Investigadores da Universidade de Coimbra exigem respostas para a precariedade

Manifestação desta sexta-feira juntou centena de cientistas da Universidade de Coimbra contra os contratos precários nas instituições conimbricenses. Universidade justifica saídas com falta de verbas.

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Protestos contra a precariedade científica têm-se somado ao longo dos últimos anos ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
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Cerca de uma centena de investigadores da Universidade de Coimbra manifestaram-se esta sexta-feira junto à Porta Férrea, naquela cidade, e reclamaram respostas para combater a precariedade e para evitar o desemprego em que muitos irão cair nos próximos dias.

A manifestação intitulada “A Universidade de Coimbra é para Investigadores?” foi convocada por investigadores da Universidade de Coimbra, para demonstrar a falta de soluções e de estratégias para fazer face à precariedade que afecta cerca de 270 dos seus investigadores, em “situação laboral instável e sem perspectivas de integração”, segundo avançou a organização desta manifestação.

Por voltas das 11h, os cientistas começaram a juntar-se, empunhando cartazes onde se podia ler “Aqui soube que ia ser bolseira para a vida toda... Se a Deslandes fosse investigadora”, “Sabias que há investigadores que estão há mais de 20 anos na Universidade de Coimbra como precários?” e “Precária e altamente qualificada”. Outra investigadora colocou ao pescoço um cartaz onde escreveu que é precária há 18 anos e que o início do seu desemprego tem data de 3 de Janeiro de 2025.

Dos quase 3000 contratos precários de investigadores em instituições científicas, ou seja, contratos a termo com um fim previsto para os próximos anos que estavam em vigor em Julho deste ano, mais de metade terminarão nos próximos dois anos. Desses contratos, havia 1607 vínculos de cientistas que terminarão até 2026 e que, neste período, terão de encontrar soluções se quiserem continuar um trajecto enquanto investigadores.

A escassos metros, Ana Rita Álvaro dava a conhecer que estava na ciência há 21 anos, 15 deles como doutorada, tendo participado em projectos no valor de 500 mil euros e realizado 200 comunicações. Para além de ter realizado 41 publicações, orientado 53 alunos, venceu 28 prémios, mas dentro de dias ficará em situação de desemprego e deixará estudantes de doutoramento sem orientação.

É também o caso de Catarina Almeida e Bárbara Santos, que se juntaram ao protesto por não terem respostas. “Vamos ficar sem orientação e terminar aquilo que temos”, lamentaram. Num cartaz escrito em inglês, os investigadores ironizavam com uma lista de pedidos da Universidade de Coimbra ao Pai Natal, onde eram desejados mais turistas, em detrimento de investigadores.

Já o cartaz de Steve Catarino, investigador da área da Medicina há 22 anos, 14 deles como doutorado, acusava o reitor da Universidade de Coimbra de não cumprir a lei. “É um bocado frustrante para uma pessoa que cá trabalha durante décadas, dizerem-nos que nós não fazemos trabalho permanente e, por isso, não sou integrado na carreira”, referiu. Steve Catarino evidenciou ainda que, para além da investigação, ainda dão aulas e orientam alunos. “Como pode não haver reconhecimento do nosso trabalho e fingirem que nós não fazemos trabalho permanente na universidade?”, questionou.

Universidade culpa falta de financiamento

Sobre a manifestação desta sexta-feira, Steve Catarino disse acreditar que não vai mudar nada, porque não há vontade e porque o Governo não está a financiar. “A solução tem de ser uma mudança: se os reitores das universidades não querem mudar, nós temos de substituir os reitores por pessoas que queiram alterar as coisas. Há mais de uma década, no caso do nosso reitor, que quer manter sempre as pessoas na precariedade”, sustentou.

Também a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) esteve representada no protesto, lançando um abaixo-assinado exigindo soluções para os investigadores precários, que pode ser subscrito por investigadores de todas as instituições. No abaixo-assinado, dirigido à Assembleia da República e ao Ministério da Educação, Ciência e Inovação, os subscritores exigem soluções concretas e urgentes para os investigadores sujeitos à precariedade.

Nuno Peixinho, dirigente da Fenprof e investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço da Universidade de Coimbra, é um dos muitos que irá ficar desempregado esta segunda-feira. “No dia 17 vou ao Centro de Emprego inscrever-me e vou ficar à espera dos concursos que abram por aí”, indicou.

A reitoria da Universidade de Coimbra afirmou que a situação de precariedade de investigadores na sua instituição é resultado de financiamento público insuficiente, defendendo uma reformulação do modelo e aumento das dotações.

“A Universidade de Coimbra considera que uma solução cabal para o problema do emprego científico, acumulado ao longo de décadas, transcende em muito a capacidade actual das universidades e exige uma reformulação do modelo de financiamento público com o relevante aumento das dotações atribuídas”, afirmou fonte do gabinete de comunicação da reitoria da Universidade de Coimbra.