Clima: emissões do turismo global têm vindo a crescer 3,5% ao ano

A pegada carbónica do turismo mundial aumentou na última década (2009-2020), revela estudo. A elevada procura e a difícil descarbonização da indústria de aviação ditaram esta tendência de crescimento.

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As emissões associadas ao turismo global continuam a aumentar rapidamente, o que se deve sobretudo ao sector dos transportes Kevin Carter/Getty Images
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A emissão de gases com efeito de estufa gerada pelo turismo global tem vindo a aumentar 3,5% ao ano, revela um estudo publicado nesta terça-feira na revista científica Nature Communications. Esta tendência de crescimento ao longo da última década (2009-2020) é vista como preocupante pelos autores, que sublinham a importância de tornar o sector mais sustentável e empenhado no combate à crise climática.

“O nosso estudo anterior indicou que o turismo contribuiu com 8% das emissões globais em 2013. Em apenas seis anos (2013-2019), as emissões do turismo aumentaram para 8,8%, apesar de vários apelos, declarações e iniciativas para a descarbonização do turismo. Não observamos sinais de abrandamento; pelo contrário, as emissões do turismo continuam a aumentar rapidamente, a um ritmo de 3,5% por ano”, afirmou ao PÚBLICO a cientista Ya-Yen Sun, primeira autora do estudo.

O turismo é um dos sectores que mais poluem a atmosfera com carbono – e essa alta pegada carbónica está fortemente associada à aviação comercial. Em 2019, por exemplo, o turismo global produziu 5,2 gigatoneladas de dióxido de carbono (CO2), valor que corresponde a 8,8% do total das emissões globais naquele ano.

“As viagens são uma parte integrante da nossa sociedade e as pessoas desejam viajar mais. Contudo, a actual procura de viagens excede em muito os níveis sustentáveis, o que representa um risco significativo para a Terra, devido ao rápido aumento das emissões do turismo. Limitar a utilização da aviação de longo curso e estabelecer um limiar para o volume sustentável de visitantes são passos necessários para uma mudança significativa”, sugere Ya-Yen Sun.

Como foi feito o estudo?

Os cientistas analisaram a pegada carbónica do turismo global de 2009 a 2020, recorrendo aos dados disponíveis de 175 países (incluindo Portugal). O estudo conclui que a curva ascendente de emissões no sector se deve não só à elevada procura (3,8% por ano em relação a preços de 2009), mas também aos “lentos ganhos de eficiência tecnológica” (0,3% por ano).

Um dos grandes desafios para tornar o sector sustentável é precisamente a pegada carbónica dos voos aéreos. Se houve uma evolução visível no que toca aos automóveis – os modelos eléctricos estão hoje a disputar um terreno que antes era dominado pelos motores de combustão –, por exemplo, o mesmo ainda não aconteceu com os aviões, que continuam a ser muito poluentes.

Para calcular a pegada carbónica do turismo global, o estudo contabiliza não só as emissões associadas aos voos aéreos e a outros meios de transporte, mas também à estada em hotéis e ao consumo (alimentação, compras e lazer). Em seguida, este volume de informação foi combinado com dados económicos e energéticos específicos de cada país.

“Estimamos as emissões do turismo com base nas despesas dos visitantes e na estrutura económica local. Por exemplo, se o sector hoteleiro em Portugal produz, em média, 0,1 quilo de CO2 por dólar de receitas (um cenário hipotético), uma despesa de 100 dólares por visitante resultaria em 10 quilos de emissões de CO2”, explica Ya-Yen Sun, que é professora na Universidade de Queensland, na Austrália.

Medir emissões para as gerir

O estudo revela ainda o fosso que existe entre os países em termos de emissões per capita associadas ao turismo. Os 20 países com maiores emissões (incluindo os Estados Unidos, a China e a Índia) contribuem sozinhos com três quartos da pegada de carbono total. Dessa forma, os autores recomendam que as políticas de mitigação climática tenham em conta a disparidade entre as diferentes economias. E, para isso, é preciso haver dados, avisa Ya-Yen Sun.

“Não podemos gerir o que não podemos medir. A maioria dos países não dispõe de um sistema de estimativa e controlo das emissões do turismo ao longo do tempo. Actualmente, apenas a Nova Zelândia e a Dinamarca publicam informação oficial sobre este indicador. O nosso documento demonstra que é tecnicamente viável criar uma base de dados nacional de emissões turísticas e apelamos a iniciativas governamentais para a adopção de tais inventários”, exorta a investigadora da Universidade de Queensland.

Os cientistas acreditam que a existência de uma base de dados nacional sobre as emissões turísticas fará com que as actuais políticas de turismo passem de um modelo que faz a apologia do crescimento contínuo, enfatizando o Produto Interno Bruto e a criação de emprego, para uma abordagem sustentável.

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