Nem a droga aguentou o regime sírio

Liderado pelo irmão mais novo do Presidente, o tráfico do Captagon tornou-se na principal fonte de angariação de divisas do regime sírio, invadindo os países do Golfo, sobretudo a Arábia Saudita.

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Autoridades do Iémen queimam drogas apreendidas, incluindo Captagon, em Sana REUTERS/Mohamed al-Sayaghi
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A 23 de Abril de 2022, um homem no Leste da Arábia Saudita deitou propositadamente fogo à sua casa matando quatro familiares. Sofria de alucinações provocadas por uma droga chamada shabu, em tudo similar ao Captagon que inundou os Estados do Golfo, sobretudo o reino saudita, e se transformou numa crise social, a tal ponto que a Síria a usou para ganhar peso na mesa das negociações para ser reintegrado na Liga Árabe em Maio do ano passado.

Desde o começo da guerra civil na Síria, em 2011, que o regime de Bashar al-Assad se transformou num produtor em larga escala da chamada “cocaína dos pobres” (a sua produção é simples e barata). A fenitilina, um estimulante da família das anfetaminas, é conhecida por Captagon, uma das primeiras marcas em que começou a ser comercializada nos anos 1960 pela farmacêutica alemã Degussa Pharma Gruppe.

Descontinuada por causa dos seus efeitos secundários, que incluem alucinações, distorções visuais e psicose, já nenhum país a produzia em 2011, de acordo com o Órgão Internacional de Fiscalização de Estupefacientes. Até o Governo sírio precisar de dinheiro para financiar o seu esforço de guerra contra os rebeldes.

O Captagon passou a ser um assunto de Estado, controlado pelo irmão mais novo do Presidente, o major-general Maher al-Assad, comandante da 4ª Divisão do Exército Sírio e da Guarda Republicana, a unidade de elite do regime. Oficiosamente também lhe é apontada a liderança das brutais milícias Shabias (fantasmas).

O regime sempre negou qualquer envolvimento no comércio do Captagon, no entanto, como dizia um relatório de Julho deste ano do Carnegie Middle East Center, o tráfico desta droga transformou-se na fonte primária de divisas da Síria, angariando milhares de milhões de dólares e peso suficiente para obrigar a Liga Árabe a deixar Assad voltar a sentar-se entre os seus pares.

A droga acabaria por produzir os seus efeitos secundários no regime, cujas alucinações, distorções de visão e psicose não lhe terão permitido aperceber-se que o vício acaba por levar à ruína quem dela depende.

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