Novecentos e sessenta minutos de solidão

As telenovelas, afinal, como outras formas de ficção comercial, especializam-se há muito na sua própria versão de “realismo mágico” — o quotidiano intensificado por exageros implausíveis.

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Muitos anos depois (peço imensa desculpa), diante de um pelotão de jornalistas, o violador Harvey Weinstein havia de recordar aquela tarde remota em que o Presidente dos Estados Unidos o levou a conhecer García Márquez. A ocasião foi um almoço secreto em Martha’s Vineyard, para o qual Bill Clinton o convidou pessoalmente. A tarde passou-se em ambiente de tertúlia; William Styron e Carlos Fuentes também estavam presentes. Falou-se de Cuba, basebol e literatura. Weinstein aproveitou para sugerir a possibilidade de transformar Cem Anos de Solidão num filme, e Márquez deu a resposta habitual: não uma recusa imediata, mas impondo jocosamente condições tão fantásticas que a negação não deixava de ser firme. “Aceito, desde que filmem o livro inteiro, na íntegra”, explicou a um atento Weinstein, “e que lancem um capítulo de cada vez, dois minutos por ano, ao longo de cem anos”.

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