Cristo está morto em Gaza, e não vai nascer sozinho
Não é Natal, é uma vala comum. Onde estão os 2,2 mil milhões de cristãos do mundo desde 7 de Outubro?
1. Há exactamente um ano eu estava na Palestina (ver arquivo do PÚBLICO). Passei as semanas do Natal nos lugares onde um terço da população da Terra acredita que Jesus Cristo nasceu, viveu e morreu, da Basílica da Natividade ao Monte das Oliveiras, da Via Dolorosa ao Santo Sepulcro. A maior parte das noites em Jerusalém Oriental, as outras na Cisjordânia, de 24 para 25 de Dezembro em Belém, sempre território ocupado por Israel, entre cristãos, além de muitos muçulmanos. Lugares que conheci no auge da Segunda Intifada, e noutros picos da guerra, mas nunca tinha visto assim: a Terra Santa transformada em Terra Fantasma, vias e escadarias desertas, portas de metal fechadas de um lado e do outro, lojas, oficinas, restaurantes. Centenas de milhares de palestinianos sem ganha-pão e sem Natal. Pela primeira vez na História não houve Árvore em Belém. O presépio na Praça da Manjedoura tinha a Sagrada Família no meio de arame farpado. E na noite de 24 de Dezembro, todos os diplomatas europeus e convidados VIP a caminho da missa na Basílica da Natividade viram uma incubadora verdadeira com a escultura de um Jesus Menino negro, deitado num keffiyeh. Instalação de uma artista palestiniana que estava ali, no frio, ao dispor de quem se dispusesse a parar.
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