Arquitectura, território e cultura popular

Uma obra fac-símile editada pelo PÚBLICO, em parceria com a Ordem dos Arquitectos e a editora A Bela e o Monstro. Não perca os 12 fascículos, distribuídos todas as sextas-feiras, com o PÚBLICO.

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“Portugal (...) carece de unidade em matéria de Arquitectura. Não existe, de todo, uma ‘Arquitectura portuguesa’ ou uma ‘casa portuguesa’. Entre uma aldeia minhota e um ‘monte’ alentejano, há diferenças muito mais profundas do que entre certas construções portuguesas e gregas. Entre as habitações do Paul e as de Évora-Monte, são insignificantes os traços comuns. Entre as casas de Fuseta e as de Lamas de Olo, quase não existem sequer elos de ligação... (...) Não existirá, contudo, nessa diversidade de feições, qualquer coisa comum, especificamente portuguesa?”, questiona-se no texto introdutório da obra Arquitectura Popular em Portugal, que agora é editada em versão fac-símile pelo PÚBLICO, em parceria com a Ordem dos Arquitectos e a editora A Bela e o Monstro. A resposta dos responsáveis pelo projecto não se faz tardar: “Cremos que sim, que há certas constantes, de subtil distinção, por vezes, mas reais. Não dizem respeito a uma unidade de tipos, de feitios ou de elementos arquitectónicos, mas a qualquer coisa do carácter da nossa gente, revelada nos edifícios que constrói”.
Foi com o objectivo de realizar um levantamento exaustivo das diversas tipologias de construção popular em Portugal que o Sindicato Nacional de Arquitectos levou a cabo, no final da década de 1950, o Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa, numa altura em que a crescente urbanização já ameaçava a sua existência.
A ideia de um inquérito à arquitectura regional portuguesa surgira inicialmente, pelas mãos dos arquitectos José Huertas Lobo e Francisco Keil do Amaral, publicada em 1947, na revista Arquitectura: Revista de Arte e Construção. Porém, só oito anos mais tarde, em 1955, por iniciativa do Sindicato junto do Ministério das Obras Públicas, é que o projecto encontrou apoio financeiro por parte do Governo.
Dava-se, assim, início a um longo percurso que começou com um trabalho de campo levado a cabo por 18 arquitectos, que durante três meses viajaram pelo país – dividido em seis zonas distintas: Minho, Trás-os-Montes, Beiras, Estremadura, Alentejo e Algarve –, percorrendo mais de 50 mil quilómetros e registando tudo o que viram em milhares de fotos, desenhos e notas escritas.

A profunda mutação do território português e da sua construção, que se vinha a sentir desde então, tornou o material recolhido um espólio de valor incalculável e único, de onde resultou a primeira edição do livro Arquitectura Popular em Portugal, publicada em 1961, em dois volumes. A colecção que agora é distribuída pelo PÚBLICO recupera a versão fac-símile, em fascículos, desta edição original há muito esgotada no mercado. Os 12 fascículos são uma oportunidade única de conhecer uma obra que foi fundamental na preservação e documentação da arquitectura tradicional portuguesa, fonte de inspiração e de sabedoria para muitos dos nossos arquitectos contemporâneos.
Neste 1.º fascículo dá-se início à viagem pelo património arquitectónico popular português na Zona a que a equipa de arquitectos, liderada por Fernando Távora e formada também por Rui Pimentel e António Méneres, designou por “Minho”, mas que abarca um território que se estende desde a região minhota até ao Mondego.
Esta Zona 1, muito densamente povoada, caracteriza-se por uma grande diversidade de construções, que podem ir desde o “espigueiro simples do Lindoso ao solar senhorial da Ribeira Lima, como da nora de Válega à casa urbana do Porto”.

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