uma neblina densa a desenvolver-se.
As concentrações de PM2,5 superaram 200 µg/m³ em várias localidades ao longo do mês de Novembro, incluindo as capitais Nova Deli, na Índia, e Daca, no Bangladesh.
Com a chegada do Inverno, estação mais propensa a episódios de poluição, a região continua sob alerta.