Esta geladaria recebe os sírios retornados – que agora sentem o sabor a liberdade

Todos os que provam este gelado tradicional garantem que sabe diferente agora: “Era bom antes, mas agora estamos felizes por dentro”.

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O gelado é batido à mão com malhos de um metro de comprimento até adquirir uma textura macia e elástica Reuters
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Depois de ter saído do Líbano para a Síria para celebrar a queda do regime de Assad e de ter feito os preparativos para que a sua família o seguisse, Anas Idrees, de 42 anos, sabia o que vinha a seguir na sua lista de prioridades.

Aventurou-se pelo grandioso Hamidiyeh Souk, um mercado tradicional na parte velha de Damasco, até chegar à célebre geladaria Bakdash e pediu uma grande bola de gelado árabe com infusão de mástique, uma espécie de goma feita de resina.

Há 15 anos que Idrees não o saboreava – foi antes de a guerra civil síria o ter tornado num refugiado.

"Sabe-me diferente agora, juro por Deus", afirmou, depois da primeira colherada. "Era bom antes, mas mudou porque agora estamos felizes por dentro."

Com mais de um século de existência (e muitas guerras pelo meio), Bakdash serve um gelado de estilo árabe, com infusão de Sahlab, uma farinha feita a partir de raízes de orquídeas e batida à mão com malhos de um metro de comprimento até adquirir uma textura macia e elástica.

Uma dose generosa custa menos de um euro por taça e é servida coberta de pistácios.

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O preço afixado em várias moedas — líra turca, libra síria e dólar norte-americano Reuters

Bakdash é muito apreciada em toda a Síria, mas muitos sírios não podem visitar Damasco desde que o antigo presidente sírio Bashar al-Assad reprimiu os protestos pró-democracia em 2011, dando início a uma guerra civil de 13 anos que dividiu o país.

Após a destituição de Assad, na sequência de um avanço relâmpago dos rebeldes, dezenas de milhares de sírios voltaram a Damasco, vindos de todo o país e de fora das suas fronteiras.

Na segunda-feira, centenas de pessoas apareceram no Bakdash, muitos deles combatentes acabados de chegar do campo de batalha, que traziam as armas às costas para se deliciarem com um doce fresco que, por vezes, fica preso nas barbas longas e desgrenhadas.

Ahmed Aslaan, soldado de 22 anos que envergava um uniforme verde, disse que não via Damasco há mais de uma década e que saborear o gelado era um ponto positivo da sua recém-descoberta liberdade.

"Graças a Deus, atingimos o nosso objectivo. Agora podemos dar a volta a toda a Síria no nosso próprio carro", disse entre uma dentada e outra. "Antes estávamos todos presos numa área minúscula, agora temos espaço."

O co-proprietário Samir Bakdash disse que a reabertura no dia seguinte à queda de Assad foi a sua forma de mostrar a sua alegria pelo fim de um governo que oprimiu os sírios durante décadas e o obrigou a pagar subornos só para manter a sua loja aberta.

Insistiu que a receita de assinatura não tinha mudado desde que o seu bisavô a tinha inventado na década de 1890.

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A geladaria está cheia Reuters

Mas mesmo os clientes habituais disseram que algo parecia novo.

"O sabor é diferente — era delicioso e ficou ainda melhor", disse Eman Ghazal estudante de gestão na casa dos 20 anos que vem ao Bakdash desde criança.

"Não é só o gelado, é a vida em geral. É como se as paredes sorrissem e o sol tivesse finalmente voltado.”