Um em cada quatro universitários toma medicação psiquiátrica, aponta estudo

Os inquiridos descrevem sintomas significativos de depressão, ansiedade e stress. Por outro lado, os alunos em universidades com apoio psicológico são mais confiantes nas suas capacidades académicas.

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Um em cada quatro estudantes recorre a algum tipo de medicação psiquiátrica e quase metade demonstra ter sintomas depressivos, concluiu um estudo conduzido pela Associação Nacional de Estudantes de Psicologia (ANEP) em colaboração com a Ordem dos Psicólogos Portugueses, apresentado na quinta-feira. São dados que "expõem a população estudantil enquanto grupo vulnerável" no que toca a saúde mental, concluem os autores do estudo.

Com base num inquérito feito a 1174 estudantes de 53 instituições do ensino superior, o trabalho, levado a cabo por Patrícia Silva (Universidade da Beira Interior), Tiago Taliscas e Carolina Paiva (Universidade de Coimbra) com orientação de Ana Isabel Lage (Ordem dos Psicólogos Portugueses) e Ana Torres (Universidade da Beira Interior), pretendia olhar para o panorama da saúde mental entre os estudantes do ensino superior em 2024.

Os inquiridos eram, na sua maioria, alunos de licenciatura e mulheres, com uma média de idades de 24 anos. E o que se pode concluir é que, do total, 456 participantes apresentavam "sintomatologia psicológica" e que os que admitiam níveis mais elevados de sintomas eram estudantes em universidades sem serviços de saúde mental e bem-estar.

O estudo indicou que 46% dos estudantes apresentaram "resultados significativos" para sintomatologias de depressão (46%), ansiedade (39%) e stress (31%).

Na semana que antecedeu a realização do questionário, a maioria dos alunos relatava ter dificuldade em relaxar (83%) e em fazer coisas (80%), e 74% reconhecia ter reagido "em demasia" a certas situações. Quase metade dos inquiridos confessou ter passado momentos em que sentia que a vida não tinha sentido (42%).

Mais apoio equivale a melhor desempenho

De acordo com o relatório, uma grande parte dos alunos inquiridos sente pressão para ter um alto desempenho — quase todos os participantes, 93%, diz sentir uma pressão ocasional ou frequente com o trabalho académico e 80% disse não ter nenhuma reprovação no passado ano lectivo.

Analisar o desempenho e auto-eficácia dos alunos é "essencial" para compreender de que forma a saúde mental afecta os percursos educacionais (e vice-versa). Do total, 652 dos inquiridos relataram alta eficácia (isto é, acreditam na sua capacidade de concluir com êxito uma tarefa académica)​ e 752 disse ter alto desempenho escolar.

Foram os estudantes que recebem apoio psicológico das instituições que relataram maior auto-eficácia académica: "Os serviços de saúde mental e bem-estar foram fundamentais para ultrapassar problemas pessoais emocionais que afectavam toda a minha vida, nomeadamente, a académica”, contou um aluno de Protecção do Ambiente. Quase todos os participantes concordaram que este tipo de ajuda é importante para a comunidade estudantil e 226 admitiram já ter procurado por serviços semelhantes fora das universidades.

A falta de trabalhadores desses serviços preocupa os alunos: deve "haver maior quantidade de psicólogos e outros profissionais para a quantidade de pessoas numa instituição de ensino superior, principalmente alunos", disse um estudante de Direito citado no estudo. “Dois psicólogos para um universo de 5000 alunos, e ainda mais pessoal docente e não docente, é completamente impraticável.”

Há ainda vários alunos que relataram não saber se a sua universidade oferece este tipo de serviços: eram 386, 30% do total. “Em termos da minha faculdade, acho que poderia haver uma maior divulgação e programas para a comunidade. Se calhar até existe, mas eu não vejo muito sobre esses assuntos”, confessou um aluno de Humanidades. Outras sugestões apontadas incluem a extensão dos horários de atendimento, a agilização da cooperação com os hospitais de modo a reduzir as listas de espera, e tornar os custos das consultas mais acessíveis.

Texto editado por Inês Chaíça

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