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Oito brasileiros são presos na França com títulos da CPLP. Sete são deportados
Advogado do brasileiro que ainda está em poder da polícia diz que o cliente e os sete colegas foram trabalhar como pedreiros, mesmo sem ter a documentação exigida pelas autoridades francesas.
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Oito brasileiros foram presos nesta semana na França, dos quais sete foram deportados para o Brasil. Um ainda continua detido naquele país, com a opção de ser mandado para Portugal ou para território brasileiro, segundo o advogado Alfredo Roque, da VE Consultoria. Todos portavam a autorização de residência emitida pelo Governo luso por meio do acordo de mobilidade fechado com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Esse documento, porém, não tem validade em nenhum outro país da União Europeia, que já questionou o Executivo português sobre sua emissão.
Roque conta que foi procurado por telefone, na tarde de sexta-feira (13/12), pelo brasileiro que continua na França. O homem, nascido em Manaus, no Amazonas, relatou que ele e mais sete colegas haviam sido presos pela polícia por estarem trabalhando como pedreiros na França. “Esse brasileiro é meu cliente. Ele me disse que estava com o passaporte retido e lhe foi dada a opção de ser deportado para Portugal ou para o Brasil”, afirma o advogado. “Eu havia recomendado a ele que não saísse de Portugal até que a situação documental dele estivesse resolvida”, acrescenta.
Antes de viajar, no entanto, o brasileiro disse ao advogado que iria para a França, pois o salário mensal de pedreiro naquele país era de 2.200 euros (R$ 13,9 mil) ante 820 euros (R$ 5,2 mil) em Portugal. Segundo Roque, o brasileiro havia sido atendido pela Agência para Integração, Migrações e Asilo (AIMA), no início de novembro, quando fez a biometria. “Portanto, estava perto de receber o cartão tradicional, de plástico, de autorização de residência em Portugal. Foi o comprovante desse atendimento feito pela AIMA que evitou que ele fosse deportado para o Brasil com os outros sete brasileiros”, ressalta.
Alerta e desespero
Roque relata que disse ao cliente que só poderia auxiliá-lo em território português, porque não tem autorização para advogar na França. “Primeiro, preciso ver qual foi o código que a polícia carimbou no passaporte dele, para que as providências sejam tomadas. Ainda não sei se ele já embarcou para Portugal ou se preferiu retornar para o Brasil”, destaca o advogado. “Na França, num caso como esse, o melhor suporte a brasileiros é o consulado, que tem contato direto com as autoridades locais”, complementa. Procurado pelo PÚBLICO Brasil pelo telefone de emergência, o consulado em Paris não atendeu a ligação.
Para o advogado, esse caso é ilustrativo para os brasileiros: “Ninguém deve viajar para nenhum país da Europa ou de outra parte do mundo sem a documentação adequada. Não é possível que as pessoas acreditem no que dizem youtubers e influencers na internet, de que tudo é muito fácil em Portugal e em outros locais. Já vi postagens em que os youtubers dizem que, com apenas 10 euros (R$ 63), é possível fazer as compras do mês em Portugal. Isso é mentira”, assinala. “Entendo que algumas pessoas estão desesperadas atrás de salários maiores, mas as pessoas não podem se deixar guiar por esse sentimento”, afirma.
Roque diz que tem atendido muitos brasileiros, e todos os seus clientes estão trabalhando em Portugal, contribuindo com a economia do país, repassando recursos para a Segurança Social. “Contudo, os custos em Portugal são em euros, e os salários locais não são altos. Sendo assim, é preciso muito planejamento antes de se mudar do país. As pessoas não merecem se submeter a morar em um apartamento pequeno com mais 20 ou 40 pessoas”, alerta. “Todo cuidado é bom antes de sair do Brasil em busca de um sonho em outro país”, emenda. O sonho pode virar pesadelo, como o do brasileiro detido na França.